O São João é uma festa popular que tem tradições muito antigas e reinventadas durante o tempo. Há quem diga, por exemplo, que não se faz mais São João como antigamente, que as modificações da festa acabaram afastando o real sentido pelo qual ela foi originada, como também há quem defenda as modificações como uma forma de adaptação à modernidade.
Desde 1983, Campina Grande contabiliza 30 dias de festa durante o mês de junho, no evento intitulado como ‘O Maior São João do Mundo’ que ocorre no Parque do Povo, Centro da cidade, e atrai tanto turistas como conterrâneos. Da mesma forma, outras cidades, principalmente no Nordeste brasileiro, também trazem diversas atrações para animar os festejos.
Entre o próprio meio musical é possível encontrar quem concorde que apenas o forró deveria ser o ritmo tocado durante a época junina, já que é a tradição, mas há quem discorde também. Em 2017, a polêmica do ‘forró versos sertanejo’ tomou repercussão quando artistas como Alcimar Monteiro e Elba Ramalho se posicionaram contra o gênero sertanejo entre as apresentações do São João de Campina Grande.
O músico e professor de jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Massilon Gonzaga, falou para o Portal 40 Graus o que pensa sobre as mudanças que o São João vem passando. “Eu sou muito a favor da modernização. Os que chamam de ‘São João tradicional’ nunca viveram a época antiga e não sabiam que Luiz Gonzaga, por exemplo, era um dos fundadores da modernidade do forró. Quem viveu na época dos Três do Nordeste e de Marinês viu isso. Todo tempo teve música boa e ruim”.
Mas afinal, qual o contexto que a festa traz em sua essência? Por que ela passou por tantas modificações? Há realmente uma grande diferença que pode ser notada entre o São João de antigamente e o atual?
De acordo com o historiador paraibano Bruno Gaudêncio, o São João tradicional não deixa de ser uma “invenção recente” e está ligado às tradições rurais que remetem à miscigenação cultural da herança dos portugueses, indígenas e africanos, resultando numa mistura de traços culturais e musicais predominantes do São João brasileiro.
“Hoje a gente vive uma mudança drástica. É uma festa que vem se transformando muito com a urbanização, com o mercado fonográfico e com um todo. Então o São João hoje, em Campina, é uma invenção que nos anos 80 ganhou uma formatação política, criada com uma mistura de elementos. Houve a influência do mercado e da indústria cultural e nos últimos dois, três anos, perdeu-se o sentido e o significado. Ficou muito longe do que é e vem sendo reinventado por grupos políticos que criaram um lugar de identidade, porque quando falamos da cidade, remete-se logo a ‘São João’”.
Origem e história
De acordo com o acervo da Secretaria de Cultura de Campina Grande (Secult), alguns pesquisadores acreditam que, na verdade, o cristianismo apenas converteu uma tradição pagã em festa católica, já que há indícios da origem profana do São João antes mesmo de Cristo.
Foi o Vaticano, por sua vez, que instituiu o dia 24 de junho para a comemoração do nascimento de João Batista e vários países da Europa seguiram esse padrão, entre eles Portugal, que ao passar a comemorar a festa do santo, trouxe o São João para o Brasil.
Tradicionalmente, o balão surgiu para levar pedidos de graça dos homens a São João. Os fogos, acredita-se que eram para espantar os maus espíritos; já as bandeirolas, representam os santos Antônio, João Batista e Pedro; enquanto a fogueira, pelo viés católico, faz alusão à fogueira que a mãe de João Batista fez para avisar a Maria, mãe de Jesus, sobre o seu nascimento.
“É UMA FESTA QUE VEM SE TRANSFORMANDO MUITO COM A URBANIZAÇÃO” – BRUNO GAUDÊNCIO, HISTORIADOR
O pároco Padre Carlinhos, da comunidade São João Batista, no bairro Cinza, na Zona Oeste de Campina Grande, falou sobre a importância da comemoração dos festejos dos santos para a igreja. “Para nós, as festas dos santos são muito importantes, porque Jesus disse ‘sede santos como eu sou santo’. Essas festas simbolizam para a igreja a santidade, a caridade, o amor. Essas festas são religiosas e profanas. O profano, nesse caso, é uma celebração fraternal amistosa. Todas as festas juninas envolvem comida, dança [forró e quadrilhas], a alegria dos festejos.”
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