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[ESPECIAL] Tradição de leitura de mãos leva mulher cigana à prisão em Patos acusada de extorsão e estelionato

Por Vicente Conserva - 40 graus   Domingo, 12 de Outubro de 2025

A simples leitura de mãos (Quiromancia - arte de divinação através das linhas das mãos), tradição milenar dos povos ciganos, foi o bastante para colocar atrás das grades na cidade de Patos-PB, uma cigana de 59 anos. Rosineide Pereira foi surpreendida ao receber voz de prisão preventiva, na última na quinta-feira, 9 de outubro, na cidade de Equador-RN, após ter prisão decretada pelo juiz Mathews Francisco Rodrigues de Souza do Amaral, da Comarca de Imaculada, pertencente a Vara Única de Água Branca-PB, por prática de extorsão e estelionato após ser finalmente localizada.

O caso que teve início há quatro anos, vem mexendo com a comunidade cigana que trata o fato como preconceito e discriminação a uma arte ancestral de seus povos e que, na visão deles, crime não há em exercer uma tradição cultural que passa de mãe para filha.

A suposta vítima afirmou que em julho do ano de 2021, "a acusada a abordou dizendo que estava acometida de trabalhos espirituais realizados pela amante do marido, e lhe induziu ao pagamento de R$ 2.000,00, a fim de combater o mal supracitado.”

Já Rosineide diz que fora procurada por uma mulher para que ela lesse suas mãos. O trabalho foi contratado por 2 mil reais na cidade de Imaculada-PB, sendo ainda a mulher orientada a acender umas velas e fazer orações.

 

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Pouco tempo depois, mostrando-se talvez arrependida, a mulher procurou a delegacia de Polícia Civil da cidade, na pessoa da delegada Dacinaura Alves de Assis, dizendo ter sido enganada e extorquida. A delegada então abriu inquérito para apurar o caso.

Dias depois da denúncia, a cigana foi localizada em Tabira-PE na casa de sua mãe, por meio de ligação telefônica, tendo sido usado o argumento de uma outra suposta contratação para um novo encontro. Não sabia ela que seria uma forma de levá-la à presença da polícia. Chegando ao local combinado, já a esperava a suposta vítima e a polícia que a levou para delegacia.

Apesar de negar que teria praticado ato ilícito como estelionato e extorsão através de ameaças para pagamento, pela contratante, de quantia no valor de mais R$ 900,00 sob ameaça de fazer outro trabalho espiritual para prejudicar o filho, Rosineide ainda chegou a devolver a quantia de R$ 2 mil paga pela suposta vítima anteriormente.

Achando que não teria mais problemas, ela seguiu sua vida perambulando de cidade em cidade, assim como fazem muitos ciganos em sua tradição de vida nômade. Mal sabia ela que a delegada teria continuado com o inquérito.

 

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Ocorre que, durante dois anos, Rosineide não foi mais localizada, o que fez o inquérito transcorrer no âmbito da Polícia Civil e Ministério Público sem que ela tivesse chances de se defender, pois não tinha conhecimento que estava respondendo na Justiça pelos crimes a ela imputados.

Ainda no mesmo período, o inquérito transitou na Polícia Civil e depois no Ministério Público sem que a denúncia fosse recebida pelo juízo da Comarca de Imaculada, pois Rosineide não havia sido localizada. O Ministério Público então pugnou pela suspensão do processo e do prazo prescricional, bem como pela segregação cautelar da acusada, o que foi acatado pelo juiz Mathews Francisco.

Somente em fevereiro de 2023, é que o magistrado acolheu a denúncia feita pela promotoria depois de muito protelar com a suspensão da ação.

Por ser cigana, ela não tem residência fixa em nenhuma cidade. Rosineide então foi citada nos autos do processo por edital, por não ser encontrada em nenhum endereço.

Ainda sem previsão de julgamento, o juiz Mathews Francisco Rodrigues então decretou a sua prisão preventiva em 28 de fevereiro de 2024, por considerá-la foragida e com base nos depoimentos colhidos, só sendo possível realizar a sua prisão há dois dias, na cidade do Equador-RN, onde moram parentes, acusada de cometer crime de extorsão, previsto no artigo 158, da Lei 2.848, do Código Penal Brasileiro e de estelionato, artigo 171, também no CP, punidos com pena de reclusão superior a quatro anos.

 

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Mãe de três filhos, Rosineide foi transferida nesta sexta-feira (10) para o Presídio Regional Feminino de Patos onde aguardará julgamento.

Momentos depois, uma cena chocante foi registrada neste sábado. Sabendo da sua prisão, seus filhos e ex-marido acamparam na porta do presídio e disseram que de lá só saíram após a sua soltura, demonstrando a união que existe entre os povos ciganos. No entanto, acabaram sendo convencidos pela advogada de defesa a irem para suas residências, o que assim fizeram nesta tarde.

