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Sem ideias, sem meio, Sampaoli deixa Flamengo nas cordas

Por Globo Esporte    Segunda-Feira, 18 de Setembro de 2023


Após a péssima atuação neste domingo no Maracanã com derrota por 1 a 0 para o São Paulo, o Flamengo ficou nas cordas na luta pela Copa do Brasil. Não há expressão mais adequada para definir um time que não se cansa de apanhar em 2023 e que teve dois socos como os símbolos maiores da constante tensão que ronda o Ninho do Urubu durante a passagem de Sampaoli. Perdeu porque foi engolido no meio-campo e também por não ter machucado o rival mesmo com três atacantes.

Após o apito final, Sampaoli disse que faltou fúria ao Flamengo. Na verdade faltaram ideias para mudar o time diante de uma escalação infelizalternativas durante o jogo para tornar o trio de atacantes mais incisivo e tranquilidade ao treinador, que foi para o vestiário antes do fim do primeiro tempo e chutou grades com a derrota confirmada.

Faltou também disposição ao Flamengo. Ou "fúria", como o irritadiço treinador pontuou. Não dá para negar. Porém esse está longe de ser o principal problema. O condenável comodismo que boa parte do time apresenta é reflexo de escolhas erradas da diretoria, que muda treinadores a toda hora e que não troca no momento adequado, como aconteceu após o soco de Pablo Fernández em Pedro.

Dali em diante, o vestiário, que já não era muito falante, foi perdido em definitivo, mas o presidente Rodolfo Landim resolveu insistir na continuidade do trabalho de Jorge Sampaoli. O Flamengo já saiu da Libertadores, o título brasileiro virou utopia e a Copa do Brasil tornou-se difícil.

 

Primeiro tempo: sem meio e sem finalizações

Sampaoli escalou mal o Flamengo. Bastou que Anderson Daronco apitasse o início da partida para perceber que o São Paulo tomaria conta do jogo, especialmente do meio-campo. Nos raros bons jogos que o time fez sob orientação do argentino, o setor foi povoado por quatro jogadores, como contra o Grêmio em Porto Alegre ou diante do Botafogo no Nilton Santos. Neste domingo, ele usou apenas três.

Pulgar, Victor Hugo e Gerson contra o quinteto formado por Pablo Maia, Rodrigo Nestor, Alisson, Wellington Rato e Lucas Moura. Fez tal escolha para privilegiar homens com "muito gol", como Gabigol, Bruno Henrique e Pedro.

O problema é que, com o domínio do meio-campo por parte do São Paulo, várias fragilidades rubro-negras se apresentaram. Para se jogar no 4-3-3 e fazer o jogo de "ida e volta" que Sampaoli tanto cita em suas coletivas, é preciso ter pontas rápidos. Na esquerda, o Flamengo tinha o veloz Bruno Henrique. No outro lado, porém, havia Gabigol, que não se destaca por velocidade e também não encaixa mais dribles.

 

Sampaoli foi muito mal mais uma vez pelo Flamengo — Foto: Fred Gomes

Sampaoli foi muito mal mais uma vez pelo Flamengo — Foto: Fred Gomes

Resultado? O lado direito do Flamengo se oferecia para Caio Paulista e Rodrigo Nestor com muita liberdade. Gabigol não fechava a linha de passe por ali, e Victor Hugo, perdido no meio-campo e em momento ruim, também não ajudava. Dessa forma, o lateral-direito Wesley ficou sobrecarregado.

Gerson era um dos poucos que tentavam. Ele e Bruno Henrique protagonizaram a melhor jogada do Flamengo no jogo, mas o ponta acabou errando na hora de cruzar a bola para Gabigol.

Se Wesley sofria por um lado, Ayrton Lucas também deixava brechas no outro e fazia mais uma partida ruim. Com o São Paulo senhor do meio e Ayrton pouco atuante, Bruno Henrique era o mais impactado. Rafinha não precisava se preocupar em atacar e se dedicava exclusivamente a anular BH, algo que fez com louvor.

Bruno Henrique não conseguia receber uma bola de frente para dar o tapa no fundo. A única que conseguiu fui justamente a citada anteriormente. Ele girou no meio e passou para receber de Gerson. Tal dificuldade para ter o corredor livre incomodou bastante o camisa 27.

