Sou professor há 25 anos, lecionando História, Filosofia e Sociologia na Paraíba, sempre com a convicção de que o saber precisa ser vivido com alegria. Ensinar não é um ato de imposição, mas de sedução intelectual — e nisso, a leveza, o humor, a descontração e até os bons apelidos e as boas risadas têm um papel decisivo na formação de vínculos e no despertar do pensamento crítico nos adolescentes.
No entanto, vivemos tempos onde se confunde liberdade com crueldade. A recente condenação do comediante Léo Lins por disseminar discursos ofensivos travestidos de humor, contra grupos já historicamente oprimidos — negros, indígenas, pessoas com deficiência, LGBTQIA+, nordestinos — é um divisor de águas necessário para repensarmos o papel social do artista, do comunicador e do educador.
Humor é linguagem. E toda linguagem tem consequência.
Como professor que sempre buscou a leveza como método, nunca confundi o riso com a humilhação. Nunca aceitei o bullying como pedagogia. Uma piada verdadeira, daquelas que unem, são como pontes: criam laços, abrem o coração e fazem do saber uma festa. Mas o que vimos com o referido comediante foi o oposto disso: uma arte que exclui, uma gargalhada que aponta, que julga, que inferioriza.
O palco, assim como a sala de aula, não deve ser um ringue para massacre simbólico. Léo Lins alegou que seu show era um "espetáculo de humor". Mas vale lembrar: também os enforcamentos públicos da Idade Média, as mutilações nas arenas de Roma e os linchamentos nos séculos passados foram considerados espetáculos por multidões sedentas de sangue e "diversão". Isso não os tornava menos bárbaros.
A liberdade de expressão é um bem precioso da democracia, mas ela nunca foi, nem deve ser, um salvo-conduto para ferir, humilhar ou desumanizar. Quando o riso nasce da dor do outro, especialmente daquele que já sofre por sua condição, ele deixa de ser arte e se torna opressão. Quando a "brincadeira" só diverte quem está em posição de poder, ela é perversidade disfarçada.
A verdadeira arte — como a educação — deve nos elevar, não nos degradar.
Não é apenas uma questão de gosto pessoal. É uma questão de ética, de cidadania, de humanidade. O humor que promove o escárnio contra minorias perpetua o sofrimento e reforça estruturas sociais injustas. E é justamente por conhecer tão bem a potência transformadora da palavra e da alegria, que defendo: a condenação de Léo Lins é justa, pedagógica e necessária.
Ensinar ética com leveza, tratar religião com respeito, abordar desigualdades com sensibilidade, tudo isso pode e deve ser feito com humor — mas nunca com crueldade. Brincadeira é união. Agressão é exclusão. E esse é o limite claro e inegociável entre o que educa e o que destrói.
Espedito Filho - Professor de História, Filosofia e Sociologia
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