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Arrascaeta conduz Fla no palco de seus sonhos desde a infância

Por Globo Esporte    Quinta-Feira, 25 de Novembro de 2021


"Quando eu era novinho, meu sonho era ser cantor e minha mãe falou: "Filho, não vai dar certo isso aí. Vai jogar bola!"."

 

Bendito conselho da Dona Maria Victoria, que deu fim ao devaneio do pequeno Giorgian e abriu caminho para que Arrascaeta brilhasse gramados América do Sul afora. A cantoria desafinada agora só serve para demonstrar que de tímido o menino da modesta Nuevo Berlim não tem nada. Ao ponto de chamar para si os holofotes da final da Libertadores, no próximo sábado, entre Flamengo e Palmeiras, no palco que alimentou sua imaginação desde garoto: o Estádio Centenário, em Montevidéu.

 

Arrascaeta, do Flamengo, em foto oficial da final da Libertadores — Foto: Divulgação/Conmebol

Arrascaeta, do Flamengo, em foto oficial da final da Libertadores — Foto: Divulgação/Conmebol

A discrição com que se comporta em momentos importantes não cabe desta vez. Arrascaeta se tornou o centro das atenções por muita coisa que envolvia a decisão da Libertadores nos últimos meses. A lesão na coxa gerou a expectativa sobre sua condição física para enfrentar o Palmeiras e a relação com o país-sede acabou tornando naturalmente protagonista um meia abusado dentro de campo e descontraído fora dele.

Sim, descontraído. Basta perguntar se ele é tímido que a resposta está na ponta da língua:

 

"Não. Acho que sou menos tímido com as pessoas que eu conheço. Aí, gosto de brincar e tal. Talvez com as pessoas que não tenho tanta intimidade, fico mais reservado. Mas sou um cara brincalhão com a maioria dos meus amigos"

 

Bicampeão da Copa do Brasil, do Brasileirão e com chance de se sagrar diante de seus compatriotas bi também da Libertadores, Arrascaeta já está entre os grandes estrangeiros que atuaram no futebol brasileiro. Os títulos e a capacidade de decisão elevaram o debate para se ele é o maior deles. Questionamento que ele dribla e protela a resposta para depois da aposentadoria.

Arrascaeta na chegada do Flamengo a Montevidéu — Foto: Conmebol Libertadores

Arrascaeta na chegada do Flamengo a Montevidéu — Foto: Conmebol Libertadores

- Sempre se fala muito das coisas que um estrangeiro ganha quando chega aqui. Sou muito feliz com as coisas que eu tenho conquistado, mas não posso ficar satisfeito com o que eu fiz ou com o que posso fazer. Meu pensamento é analisar a carreira quando parar de jogar futebol. É um privilégio que falem do meu nome junto com grandes jogadores que atuaram no Brasil. Meu pensamento é a cada ano ganhar mais e mais, criar uma história rica no futebol brasileiro.

Aos 27 anos, Arrasca sabe que tem muito ainda a fazer na carreira. E a tendência é que este futuro seja com a camisa do Flamengo. As conversas para a renovação até o fim de 2026 caminham bem, e o meia deixou a definição nas mãos do empresário e ex-jogador Daniel Fonseca.

- A renovação? Aí, tem que falar com ele (risos). É um problema do clube com ele. Já deixei muito claro qual é a minha ideia e tomara que possa dar tudo certo.

Em resenha descontraída com o ge, Arrascaeta teve a chance até mesmo de mostrar o (falta de) talento como cantor, falou do peso de disputar uma final de Libertadores em Montevidéu, revelou que o Flamengo é pauta até mesmo no vestiário da seleção uruguaia e comparou as duplas de ataque que tem a missão de municiar: Bruno Henrique e Gabigol com Suárez e Cavani. Confira a íntegra!

 

Final em casa

 

- Com certeza tanto para mim quanto para Piquerez (lateral do Palmeiras) é um prestígio muito grande, uma honra viver esses momentos de ansiedade, loucura e todo entorno que gera até a chegada desta final. Vai estar toda nossa família, amigos... O Uruguai merecia ter um espetáculo desta magnitude. Jogar em um estádio tão importante como o Centenário certamente será especial para todos os uruguaios.

Arrascaeta comemora primeiro gol pelo Uruguai, no Centenário, em 2015 — Foto: AFP

Arrascaeta comemora primeiro gol pelo Uruguai, no Centenário, em 2015 — Foto: AFP

 

Estádio Centenário

 

- É uma das coisas místicas que temos no Uruguai e nos marca. Tem muitos anos (inaugurado em 1930), o Uruguai já conquistou coisas importantes, os principais campeonatos já tiveram finais disputadas lá, e uma final de Libertadores certamente vai ser uma das coisas mais importantes e marcantes deste estádio tão grande. Tomara que esteja lotado. Acredito que o ambiente vai ser muito legal com duas torcidas, com uruguaios, um espetáculo que temos que aproveitar. Sabemos que tudo evolui, as coisas mudam, mas há a mística destes estádios. São alguns retoques (para modernizar), mas a mística continua.

