Saturno e o desaparecimento de seus anéis: saiba como assistir o fenômeno neste fim de semana
Por O Globo Terça-Feira, 25 de Novembro de 2025
Se você for ao seu quintal neste fim de semana e montar seu telescópio, o planeta gigante Saturno estará lá para você ver. “Saturno é um objeto espetacular de se observar”, disse Damian Peach, astrofotógrafo inglês que acompanha o planeta com frequência. “Mesmo com pequenos telescópios, é possível ver os anéis.”
Mas algo parecerá estranho: os famosos anéis ficarão praticamente invisíveis. Isso porque a Terra e Saturno parecem estar se alinhando em um evento que os astrônomos chamam de cruzamento do plano dos anéis. Durante essas passagens, os anéis ultrafinos ficam exatamente de perfil em relação à Terra e, efetivamente, desaparecem.
No evento deste fim de semana, a travessia não será completa: os anéis de Saturno parecerão se estreitar, ficando visíveis em menos de 1% no sábado, antes que os movimentos orbitais dos dois corpos celestes os façam parecer se alargar novamente.
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Embora o desaparecimento não seja total, poderá ser uma rara oportunidade de presenciar um fenômeno como esse. A próxima chance de ver uma travessia completa será apenas em 2038, afirmou Peach.
Por que os anéis parecem desaparecer?
O efeito ocorre porque Saturno é inclinado em seu eixo, assim como a Terra — embora Saturno leve quase 30 anos para completar uma volta ao Sol. As órbitas de ambos os planetas fazem com que os anéis pareçam, vistos da Terra, se alargar, se estreitar e, durante as passagens pelo plano dos anéis, desaparecer.
As travessias ocorrem em grupos a cada 13 a 16 anos, mas nem sempre são visíveis. A passagem próxima de sábado sucede uma travessia completa pelo plano dos anéis em março, quando Saturno estava encoberto pelo brilho do Sol. Um evento em 2009 também não pôde ser observado pelo mesmo motivo. As três últimas passagens visíveis da Terra ocorreram em 1995 e 1996.
História do anel
O “desaparecimento” dos anéis causou confusão quando Saturno foi observado pela primeira vez com um telescópio, há mais de 400 anos.
Michael Shank, professor emérito de história da Universidade de Wisconsin-Madison, contou por e-mail que Galileu Galilei observou Saturno em julho de 1610 com uma “luneta” que ele próprio havia construído. Mas ele ficou perplexo, pois seu telescópio primitivo não conseguia distinguir os anéis adequadamente — e ninguém naquela época suspeitava que planetas pudessem ter anéis.
Galileu concluiu que o que vira eram “corpos laterais”, um de cada lado do próprio Saturno. Ele descreveu o planeta como “o mais alto, de três corpos” em código para Johannes Kepler, significando que observara Saturno (o planeta mais distante conhecido) como composto de três objetos. Kepler, porém, não decifrou corretamente o código e supôs que se referia a Marte, uma suposição que séculos depois se mostraria parcialmente correta.
Galileu ficou ainda mais confuso alguns anos depois, quando seu “planeta de três corpos” havia se tornado um só, porque os anéis estavam de perfil e invisíveis. Mais tarde, os anéis voltaram a ser visíveis, mas pareciam diferentes, e Galileu deduziu que poderiam ser “orelhas” do planeta.
A confusão terminou em 1659, quando Christiaan Huygens propôs que o que Galileu havia visto eram, na verdade, anéis — os primeiros identificados, ainda os mais impressionantes, embora hoje se saiba que outros planetas também possuem anéis menores.
EC Krupp, que estudou travessias do plano anelar na década de 1990 e é diretor do Observatório Griffith, em Los Angeles, afirmou que Galileu fez o melhor possível com os instrumentos que tinha. “Foi realmente uma maravilha o quanto ele observou”, disse ele.
Ciência atual sobre Saturno
Philip Nicholson, astrofísico da Universidade Cornell, e sua equipe usarão o Telescópio Espacial James Webb para estudar a travessia de Saturno no sábado. A maioria dos anéis fica quase invisível da Terra durante o alinhamento, mas a ausência de brilho torna esse o melhor momento para investigar o anel mais externo e tênue, que os cientistas acreditam ser formado por plumas de gelo da lua Encélado.
A equipe pretende analisar a luz refletida do anel e do vapor, com a expectativa de detectar átomos de carbono, o que reforçaria a hipótese de habitabilidade no oceano subterrâneo sob a crosta gelada de Encélado, explicou Nicholson.
Quando observar
Saturno estará visível no céu sudeste após o pôr do sol na sexta, sábado e domingo. O ideal é observá-lo antes das 3h30 da manhã, horário local, quando se põe.
O momento em que os anéis parecerão mais estreitos será na noite de sábado, cerca de uma hora após o nascimento do planeta no céu, embora já estejam quase de perfil. Eles voltarão a se alargar gradualmente nos próximos meses, atingindo sua maior largura aparente no final de 2027.