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Mais da metade dos paraibanos ocupados atuam sem carteira assinada

Por Paulo Nascimento    Sábado, 31 de Maio de 2025


Mais da metade dos trabalhadores da Paraíba segue na informalidade. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE, 51,3% da população ocupada no estado atua sem carteira assinada. O índice é um dos maiores do Brasil, acima da média nacional (39,6%) e apenas ligeiramente abaixo da média do Nordeste (53,3%). O dado revela uma realidade persistente e estrutural que desafia o desenvolvimento socioeconômico da região.

Para o economista Vitor Nayron, a informalidade na Paraíba deve ser compreendida à luz das desigualdades regionais e da estrutura econômica do estado. “Quando pensamos na taxa de informalidade, temos que olhar para o contexto socioeconômico. A Paraíba tem menor concentração de empresas de médio e grande porte em comparação com outras regiões, como o Sudeste. Isso já limita a geração de empregos formais, especialmente no interior, onde predominam atividades de pequeno porte e de menor complexidade”, explica.

A composição da economia paraibana, baseada em setores como agricultura, comércio informal e serviços de baixa complexidade, favorece naturalmente relações de trabalho sem vínculo formal. Além disso, fatores como o baixo nível de escolaridade e a limitada qualificação profissional agravam o quadro.

Os impactos da informalidade

O cenário de informalidade tem efeitos diretos sobre os trabalhadores e sobre a economia. “O trabalhador informal não tem garantias como FGTS, seguro-desemprego ou aposentadoria. Em momentos de crise, como uma demissão ou problema de saúde, essa ausência de proteção tem um impacto profundo”, observa Nayron. Ele destaca ainda a preocupação com a aposentadoria futura: “Quem passa a vida na informalidade contribui pouco com o INSS e enfrentará grandes dificuldades para acessar esse direito lá na frente.”

A informalidade também prejudica o funcionamento da economia em momentos de recessão. “Os chamados estabilizadores automáticos da economia, como o seguro-desemprego e o FGTS, ajudam a manter o consumo mesmo quando o país atravessa uma crise. Mas, sem esses mecanismos, como acontece com os informais, o comércio local sofre ainda mais. Há queda de renda e menos dinheiro circulando”, alerta o economista.

Do ponto de vista fiscal, a informalidade compromete a arrecadação de impostos e contribuições previdenciárias, o que reduz os recursos disponíveis para investimentos em infraestrutura e políticas públicas.

Custo da formalização e incentivo à informalidade

Outro fator citado por Vitor Nayron é o custo da formalização, tanto para o empregador quanto para o trabalhador. “Muitas vezes, o patrão evita formalizar porque não quer arcar com os encargos. Já o empregado, em alguns casos, opta pela informalidade para continuar recebendo benefícios sociais como o Bolsa Família. São decisões que, no curto prazo, parecem fazer sentido, mas que trazem consequências negativas no médio e longo prazo”, explica.

Ele menciona também o exemplo da regulamentação das empregadas domésticas, que embora tenha sido um avanço legal e social, não se traduziu em maior formalização. “Na prática, muitas famílias deixaram de contratar com carteira assinada e passaram a contratar diaristas para evitar os encargos, perpetuando a informalidade”.

Caminhos possíveis

Para mudar esse cenário, o enfrentamento da informalidade exige políticas públicas adaptadas à realidade regional. “É preciso entender o contexto de cada local. Programas de incentivo à formalização devem vir acompanhados de simplificação burocrática e suporte técnico. A formalização precisa ser possível e vantajosa para pequenos empreendedores e trabalhadores”, afirma Nayron.

Entre as ações sugeridas por especialistas e pelo próprio economista estão:

  • Capacitação profissional: investir em formação técnica e qualificação da mão de obra para aumentar as chances de inserção no mercado formal;
  • Facilitação de crédito: criar linhas de financiamento específicas para trabalhadores informais, com juros baixos e orientação financeira;
  • Incentivos fiscais e desburocratização: promover políticas que reduzam os custos da formalização para microempreendedores e pequenos negócios;
  • Fiscalização eficiente e pedagógica: reforçar a atuação de órgãos reguladores, mas também com abordagem educativa, especialmente nos municípios menores.

A informalidade na Paraíba é reflexo de uma combinação complexa de fatores históricos, sociais e econômicos. Superar esse quadro demanda uma ação articulada entre governos, setor privado e sociedade civil, visando não apenas a formalização do trabalho, mas a construção de um ambiente mais justo, estável e produtivo para todos.

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