Cinco infrações de trânsito que você comete todos os dias e não sabe

Por O Globo Quinta-Feira, 14 de Agosto de 2025
Apesar de ser um esporte aparentemente simples, a corrida desperta debates e orientações muitas vezes contraditórias. À medida que os corredores avançam e acumulam mais quilômetros, torna-se cada vez mais difícil encontrar informações realmente confiáveis.
De acordo Matthew Moran, professor de ciência do exercício na Sacred Heart University, em Connecticut, basta considerar a recente oscilação no design dos tênis de corrida. No início dos anos 2010, os mais minimalistas estavam na moda, em parte graças ao best-seller “Born to Run” e sua afirmação de que a forma de evitar lesões era diminuir o excesso de amortecimento. Mas logo a chamada febre dos tênis barefoot (leves, largos e flexíveis) havia desaparecido, e os tênis passaram a ser mais acolchoados do que nunca.
Segundo Moran, o surgimento dos tênis maximalistas fez algumas pessoas acreditar que eles reduzem o risco de lesões, na ideia de que um calçado mais acolchoado diminui o impacto ao correr. No entanto, isso não é verdade. Embora alguns corredores possam se beneficiar de um amortecimento maior, não há evidências claras de que isso realmente previna lesões.
Para ajudar a esclarecer outros equívocos sobre o esporte, pedimos a fisioterapeutas, treinadores e outros especialistas em corrida que apontassem os maiores mitos que gostariam de desmentir.
Muitos corredores acreditam que acumular mais quilômetros é sempre a melhor forma de melhorar, afirma Alison McGinnis, diretora clínica da Finish Line Physical Therapy, em Nova York. Mas, segundo ela, para correr mais rápido e ser mais resistente a lesões a longo prazo, todos os corredores também devem fazer treinamento de força.
A força muscular e a saúde dos tendões são cruciais para a prevenção de lesões, destaca McGinnis. Se você correr demais sem desenvolver sua força, “mais cedo ou mais tarde, algo vai ceder”.
É bastante comum ter menos apetite logo após uma corrida intensa. Alguns estudos sugerem que isso pode ocorrer porque o exercício intenso pode reduzir a produção de grelina, um hormônio que provoca fome. O exercício também pode causar um pico de um metabólito que suprime o apetite.
Essa sensação temporária pode ser enganosa, afirma Kristy Baumann, nutricionista registrada em Minneapolis, nos Estados Unidos, especializada em trabalhar com corredores. Só porque você não está com fome, não significa que seu corpo não precise de alimento, esclarece Baumann.
— Costumamos ouvir frases como 'ouça seu corpo' e 'coma quando estiver com fome', mas este é justamente um dos momentos em que o conhecimento em nutrição esportiva deve ser aplicado — destaca.
Você deve fazer uma refeição ou lanche pós-corrida para repor energia — caso contrário, pode retardar a recuperação.
Apesar de ter sido desmentido por pesquisadores há décadas, a ideia de que o ácido lático causa dor muscular ainda é comum na cultura do exercício.
Scott Murr, professor assistente de ciências da saúde na Furman University, na Carolina do Sul, afirma que recentemente perguntou a uma turma de mais de 20 atletas se o ácido lático causava dor muscular. Todos os estudantes responderam que sim.
De acordo com Murr, o lactato, uma fonte de energia que o corpo produz ao quebrar a glicose, é muitas vezes “culpado por associação”. Durante exercícios intensos, a produção de lactato geralmente é acompanhada de um aumento de íons de hidrogênio, que podem contribuir para uma sensação temporária de queimação.
Mas a dor muscular pós-exercício não está relacionada a esses estresses metabólicos, esclarece Murr. Na verdade, é causada pelos danos microscópicos que ocorrem quando você exige demais dos músculos. (Pense no esforço final extenuante de uma corrida.)
Segundo Baumann, a medida que os géis energéticos se tornaram mais comuns no mundo da corrida, alguns atletas reclamaram que esses produtos causam desconforto gastrointestinal. Mas os géis em si não são necessariamente o problema.
Às vezes, os corredores os consomem quando já estão desidratados, o que pode agravar problemas estomacais. Ou não percebem que seus corpos podem precisar de tempo para se adaptar à digestão dos géis.
— Seu estômago é um músculo; ele pode ser treinado — afirma Baumann.
Ela recomenda começar com pequenas quantidades de carboidratos em corridas longas — metade de um gel energético com água a cada 40 minutos — e progredir até um gel a cada 30 minutos, combinado com uma bebida esportiva.
Essa progressão gradual treina o sistema digestivo a absorver combustível de forma mais eficiente, o que pode ajudar a melhorar o desempenho no dia da corrida, recomenda Baumann.
As palavras que nenhum corredor gosta de ouvir são: “Você precisa descansar até melhorar.” Esse conselho certamente se aplica a algumas lesões graves, como fraturas por estresse. Mas Iain Hunter, professor de ciência do exercício na Brigham Young University, afirma que em alguns casos, como distensões de ligamentos e tendões, o repouso total pode ser contraproducente.
Para essas lesões, Hunter afirma que “precisamos de fluxo sanguíneo para que o corpo se cure”. Parar totalmente o movimento pode retardar a recuperação. Se você tiver uma lesão, deve consultar um treinador, coach ou fisioterapeuta sobre quais formas de exercício direcionadas (incluindo corrida leve) podem ser seguras e apropriadas.
Muitos corredores precisam desaprender a ideia de que estar realmente comprometido com o esporte significa correr todos os dias, afirma Steve Finley, treinador de corrida e cofundador do Brooklyn Track Club.
"Finley, que já correu profissionalmente, conta que conhecia atletas olímpicos de atletismo que corriam apenas 64 a 80 km por semana, enquanto alguns amigos amadores acumulavam muito mais quilometragem.
Dena Evans, treinadora de corrida com 25 anos de experiência, que trabalha com corredores de todos os níveis, compartilha que teve muitos clientes que acreditavam que se esforçar ao máximo diariamente era a melhor forma de melhorar.
— Você pode abordar o resto da sua vida dessa forma, e pode obter os resultados desejados — afirma Evans.
Mas os corredores devem lembrar a regra cardinal dos esportes de endurance: é preciso uma mistura de dias intensos e fáceis para que o corpo se adapte e, eventualmente, prospere.