 

Jogos marcantes no Centenário

 

Estádio Centenário, palco da final da Libertadores — Foto: Reprodução twitter

Estádio Centenário, palco da final da Libertadores — Foto: Reprodução twitter

- Como torcedor, fui algumas vezes quando estava na base do Defensor na torcida do Peñarol, que ficava atrás do gol. Tinha alguns amigos e fomos lá ver como que acontecia tudo. É marcante porque desde novinho assistia jogos do Peñarol, time que eu torço, e via toda essa torcida pensando em estar lá para sentir um dia. É algo magnífico. Depois, estreei pela minha seleção e foi um máximo marcar um gol no Centenário. Por mais que tenha sido um amistoso (em 2015 contra Guatemala), foi uma sensação diferente. É algo que todo jogador sonha desde novinho.

 

Apoio uruguaio

 

- Vai ser dividido. O Piquerez já jogou por vários times uruguaios, é muito humilde, muito querido, e vai ter muita gente torcendo por ele e para mim. Cada um vai defender o seu. Independentemente disso, somos muitos amigos. Às vezes, quando estamos na seleção, brincamos sobre isso e tomara que a Copa venha para nós.

 

Protagonista da decisão?

 

- Com certeza sei do que posso dar para o meu time. Estou me preparando da melhor forma para chegar 100% neste jogo e tudo que envolve. Sou um cara que prefiro focar mais no jogo, não olhar para fora e do que pode ser falado ou acontecer. Talvez isso possa atrapalhar a performance do jogador e do time. Estando 100%, sei que posso ajudar. Finais são jogos únicos, diferentes, e tomara que todos estejam preparados para um grande jogo.

 

Frieza

 

- (risos) As pessoas têm sentimento. Claro! Umas de expressão maiores do que outras, talvez. Mas acho que essa característica em campo já trago naturalmente. Por mais que alguém se prepare, não vai conseguir desenvolver características diferentes da que tem. Fico muito feliz pela minha qualidade e é importante que os jogadores nestes momentos sejam frios e calmos. Sou feliz pelo que conquistei aqui e no Cruzeiro também.

Daniel Fonseca e Arrascaeta no Rio de Janeiro  — Foto: Reprodução

Daniel Fonseca e Arrascaeta no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

 

Riquelme, ídolo e inspiração

 

- Sei do que ele fez pelo Boca Juniors (na Libertadores), o que ele conquistou, mas me foco no que fazer para o meu time no meu dia a dia. Fico muito feliz por tudo que já vivi e o pensamento tem que ser conquistar cada vez mais coisas a cada ano e no fim da carreira fazer uma análise de tudo. Mas acho que o caminho está aqui e está sendo muito bem percorrido. Tomara que eu possa continuar a vencer.

 

Relação com Fonseca, empresário e amigo

 

- Além do trabalho dele de me ajudar em transferências, virou meu amigo fora das quatro linhas. Temos uma amizade muito grande. Podemos nos juntar e nem falar sobre futebol. Saímos para jantar e compartilhamos coisas fora do âmbito do futebol. É bom ter por perto um cara como ele, que já percorreu momentos decisivos (como jogador), momentos em que o jogador não está bem... É importante ter um cara que possa ajudar nestes momentos. É um cara muito positivo e que nas minhas decisões sempre me apoia. Sou muito feliz por tudo que tenho conquistado e ele colaborou muito.

 

Renovação

 

- A renovação? Aí, tem que falar com ele (risos). É um problema do clube com ele. Já deixei muito claro que a minha ideia qual é e tomara que possa dar tudo certo.

 

Suarez/Cavani x Gabi/BH

 

- São quatro jogadores que têm pensamentos de sempre querer o melhor para o time. Essa é uma das semelhanças. Gabriel e Bruno têm mais movimentação. Às vezes, Gabriel fica mais por fora, Bruno troca mais comigo... Suárez e Cavani são dois caras que estão sempre se procurando dentro da área, dois finalizadores. A estratégia de jogo com Bruno e Gabriel é mais de jogar lá em cima, de ter a bola. Com Suárez e Cavani é um jogo mais direto. São diferentes maneiras de jogar, mas para mim é um privilégio compartilhar o campo com esses quatro jogadores fantásticos.

Suárez, Cavani e Arrascaeta — Foto: Divulgação/AUF

Suárez, Cavani e Arrascaeta — Foto: Divulgação/AUF

 

O Flamengo na seleção uruguaia

 

- Quando estamos na seleção, brincamos que o Mengão está com tudo, que tomara que ganhe esta Libertadores. Certa vez, Suárez fez uma entrevista quando o Flamengo me contratou e falou que essa contratação seria para vencer a Libertadores. Então, ele me disse que foi muito pé-quente. Tomara que fale algo positivo de novo para ganharmos de novo.

 

Uruguaio com jeito brasileiro

 

- Sinceramente, a medida que foram passando os anos fui tomando muito mais caminho com o Brasil, com a cultura daqui. Hoje, me sinto totalmente à vontade aqui no Rio. Conquistei grandes amizades, amo a música brasileira, a cultura, as pessoas e estou pertinho do Uruguai. Meus amigos e família curtem muito e já me sinto um pedacinho brasileiro também.

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