A decisão de Renato Gaúcho de pedir demissão pegou o Fluminense de surpresa nesta terça-feira, após o empate por 1 a 1 com o Lanús, que eliminou o Tricolor da Sul-Americana. Curiosamente, a escolha de entregar o cargo chama a atenção porque aconteceu quase dois meses depois de Renato ter sobrevivido a uma crise maior, que se instaurou após o retorno da Copa do Mundo de Clubes. O ge traça uma linha do tempo e conta os bastidores.

Claro, a situação era bem diferente da queda de Mano Menezes, após a 1ª rodada, por exemplo. Lá, havia um problema claro do treinador com grande parte do jogadores. Com Renato, havia discordâncias, mas longe de ser algo incontornável. Tanto que os atletas foram surpreendidos com o pedido de demissão.

Internacional 1 x 2 Fluminense | Melhores momentos | Oitavas | Copa do Brasil 2025

A crise viveu seu ápice — e foi estancada — justamente na terra natal de Renato. O Fluminense foi até Porto Alegre enfrentar o Internacional pelo primeiro jogo da Copa do Brasil, no dia 30 de julho. O treinador chegou pressionado para a partida e com o cargo ameaçado.

A resposta, contudo, veio em campo. O Fluminense venceu por 2 a 1 e iniciou uma sequência positiva que culminaria com o avanço até as quartas de final da Conmebol Sul-Americana e a vaga na semifinal da Copa do Brasil — eliminando o Colorado e Bahia na sequência.

Apesar do bom momento e de ter contornado a crise para seguir no cargo, atitudes do treinador continuaram incomodando. Após um jogo em que o Fluminense sofreu gol nos minutos finais, Renato exibiu um vídeo, destacou o tempo da partida e reclamou que a equipe não poderia levar gol naquele momento. No entanto, não explicou o erro cometido nem o que poderia ter sido feito para evitá-lo. Alguns jogadores se irritaram com a situação.

No primeiro jogo contra o Lanús, na Argentina, Renato sacou Martinelli, que fazia boa partida, para colocar Bernal em campo. O volante entrou mal, assim como Soteldo. O Flu acabou levando gol nos minutos finais, em lance em que a dupla participou da falha defensiva.

Na coletiva após o jogo, Renato justificou a saída de Martinelli dizendo ter achado que o jogador estava cansado, mas disse que volante negou o cansaço após o jogo. A decisão não repercutiu bem internamente.

Ao longo dos meses, declarações também pegaram mal. A fala sobre "não ter mais jogadores decisivos no Brasil", a de que "no campo são eles que resolvem" ou o comandante falar abertamente sobre erros individuais de alguns atletas passava a sensação de exposição.

Mesmo com esses episódios ao longo dos últimos meses, o resultado do trabalho era considerado positivo, principalmente pelo desempenho nas copas. O estopim para a saída, no entanto, foi a eliminação na Sul-Americana.

Renato se incomodou muito com as críticas da torcida do Fluminense no Maracanã. Na reta final do jogo, houve vaias a Otávio e Renê, além de gritos de “burro” direcionados ao próprio técnico. Ao chegar ao vestiário, ele desabafou que o futebol brasileiro está “insuportável” e voltou a citar as críticas recebidas nas redes sociais. O treinador decidiu pedir demissão, mas compareceu normalmente à coletiva.

A ideia inicial era não anunciar o desligamento à imprensa, mas o técnico acabou revelando sua decisão na última resposta, após uma coletiva tensa. O clube publicou uma nota oficial curta 27 minutos depois do anúncio feito por Renato na coletiva.

Marcão vai comandar o time de forma interina no próximo fim de semana, no clássico contra o Botafogo, no domingo. A partida é válida pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro, torneio em que o Tricolor ocupa a oitava colocação, com 31 pontos.

Renato Gaúcho em Fluminense x Lanús — Foto: Jorge Rodrigues/AGIF

Renato chegou ao Fluminense no dia 3 de abril deste ano. Desde então, a equipe disputou 42 jogos, com 21 vitórias, 9 empates e 12 derrotas. Sob o seu comando, o Tricolor chegou às semifinais da Copa do Mundo de Clubes e garantiu vaga nas semis da Copa do Brasil, que serão disputadas em dezembro, contra o Vasco. No Brasileirão, a equipe ocupa a 8ª colocação.