Sociedade de Patos sai às ruas para pedir um basta aos feminicídios e violência contra a mulher

Por Vicente Conserva - 40 graus Quinta-Feira, 28 de Agosto de 2025
Os dias que sucedem um crime bárbaro são marcados sempre por dor, tristeza, angústia, revolta, além de esperança que o infrator seja julgado e colocado atrás das grades por um longo tempo. Esses são os sentimentos de qualquer família que perde um ente querido para violência. Mas muito pior quando tal crime é cometido com requintes de covardia e tamanha brutalidade.
É nesse cenário que convive a família de Francinete Nunes dos Santos, mais conhecida por Neta, que foi morta a facadas, no auge dos seus 38 anos, na manhã do dia 8 de maio de 2024, bem no cruzamento da rua Oscar Brito e rua do Prado, em Patos-PB.
Desde então, seus cinco filhos e netos, bem como demais familiares, aguardam com ansiedade que o homem apontado como o assassino, seja julgado e condenado. Mesmo ele até hoje estando atrás das grades esperando julgamento, a sensação ainda é de impunidade, sem que seja feita justiça pela morte de uma mãe que vivia para trabalhar e sustentar os filhos.
O CRIME BÁRBARO
Era 6h30 da manhã daquele fatídico dia, quando Neta, a bordo de um mototáxi seguia rumo ao trabalho, onde trabalhava na residência de um empresário no bairro Jardim Guanabara. Antes de chegar a tal localidade, foi atacada covardemente pelas costas por um homem, bem no momento em que parou no semáforo.
De acordo com depoimento do mototaxista Neto Brito, que fazia o transporte da vítima, “ao parar no sinal fechado, Neta foi puxada da garupa pelo homem que já os seguia. O homem que estava de capacete, a golpeou sem dó nem piedade na altura do pescoço. Ela caiu, e com o sangue jorrando, morreu no local sem que tivesse tempo de ser socorrida.
"Eu a pegava todos os dias de 6 horas, e fazia o caminho pelo mercado. Parei no posto de gasolina, coloquei gasolina na moto e quando cheguei no sinal, estava vermelho. Eu parei, foi aí que eu ouvi quando ela gritou: “aí meu Deus”. Foi mesmo na hora que ele a puxou para trás e a esfaqueou”, contou Brito.
O assassino fugiu do local fazendo o caminho inverso pela contramão.
Após investigações, as polícias Militar e Civil chegaram até o principal suspeito, justamente o ex-companheiro da vítima. Leandro Firmino Sales foi preso em flagrante e confessou o crime.
ANDAMENTO DO PROCESSO
Após quase um ano e quatro meses, o caso segue sem previsão de julgamento pelo Tribunal do Júri da Comarca de Patos, o que vem gerando revolta e sofrimento para os familiares.
Ao participar na manhã desta quinta-feira, 28 de agosto, do ato organizado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Patos (CMDM), para dá um grito de basta ao feminicídio e contra a violência contra mulher, umas das filhas da vítima, Alessandra Ferreira Nunes, entre outras que estavam também fazendo seu protesto, pediu justiça para o caso da mãe, pois todos não aguentam mais tanto sofrimento.
A primeira etapa do processo já aconteceu. O réu sendo pronunciado em 5 de novembro de 2024, no entanto, segundo a defesa da família que acompanha o caso, a Defensoria Pública recorreu da decisão, alegando “excesso de linguagem” na sentença de pronúncia – expressão que, segundo a defesa, poderia influenciar os jurados.
Leandro Firmino é acompanhado pela Defensoria Pública, por meio da defensora Fernanda Apolônio que alegou nos autos do processo: "deixam transparecer pela quantidade de facadas espalhadas no corpo da vítima, o que lhe causou intenso e desnecessário sofrimento”.
O Tribunal de Justiça da Paraíba acatou o argumento e anulou a decisão, determinando nova pronúncia sem os chamados “vícios”. Mesmo com a reformulação, novo recurso foi interposto, novamente alegando excesso de linguagem. Desde então, o caso permanece sem data marcada para ir a julgamento.
No ato de hoje, em entrevista ao Portal 40 Graus, Alessandra Nunes manifestou sua indignação com a demora da Justiça e criticou as tentativas da defesa de minimizar a crueldade do crime:
“Querem reescrever a verdade. Querem fingir que ela não sofreu. Mas nós sabemos. Ela sofreu. Morreu com medo, sem defesa, sendo atacada brutalmente. A justiça não pode ser moldada para poupar o agressor. A justiça existe para proteger a vítima. E minha mãe merece isso. Ela merece justiça.”
Uma das netas de Francinete estava na manifestação bastante consternada. Segundo familiares, ela até hoje sofre com a perda da avó e constantemente é flagrada aos prantos.
Segundo Alessandra, todos os parentes sentem a dor da perda que se soma à frustração com a lentidão do Judiciário, que ainda não deu uma resposta definitiva a um crime considerado covarde e cruel. "Vivemos o vazio da ausência dela. E, além da dor da perda, enfrentamos a agonia da espera por justiça." - disse a filha.
Francinete deixou cinco filhos. Todos são unânimes em afirmar que ela era uma mulher querida e trabalhadora.
SEM PREVISÃO DO JÚRI
O Tribunal do Júri ainda não marcou a segunda fase, que é o julgamento propriamente dito de Leandro Firmino.
Com toda a primeira fase vencida, tendo sido feita a análise de todo o caso, a materialidade constituída, levantamento de todas as provas, escuta de testemunhas, faltando agora a juíza o Tribunal do Júri, juíza Isabela Joseane Assumpção Lopes de Souza marcar o júri.
No ato pela manhã, estavam presentes a magistrada Isabela Joseane , presidente Tribunal do Júri da Comarca de Patos, e a defensora pública, Fernanda Apolônio.
Leandro responde por homicídio, qualificado em feminicídio podendo pegar mais de 30 anos de prisão em regime fechado.