Caso acompanhado por Núcleo Jurídico  

Tomando conhecimento do caso, Rosineide passou a ser acompanhada pelo Núcleo Jurídico Francisca Vasconcelos do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Patos, através da advogada Danielle Marinho que considera a prisão injusta.

Ela observou que o caso está recheado de equívocos jurídicos já que sua cliente fora colocada em cárcere em investigação e decisões baseadas apenas em depoimento, sem que a suposta vítima apresentasse provas materiais.

“Eu me pergunto até onde o preconceito pode chegar quando ele se veste de justiça. Essa mulher cigana foi presa injustamente por ler mãos, que é um costume ancestral do povo cigano, uma prática cultural que carrega simbolismo, ancestralidade, história, tradição, transmitida de geração a geração pelas mulheres, e essa tradição foi transformada em crime. Essa mulher, uma cigana, uma mãe, trabalhadora, com a saúde frágil, foi acusada de estelionato. Por quê? Porque estava lendo a mão de uma pessoa, sem violência, sem ameaça, sem danos a ninguém, exercendo uma prática cultural de sua comunidade, alegou Marinho.

 

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Advogada Danielle Marinho - Defesa

Para ela, existe o preconceito contra o povo cigano. “As manifestações das culturas populares, indígenas, afro-brasileiras, ciganas, elas são estigmatizadas. Essa prisão não é só um erro da justiça, é um símbolo também do que acontece quando o Estado não reconhece e não respeita a diferença. Está se criminalizando no modo de vida. E assim, tentando silenciar uma cultura inteira através do medo, através da humilhação. Essas mulheres são chamadas de enganadoras. Quando, na verdade, elas estão praticando a liberdade da cultura, a liberdade da sua. Tradição. Então, direito não é um privilégio, é uma garantia, e a diferença ela deve ser respeitada, não ser tipificada como um crime.”

A defesa entrou com pedido de Habeas Corpus junto ao Tribunal de Justiça da Paraíba para que a mesma possa responder o processo em liberdade, sendo este negado.

Danielle ainda observou que nenhuma tradição pode ser algemada, e o que está acontecendo é isso. “Esta mulher está privada de sua liberdade, preventivamente por um crime que eles consideram um crime, mas que na verdade é apenas uma prática de resistência cultural”, defendeu.

Caso ganha grande repercussão

Para a cigana Maria Jane Soares, prima de dona Rosineide e presidente da Associação Comunitária dos Povos Ciganos do Condado Paraíba - ASCOCIC – que luta há 15 anos pelo povo cigano os povos ciganos, as famílias ciganas se encontram em momento complicado e sensível de muita tristeza.

Ela revelou que por conta de toda esta situação, seus filhos, principalmente o mais novo, vive aos prantos chegando até a passar mal.

Sua prima afirmou ainda que a cigana sofre de problemas graves de saúde como diabete, e com histórico familiar de problemas de coração, causa da morte do pai.

 

CIGANOS

 

Jane disse que muitas ciganas não tem profissão e que não tem como sustentar seus filhos e usam a leitura de mãos como forma de conseguir algum recurso.

“O fato está amedrontando as mulheres ciganas”, disse ela. Jane afirmou ainda que muitas pessoas pagam até com objetos pessoais para ter mãos lidas e depois alegam que foram roubadas.

A tradição cigana de ler mãos

A tradição cigana de leitura de mãos, ou quiromancia, é uma prática ancestral transmitida por gerações, principalmente pelas mulheres, e popularizada pelo povo cigano que migrou da Índia. Envolve a leitura das linhas, montes e dedos da mão para interpretar aspectos da vida, como amor, trabalho, sorte e espiritualidade. A quiromancia está ligada à organização e subsistência de muitas famílias ciganas, sendo passada de mãe para filha desde a infância.

  • Tradição familiar:

A leitura de mãos é uma arte transmitida dentro das comunidades ciganas, sendo passada de mãe para filha. As mulheres ciganas aprendem a ler as mãos desde cedo, geralmente por volta dos 7 anos, e a prática é vista como um trabalho rendoso e uma forma de subsistência.

 

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Contexto moderno

  • Atualmente, a leitura de mãos é vista tanto como uma prática tradicional quanto um interesse crescente em busca de autoconhecimento e respostas.
  • Embora a imagem de uma cigana lendo mãos seja um estereótipo comum, nem todos os povos ciganos praticam a leitura de mãos, e é importante respeitar as diversas identidades e práticas dentro da cultura cigana, como a que defende o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Cigana (IBACC).

 

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