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Lula vê mais líderes em 150 dias do que Bolsonaro em 4 anos

Por O Globo    Terça-Feira, 23 de Maio de 2023


Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva completar 150 dias de governo no fim deste mês, já terá se encontrado com mais chefes de governo do que o ex-presidente Jair Bolsonaro em seus quatro anos no Palácio do Planalto. A ultrapassagem reflete os esforços da gestão atual de pôr a política externa brasileira de volta em seus trilhos históricos após quatro anos de afastamento da cena multilateral, priorizando temas antes marginalizados como meio ambiente e direitos humanos.

 

 

Reuniões bilaterais do presidente Lula — Foto: Arte O Globo

Reuniões bilaterais do presidente Lula — Foto: Arte O Globo

Reuniões bilaterais do ex-presidente Jair Bolsonaro — Foto: Arte O Globo

Reuniões bilaterais do ex-presidente Jair Bolsonaro — Foto: Arte O Globo

Lula já se reuniu com 30 presidentes ou primeiros-ministros, contando os oito que encontrou às margens da cúpula estendida do Grupo dos Sete (G7), fórum de alguma das economias mais industrializadas do planeta. Bolsonaro teve 31 encontros em quatro anos, quantia que será ultrapassada quando seu sucessor receber no próximo dia 30 representantes de toda a América do Sul para um retiro em Brasília.

O petista tem mantido uma agenda extensa de viagens: em cinco meses, passou por nove países em cinco continentes, repetindo sempre que "o Brasil voltou". Foi aos Estados Unidos e à China se reunir com os principais parceiros comerciais brasileiros, conseguiu que americanos e britânicos se comprometessem com doações para o Fundo Amazônia e buscou reconstruir os laços com os vizinhos ao escolher a Argentina e o encontro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) que lá acontecia como destino inaugural.

Uma oportunidade foi perdida no último fim de semana, no entanto, quando o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apareceu de surpresa na reunião do G7 e solicitou uma reunião. O governo brasileiro demorou para responder e, quando o fez, sugeriu datas incompatíveis com a agenda de Zelensky. A comitiva de Lula chegou a afirmar que havia um consenso para a reunião ocorrer, mas ela nunca se concretizou.

Indagado se estava decepcionado pela falta do encontro, o ucraniano minimizou afirmando achar "que ele [Lula] ficou desapontado". O petista, por sua vez, afirmou que não estava decepcionado, mas "chateado" e que "Zelensky é maior de idade, sabe o que faz". O desencontro, para a maior parte dos analistas ouvidos pelo GLOBO, não necessariamente é uma pá de cal nos planos de Lula de interceder pela paz, mas também não os facilitam.

Presidente Lula participa de sessão de trabalho do G7 com países convidados em que também esteve o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky — Foto: AFP PHOTO / Ministry of Foreign Affairs of Japan

Presidente Lula participa de sessão de trabalho do G7 com países convidados em que também esteve o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky — Foto: AFP PHOTO / Ministry of Foreign Affairs of Japan

 

Viagens futuras

 

O contraste entre as agendas internacionais de Lula e Bolsonaro devem aumentar: no horizonte, há a cúpula sul-americana no fim de maio. Em julho, há uma cúpula na Bélgica entre os membros da União Europeia e da Celac, para o qual o petista foi convidado. No mesmo mês haverá em Durban a reunião deste ano dos Brics — grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, e a intenção é visitar também outras nações do continente.

Em agosto ocorrerá a primeira reunião de países amazônicos em Belém (PA), candidata para sediar a COP30 daqui a dois anos. No mês seguinte, pode ir ao Chile para o marco dos 50 anos do golpe de Estado que derrubou Salvador Allende e levou Augusto Pinochet ao poder em 11 de setembro de 1973.

O plano inicial era de uma viagem ao exterior por mês, mas notícias recentes indicam que a agenda de Lula pode perder intensidade temporariamente devido às dores que sente no fêmur devido a um quadro de artrose. Para aliviar o desconforto, sua equipe médica avalia realizar uma cirurgia.

