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A Informalidade Elegante — Despedida a Luís Fernando Veríssimo

Por Professor Espedito Filho   Segunda-Feira, 1 de Setembro de 2025

O Brasil perdeu mais que um escritor. Perdemos um intérprete refinado de nossas contradições, um cronista que fez da simplicidade um palácio de elegância, que nos mostrou que rir pode ser também pensar — e pensar, muitas vezes, dói mais do que chorar. Luís Fernando Veríssimo, filho de um gigante da literatura, não se acovardou diante da sombra: construiu sua própria luz, uma claridade irônica, de humor cortante e crítica social embalada na delicadeza de um sorriso.

Se Mario Quintana dizia que, quando um texto não é entendido, resta a dúvida de quem foi o burro — se quem leu ou quem escreveu — Verissimo destruiu essa questão. Ele democratizou a leitura sem nunca barateá-la, fez da crônica uma conversa de bar com o requinte de um concerto de jazz. Escrevia como quem toca saxofone: notas leves, respirações rápidas, mas cada pausa carregava a melodia de um país inteiro.

O futebol corria em suas veias como crônica viva: paixão, drama e alegria popular. O jazz era sua respiração íntima: improviso, liberdade e sofisticação. Entre os dois, Verissimo encontrava o ritmo exato do Brasil — um país que ele amava, mas nunca deixou de questionar. Sua ironia não era gratuita: era bisturi. Seu humor não era ingênuo: era resistência.

Enquanto muitos correm atrás de casas maiores, quintais mais verdes e mansões de vidro, ele permaneceu no mesmo endereço da infância, provando que raízes são mais poderosas do que fachadas. A grandeza de um homem não está na amplitude do terreno, mas na profundidade da memória.

Com ele aprendemos que rir pode ser uma forma de lutar, e que a informalidade — quando elegante — vale mais que qualquer discurso empolado. Ele nos deu a leveza que falta à seriedade e a seriedade que falta à leveza.

E assim partiu Verissimo, como sempre viveu: sem fazer barulho, mas deixando uma sinfonia de palavras que nunca silenciarão.

Como último gesto, nos despede não como escritor, mas como seu personagem imortal, Ed Mort, que encara a morte de frente, coça a nuca e solta a frase que resume a vida inteira:

"Morrer é fácil. Difícil vai ser me substituir na coluna de amanhã."


 Elegante na informalidade, irônico até no adeus,
 Verissimo partiu rindo, e o riso agora é só de Deus.

 

Por Professor Espedito Filho

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