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Dia do Nordestino: entenda a união de um povo, mesmo com sua diversidade

Por Wscom    Quarta-Feira, 9 de Outubro de 2024


O sociólogo José Antônio Spinelli conversou com o Portal sobre a rica diversidade e complexidade da região Nordeste, neste 8 de outubro, Dia do Nordestino. Ele explorou a união entre os povos dos nove estados nordestinos, os símbolos culturais e as peculiaridades de cada parte da região.

Diferente de outras regiões do Brasil, o Nordeste possui uma nomenclatura que une todos os seus estados, formando uma identidade. Spinelli explica que essa coesão vai além da geografia e se reflete na linguagem e no comportamento dos nordestinos.

“É verdade, há uma nomenclatura, talvez, com alguma liberdade linguística, possamos falar de um ‘dialeto’ nordestino. Trata-se de um conjunto de expressões bem típicas, por exemplo: ‘oxente’, ‘visse?’, ‘tabacudo’, ‘arretado’, ‘eita porra’, ‘galado’. Essas e outras expressões são acompanhadas por uma linguagem corporal, um gestual correspondentes. O nordestino fala com as mãos, com os olhos, com o corpo todo… gosta de tocar nas pessoas, de olhar nos olhos, é extremamente afetivo”, descreve Spinelli.

Ele ainda sublinha que essa identidade transcende as fronteiras dos estados. “O sotaque é carregado, arrastado, enfático. É uma fala superlativa, abundante, transbordante, plena de alusões. Do Piauí à Bahia, passando pelo Maranhão, pelo Ceará, pelo Rio Grande do Norte, pela Paraíba, por Pernambuco, por Alagoas, por Sergipe… Em qualquer lugar que um nordestino encontre outro, nos cafundós do mundo, eles se reconhecem imediatamente.”

 Os símbolos e seus estereótipos

Spinelli também aborda a questão dos símbolos culturais comumente associados ao Nordeste e como eles, muitas vezes, carregam estereótipos que conseguem ou não capturar toda a riqueza e diversidade da região.

 

“Os símbolos têm a ver com a geografia, com o clima quente e seco, com o calor, com a vegetação, seja no semiárido, seja no sertão, na região da mata ou no litoral ou mesmo nas regiões serranas. Os símbolos têm a ver com a cultura, com as tradições históricas, com o legado dos quilombos, dos aldeamentos indígenas, com a forma como a cultura europeia é assimilada, ganhando cor regional”, explica.
Ele acrescenta que as revoluções e movimentos sociais do Nordeste, apesar de influenciados por ideias europeias, foram moldados pelo contexto local.

“Nossas revoluções, embora em parte inspiradas nos ideais europeus de liberdade, igualdade e fraternidade, aqui foram injetadas por sangue novo, original resultado do nosso caldo cultural das três raças. A resistência ao domínio europeu (português ou holandês ou francês) ou estadunidense nunca deixou de estar presente. Nossas revoluções de independência estiveram permeadas por ideais republicanos e antiescravistas e por participação popular radical. E nossos festejos, nossas danças, nossas músicas, o xaxado, o baião, o frevo, o forró, o xodó, conferem uma expressão muito singular à nossa cultura.”

A diversidade interna do Nordeste

Quando se trata das peculiaridades de cada sub-região dentro do Nordeste, Spinelli prefere destacar a complementaridade entre elas, afirmando que as variações dentro da região são partes de um todo coeso.

“Eu prefiro dizer que todo o nosso caldo cultural se funde em sua multiplicidade e variedade. Não existem sub-regiões que se excluam umas às outras. Temos variações que se complementam e que também formam contradições e antagonismos presentes desde a colonização e a escravização”, explica.

Ele menciona as atividades econômicas e as heranças históricas como fatores que moldam as complexidades sociais e culturais da região.

“A cana-de-açúcar, a pecuária, a pesca, a fruticultura, o latifúndio e a pequena propriedade, a indústria, a herança do coronelismo, as lutas sociais pela terra e a reforma agrária, as lutas urbanas por democracia e igualdade… São compostos que na sua variedade têm uma presença marcante no todo regional e se expressam inclusive em momentos como o que estamos vivendo de eleições em que a identidade regional, sem negar o aspecto nacional, também se apresenta.”

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