Sete parágrafos foram usados até aqui para detalhar as deficiências rubro-negras, mas o gol são-paulino passeia por várias delas. Nasce de um lateral em que sete jogadores do Flamengo estão no lado esquerdo do campo. Wellington Rato observa o buraco e inverte lançando em Caio Paulista, que entrega a Rodrigo Nestor.

Já com a bola pela esquerda, o São Paulo avança com Wesley marcando à distância. Nestor cruza no momento certo, Matheus Cunha não sai do gol, Ayrton Lucas se joga diante de Calleri, que cabeceia. O jovem goleiro também não se atira na bola, e o Tricolor abre o placar.

Flamengo com sete jogadores no momento em que Wellington Rato lança Caio Paulista — Foto: ge

Flamengo com sete jogadores no momento em que Wellington Rato lança Caio Paulista — Foto: ge

A pedra já estava cantada, e Caio Paulista e Nestor já haviam chegado com grande liberdade por ali outras duas vezes.

Mais grave que os erros citados foi a participação ofensiva do Flamengo. Mesmo com os maiores artilheiros da atual geração - Gabigol tem 153 gols, Pedro, 97, e Bruno Henrique, 85 -, o time de Jorge Sampaoli não finalizou no primeiro tempo. Também pudera, já que não tinha meio.

Tal estatística não se repetiu em nenhum dos outros seis campeonatos que o Flamengo disputou em 2023. E olha que o Flamengo jogou mal em todos. O Rubro-Negro passou o primeiro tempo sem meio e sem meios para agredir o rival.

O primeiro tempo foi tão ruim que Sampaoli foi para o vestiário antes mesmo do apito. Em coletiva, explicou que o quarto árbitro havia dito que Daronco havia encerrado a etapa, mas não custava observar a movimentação dos jogadores do campo antes de partir em disparada para o túnel.

 

Sampaoli mexe errado no intervalo e demora a trocar outras peças

Após o intervalo, Jorge Sampaoli fez o elementar ao sacar Victor Hugo, que jogava muito mal, e colocar Everton Ribeiro, o mais criativo dos rubro-negros disponíveis. Mas era preciso também tirar um dos atacantes e colocar mais um meio-campista.

Ribeiro até melhorou a qualidade de passe do Flamengo, mas o time seguiu inoperante na frente. Gabigol seguia mal, Pedro prendia dois marcadores, mas mostrava alguma dificuldade em tabelas, e Bruno Henrique não infiltrava mesmo com mudança de posicionamento, um pouco mais centralizado.

O time, aliás, ficou com três atacantes na área, e Sampaoli liberou os laterais, o que fez o Flamengo ficar ainda mais sem meio-campo. Sorte dele é que o São Paulo recuou e não aproveitou.

Jogada de perigo na etapa mesmo só após dois balões. Um de Ayrton Lucas para a área, que Everton Ribeiro dominou bonito no peito e emendou com novo levantamento. Pedro cabeceou, mas Beraldo salvou.

Sampaoli só foi mexer aos 29 minutos, quando Gabigol deixou o campo mancando e sob vaias. Everton Cebolinha o substituiu, até apresentou mais movimentação, porém errou a maioria das tomadas de decisão. Não bastasse isso, a entrada do camisa 11 deixou o time totalmente bagunçado pelo lado esquerdo.

 

Mexeu três minutos depois, ao colocar Matheuzinho e Thiago Maia nos lugares de Wesley e Pulgar. O lateral-direito até fez coisas interessantes, mas nada capaz de mudar a cara do time. Por que Lorran, maior joia da base, não teve chance novamente? Por que trocar volantes na reta final do jogo?

Flamengo finalizou seis vezes no segundo tempo, mas somente a cabeçada de Pedro levou alguma preocupação a Dorival Júnior, que se aproxima do bicampeonato pessoal na Copa do Brasil.

Sampaoli cobrou mais fúria, entretanto o que falta ao Flamengo é harmonia para um melhor entendimento dentro e fora de campo. Com seis dias de treinamento antes da finalíssima, o treinador precisará se preocupar mais em soluções simples para tentar ter um final de passagem tranquila pelo Ninho do Urubu. E os jogadores também precisam dar mais. O trabalho do argentino é uma grande decepção, mas os integrantes do elenco mais caro das Américas estão devendo muito.

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