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Banco Central eleva Selic para 15% ao ano, maior patamar desde 2006

Por O Globo    Quarta-Feira, 18 de Junho de 2025


Com a inflação ainda fora da meta, o Banco Central decidiu por unanimidade elevar mais uma vez a Taxa Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira. Os juros básicos da economia brasileira subiram 0,25 ponto percentual, de 14,75% para 15% ao ano, o maior nível desde julho de 2006. O BC também antecipou que deve interromper o ciclo de alta na próxima reunião, no fim de julho, mas sinalizou que vai analisar se o atual nível de juros, mantido por período "bastante prolongado", será realmente suficiente para levar a inflação para a meta de 3,0%.

O aumento da Selic a 15% representou uma desaceleração no ritmo de alta frente a maio, quando os juros subiram 0,50 pp. Foi a sétima elevação consecutiva da Selic no ciclo iniciado em setembro de 2024, as quatro últimas altas já sob a liderança de Gabriel Galípolo, indicado para chefiar o BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avesso aos juros altos.

"O Copom decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante", disse o BC, no comunicado.

O colegiado ainda antecipou que deve interromper o ciclo de alta de juros na próxima reunião, no fim de julho, para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, cujos efeitos ainda serão sentidos nos próximos meses. O Copom, contudo, não colocou um ponto final definitivo no ciclo de alta, em uma tentativa, segundo especialistas, de evitar uma discussão sobre cortes de juros em um período curto de tempo.

 

Segundo o comitê, esse período será usado para "entender se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta".

"O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado", completa o BC, no comunicado.

O novo aumento da Selic era esperado pela minoria dos analistas financeiros, mas não chegou a surpreender. Segundo a pesquisa do Valor Pro com 126 instituições financeiras, 78 projetavam que a Selic ficaria em 14,75% e 48 esperavam um avanço a 15%.

Na encontro de maio, o Copom havia sinalizado que estava perto do fim do ciclo de alta de juros e deixou em aberto seus próximos passos. Segundo o colegiado, o cenário demandava "cautela adicional" na condução da Selic e "flexibilidade" para avaliar os dados que impactam a dinâmica inflacionária.

 

Inflação ainda acima da meta

 

Em um comunicado duro e sucinto, o BC fez análises bastante cautelosas sobre o cenário para a inflação, apesar de o mercado ter visto números mais favoráveis recentemente.

O IPCA — índice de inflação oficial — de maio (0,26%) ficou abaixo do esperado, inclusive em grupos de preços observados com mais atenção pelo BC por serem mais sensíveis à atividade econômica. Mas o índice acumulado em 12 meses (5,32%) ainda está muito acima da meta, que é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.

Nesse sentido, o BC se limitou a dizer que "a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação" nas divulgações mais recentes.

Em relação à atividade econômica e ao mercado de trabalho, o Copom avaliou que os indicadores ainda têm apresentado algum dinamismo, mas observa-se "certa moderação no crescimento" - um passo em relação à avaliação de maio, em que usou a palavra "incipiente". Isso ocorre após o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre (1,4%) ter ficado ligeiramente abaixo do esperado e de outros dados setoriais de abril também mostrarem números mais fracos.

 

Nesta quarta, o Copom ainda atualizou suas projeções oficiais para a inflação. Para 2026, prazo em que o BC mira para colocar a inflação na meta, continua em 3,6%. Houve aumento, por sua vez, na previsão deste ano, de 4,8% para 4,9%.

As expectativas inflacionárias medidas pelo Boletim Focus também estão distantes do objetivo do BC, mesmo que tenham caído desde o Copom de maio. Para 2025, é de 5,25%, contra 5,53% no último encontro, enquanto a projeção para o fim de 2026 é de 4,50%, ante 4,51%.

"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado", destacou o BC.

O período desde a reunião do Copom de maio também foi bastante movimentado nas discussões fiscais domésticas e no exterior, tanto em relação à política econômica dos EUA quanto em relação a questões geopolíticas, como a eclosão da guerra entre Irã e Israel. No Brasil, o estresse causado pela edição do decreto de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) gerou volatilidade nos mercados.

Em relação ao fiscal, o BC se limitou a dizer que "segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros". O colegiado tampouco se alongou em relação ao cenário externo. Inclusive, retirou a parte do comunicado anterior que dizia que a política comercial de Donald Trump estava gerando volatilidade nos ativos financeiros.

"O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica", disse o BC.

 

Sem espaço para cortes

 

Para Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, os sinais mais favoráveis de inflação e de desaceleração da atividade possibilitaram que o BC pudesse tomar a decisão de anunciar a interrupção do ciclo de alta de juros, mas com a importante ressalva de que pode voltar a subir, caso seja necessário.

— O IPCA está muito desancorado (da meta) ainda, este ano vai estourar a meta. A inflação está desancorada até 2028. Não dá para falar que está melhorando. Há certa tendência de melhora, não o suficiente para cortar os juros, mas talvez seja o momento de parar e ver como o aumento já realizado vai bater na economia — disse Veronese, que considerou o comunicado acertado.

O economista e sócio-fundador da Oriz Partners, Carlos Kawall, considera que toda a comunicação do Copom tem a intenção de tirar da mesa qualquer discussão de um corte da taxa em um período curto de tempo, como chegou a ser cogitado pelo mercado recentemente.

O ex-secretário do Tesouro Nacional cita que a sinalização do BC de que pode voltar a subir se for necessário funciona quase como um viés de alta. Ele também pontua que o BC incluiu a palavra "bastante" para alargar mais o tempo em que a Selic terá de ser mantida em patamar elevado para garantir que a inflação convirja à meta.

No entanto, Kawall avalia que esse discurso duro contrasta com a projeção de inflação do BC para 2026, de 3,6%, que está bem abaixo da previsão do mercado, de 4,5%.

— Apesar da tinta que está pondo no comunicado de "nem pense que vou cortar, porque tenho até viés alta de juros", isso não conversa com as projeções. Como o mercado vai tirar projeções de queda dos juros, seja no fim do ano ou inicio do ano que vem, se, do lado objetivo, o BC trabalha com projeções tão baixas?

Para o economista, a questão é que está cada vez mais claro que a desaceleração da atividade será mais tímida do que o inicialmente esperado, o que tende a ser insuficiente para que a economia saia da situação atual de sobreaquecimento para um patamar que permita a desaceleração da inflação. Essa avaliação ocorre considerando, especialmente, na visão de Kawall, as medidas que o governo tem adotado para manter o PIB forte.

— Mesmo com esse nível de juros real, se tem dificuldade de conseguir a convergência da inflação diante dessa inconsistência com a política do governo.

 

Independência

 

Apesar disso, Kawall considera que a decisão do BC hoje mostra uma independência da administração de Luiz Inácio Lula da Silva, afastando mais uma vez receios de intervenção devido à proximidade entre Gabriel Galípolo e o petista.

— Acho que está fazendo o que acha melhor. Minha crítica não é no sentido de um BC subserviente. A questão é que o patamar de alta de juros que seria necessário para gerar convergência parece muito acima do que estão propondo.

Já Helena Veronese afirmou que o BC está se comunicando de maneira bastante "vigilante" com a inflação, sustentando a postura dura apesar de críticas de membros do governo.

— O argumento do BC é absolutamente certo. Mas não tem nada de sinais de que está cedendo às pressões de cortar juros.

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