Pouco mais de um ano após o primeiro caso de Covid-19 registrado no Brasil, o número de óbitos em decorrência da doença supera neste sábado (10) os que perderam suas vidas em razão da Aids ao longo de toda a série histórica, que vai do início de 1980 até o final de 2019.
O vírus HIV fez 349.784 vítimas em 40 anos, de acordo com dados federais. Nesta sexta (9), o país chegou a 348.934 mortes pelo coronavírus, segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de saúde, e vai ultrapassar os óbitos cuja causa está associada à Aids diante da tendência de estabilidade da média móvel próxima às 3 mil mortes diárias.
Os números relativos à Aids compõem monitoramento feito pelo governo no período compreendido entre 1980, quando o primeiro caso da doença foi reportado no Brasil e confirmado dois anos depois, até 2019. Os dados mostram que, desde 2015, a taxa de mortalidade pelo HIV no país está em queda.
Na contramão desses índices, o Brasil contabilizou 3.647 mortos por Covid-19 nesta sexta. O montante representa mais de um terço dos óbitos cuja causa básica foi a Aids em 2019 inteiro, ano em que o país reportou 10.565 vítimas da doença. Na quinta, foram 4.190 vidas perdidas em 24h, a segunda pior marca em toda a pandemia.
Entre 2009 e 2019, foi verificada uma redução de 29,3% na taxa de mortalidade do HIV no Brasil. Enquanto no primeiro ano da década passada o coeficiente de mortalidade bruto da doença era de 6,3 a cada 100 mil habitantes, o índice caiu para 5 mortes por 100 mil pessoas no último ano, segundo boletim epidemiológico anual divulgado em dezembro de 2020 pelo Ministério da Saúde.
O Brasil é considerado referência internacional no tratamento de HIV, tanto pela distribuição do antirretroviral como na testagem sorológica e na disponibilização de preservativos. Em contrapartida, o país foi o pior do mundo na gestão da pandemia, segundo estudo do Lowy Institute de Sydney, da Austrália, que analisou seis critérios em 98 nações. A postura do presidente Jair Bolsonaro frente à crise sanitária, minimizada por ele em diversas ocasiões, foi destaque nos principais jornais estrangeiros.
Em relação à série histórica, foram notificados 1.011.617 casos de Aids no país até junho do ano passado, conforme indicadores do governo. O número representa menos da metade dos brasileiros infectados por Covid-19 somente no último mês, o mais letal da pandemia no Brasil, excedendo 66 mil mortes por Covid-19 - mais que o dobro de óbitos registrados em julho do ano passado, até então o mais mortal.
Especialistas apontam que o mês de abril pode ser ainda pior e superar 4 mil mortes por dia em decorrência do coronavírus. O país enfrenta um colapso do sistema de saúde, com UTIs sobrecarregadas e escassez do chamado "kit intubação", medicamentos usados para intubar pacientes durante tratamento da Covid-19. Em falta no mercado, os fármacos tiveram alta de até 1.000% no preço em comparação ao valor cobrado antes da pandemia.
Até o momento, o Brasil vacinou apenas 10,71% da sua população, o correspondente a 22.686.106 pessoas, conforme dados levantados até as 20h desta sexta. A lentidão do programa de imunização no país é tida como um dos principais entraves para atenuar o impacto da pandemia.
« Voltar