A retomada do Campeonato Paraibano está prevista para o dia 18 de julho, exatamente quatro meses depois de a competição ter sido interrompida por conta da pandemia do novo coronavírus. Mas nem todos os clubes estão empolgados com a volta dos jogos. Um deles é o Nacional de Patos, que se mantém contrário à ideia de retorno neste momento, em que o número de casos da Covid-19 no Brasil e na Paraíba ainda são alarmantes. Além disso, a diretoria nacionalina alega a crise financeira como dificultador para o clube. Mesmo assim, é preciso recomeçar. E o presidente Cleodon Bezerra - que está afastado do cargo - disse que aguarda uma ajuda financeira da Prefeitura de Patos para iniciar o planejamento e a remontagem do elenco, que pode contar com jogadores amadores e outros das categorias de base.
Cleodon Bezerra, presidente do Nacional de Patos — Foto: Reprodução
O discurso de que vai ser difícil voltar à ativa sem ajuda financeira do poder público não é exclusivo do Nacional de Patos. Outros clubes - como Sport Lagoa Seca e Sousa, por exemplo - têm destacado a dificuldade de gerir o futebol sem receber a verbas dos programas de incentivo ao esporte do Governo do Estado. E Cleodon - cumprindo suspensão de 60 dias imposta pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba (TJDF-PB) - tem abordado isso reiteradamente. O dirigente espera conseguir um retorno financeiro da Prefeitura de Patos para tocar o planejamento do clube.
- O Nacional de Patos não tem dinheiro para contratar jogadores ou técnico de fora. Estamos aguardando uma resposta da prefeitura até esta quinta-feira para saber se eles vão nos pagar ou não a primeira parcela do nosso acordo. Se não pagarem, teremos que nos reunir e tocar nosso planejamento com foco em atletas amadores da cidade e jovens das categorias de base - explicou Cleodon, que, no início da pandemia, tomou a medida drástica de dispensar todo o elenco nacionalino, justamente por não ter como mantê-lo durante a paralisação do futebol.
O desconforto do Nacional de Patos quanto à retomada do futebol na Paraíba sempre foi evidente. O próprio Cleodon Bezerra afirmou que, em todas as reuniões com a Federação Paraibana de Futebol (FPF) e os demais clubes, qualquer representante do Canário do Sertão sempre se opôs à ideia, mas que acabou sendo voto vencido.
E a oposição à continuidade do Campeonato Paraibano neste momento segue sendo manifestada mesmo depois de a FPF ter marcado a data de retorno dos jogos. Nesta quinta-feira, o clube compartilhou em seu perfil oficial no Instagram uma imagem na qual usa o número de mortos pela Covid-19 no Brasil para imaginar quantos estádios paraibanos poderiam ser ocupados com a quantidade de pessoas que perderam a vida por causa da doença. E crava a pergunta: "É hora para voltar o futebol na Paraíba?".
Cleodon Bezerra chegou a perder a compostura e acusar a Federação de ter motivos escusos para acelerar essa retomada do Campeonato Paraibano. Ele até admitiu, posteriormente, que se arrependeu de uma declaração que deu ao site Voz da Torcida. O mandatário do Canário do Sertão afirmou que a urgência da FPF em retomar a competição se dá por conta das denúncias de supostas irregularidades nas escalações de alguns jogadores, o que pode alterar radicalmente os rumos do estadual.
- É desumano falar de futebol agora. Aqui em Patos não tem UTI mais. O Nacional de Patos vai botar a saúde em primeiro plano. O clube não pode treinar na cidade porque tem muitos casos aqui, não tem leito. Mas a FPF quer voltar a todo custo com o campeonato. Não tem discussões na FPF. Eu vou deixar meu mandato neste ano e saio com muita decepção com o futebol paraibano - comentou o dirigente na ocasião.
Em reunião da FPF com os clubes, ficou marcada para 18 de julho a retomada do Campeonato Paraibano — Foto: Reprodução / TV Cabo Branco
Ele se referia às denúncias contra o zagueiro Egon, do Atlético de Cajazeiras, e o atacante Negueba, do CSP, sobre supostas irregularidades em suas escalações em jogos do Paraibano deste ano. Se comprovadas as irregularidades, Trovão Azul e Tigre poderiam perder pontos e alterar em muito a classificação da competição. Mas na semana passada, o TJDF-PB anulou os julgamentos dos dois atletas e, pelo menos por enquanto, a classificação do torneio segue como estava quando houve a paralisação.
Mas, dias depois, Cleodon admitiu que deu essa declaração de cabeça quente e que entende que esse não é o motivo de a FPF querer acelerar a retomada do Campeonato Paraibano.
- Falei de cabeça quente, sem pensar direito. Eu estava incomodado com o resultado do julgamento e falei sem pensar. Mas sei que uma coisa (a volta do Paraibano) não tem nada a ver com a outra (as denúncias) - reconheceu Cleodon.
Importante lembrar que, segundo a presidenta da FPF, Michelle Ramalho, uma das grandes preocupações da entidade sempre foi a de que, quanto mais demorasse a retomada do futebol na Paraíba, mais os seus filiados que disputam o Campeonato Brasileiro teriam déficit com relação a concorrentes de outros estados que voltaram antes. Botafogo-PB e Treze representam o estado na Série C, e Atlético de Cajazeiras e Campinense na Série D, ambas as competições sem datas marcadas.
Cleodon Bezerra tem listado algumas dificuldades que, segundo ele, atrapalham a vida do Nacional de Patos: crise financeira, situação alarmante da pandemia, elenco totalmente desfeito. Além dessas questões, o dirigente lembrou que o Estádio José Cavalcanti está em obras, impedindo que o clube jogue em Patos. Além de que ninguém quer se responsabilizar por eventuais casos de doença no futebol paraibano.
- Aqui em Patos os casos são muitos. O decreto vai até o dia 29 (de junho), mas acredito que vai continuar. Se continuar, a gente não poderá jogar nem treinar em Patos. O clube não tem condição de jogar em outra cidade. Não tem recursos. Mas o mais importante é a questão humana. Quem vai se responsabilizar se um atleta ficar doente? Quem vai gastar R$ 30 mil de diária de UTI para internar um jogador? Nós não seremos irresponsáveis com os seres humanos. Futebol não é a coisa mais importante. Eu amo futebol, mas o mais importante é a saúde das pessoas - comentou o dirigente, ainda em entrevista ao Voz da Torcida.
Mas, com a volta do Campeonato Paraibano prevista para o dia 18 de julho - com o clássico entre Botafogo-PB e Campinense - o Nacional de Patos tem duas partidas a cumprir ainda pela primeira fase da competição e briga contra o rebaixamento. O Canário do Sertão é o terceiro colocado do Grupo B, com oito pontos, um a mais que o CSP e dois a mais que o São Paulo Crystal. Nas duas últimas rodadas, o Alviverde de Patos enfrenta o Treze no dia 22 (em casa) e a Perilima no dia 26 (fora). Desses três times, o que somar menos pontos ao fim dessas duas rodadas, estará rebaixado para a 2ª divisão de 2021.
Mas aí o clube, que dispensou todo o seu elenco no início da pandemia, precisa agora recomeçar praticamente do zero. Cleodon entende que, se é ruim voltar agora, pior ainda é não entrar em campo e receber, por isso, as punições previstas no regulamento.
- Apesar de o Nacional de Patos acreditar que não tem viabilidade voltar agora, nós vamos ter que voltar. O custo de não participar é ainda maior. Pois, além de o time ser rebaixado, ficaremos dois anos sem disputar nenhuma competição oficial.
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