A agenda internacional de Bolsonaro foi impactada pelas limitações sanitárias da Covid-19, que praticamente inviabilizaram viagens internacionais por dois anos. Ainda assim, teve encontros com apenas nove líderes em 2019, seu primeiro ano de governo e o último antes da crise sanitária eclodir. No fim de janeiro, seu primeiro mês no retorno ao Planalto, o petista já acumulava 12 encontros.

Bolsonaro recusava-se a conversar com chefes de Estado e governo que não estivessem ideologicamente alinhados com suas crenças. Nesse cenário, poucos líderes internacionais estiveram com o então presidente duas vezes. Nessa lista estão Viktor Orbán, da Hungria; Andrzej Duda, da Polônia; e Donald Trump, na época presidente dos EUA, todos vinculados à direita mais radical. Nenhum deles, até o momento, se sentou com Lula.

Lula recebeu oito chefes de governo no dia seguinte à posse presidencial, excluindo reuniões com outras autoridades. Às margens da cúpula da Celac, encontrou-se também com outras três autoridades, entre elas o presidente do Conselho Europeu, que representa os chefes de governo da União Europeia (UE). Na volta, fez uma pausa no Uruguai, onde se reuniu com o presidente Luis Lacalle Pou, de centro-direita.

 

Lula e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, se reúnem em cúpula da Celac em Buenos Aires — Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

Lula e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, se reúnem em cúpula da Celac em Buenos Aires — Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

 

Encontros múltiplos

 

Nas semanas seguintes, Lula recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, em Brasília e viajou aos EUA para uma reunião com o presidente Joe Biden. No Planalto, encontrou-se também com o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e em abril visitou o chinês Xi Jinping — viagem que foi adiada em algumas semanas após o presidente brasileiro ter uma leve pneumonia.

Na volta da China, Lula parou nos Emirados Árabes Unidos, para dias depois embarcar para Portugal e Espanha. Em Brasília, por sua vez, recebeu os representantes de Cabo Verde, da Holanda e da Romênia. Durante sua breve passagem por Londres para a coroação do rei Charles III, Lula se encontrou com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que seguiu os passos dos EUA e anunciou uma doação para o Fundo Amazônia.

O resto das reuniões ocorreu às margens do G7, onde Lula sentou-se com representantes de Austrália, Japão, Indonésia, França, Canadá, Índia, Vietnã e Comores. O petista teve também uma segunda reunião com o chanceler alemão, Olaf Scholz. Só conversou pessoalmente mais vezes, em três ocasiões, com o vizinho e amigo de longa data Fernández.

Bolsonaro não esteve sequer uma vez com Scholz ou sua antecessora no governo alemão, Angela Merkel. Também não esteve com o presidente francês Emmanuel Macron, com quem tinha uma relação antagônica: em 2019, causou problemas para o Itamaraty ao fazer comentários amplamente vistos como misóginos sobre a primeira-dama francesa, Brigitte.

O isolamento de Bolsonaro ficou claro em episódios simbólicos, como sua ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, no primeiro mês de seu governo: seu pronunciamento durou apenas seis dos 45 minutos alocados e almoçou em um mercado local, cercado por aliados brasileiros. Teve seis reuniões bilaterais, frente ao interesse com uma gestão ainda incipiente, mas posteriormente o isolamento falou mais alto.

Em 2021, por exemplo, Bolsonaro foi à reunião do G20 em Roma, e só foi recebido pelo premier Mario Draghi, da Itália, o país-sede. As imagens mostravam o brasileiro sozinho enquanto outros líderes conversavam entre si. E, se a política externa bolsonarista era guiada pela ideologia de seu chefe, agora o Itamaraty retorna para sua tradição.

 

De volta aos trilhos

 

Lula busca reforçar os laços regionais, levando o Brasil de volta para a Celac e para a União de Nações da América do Sul (Unasul). Encontrou-se com quase todos os vizinhos — e já recebeu inclusive o recém-eleito presidente paraguaio, Santiago Peña, em Brasília. Ele será empossado dia 15 de agosto.

O aceno do petista também é forte para os organismos multilaterais, defendendo com frequência a necessidade de uma reforma no sistema de governança global e das instituições financeiras internacionais. Em Hiroshima, Lula encontrou-se com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

Lula voltou a defender que o Conselho de Segurança da ONU seja expandido para refletir um mundo pós-Guerra Fria — os cinco membros-permanentes são EUA, França, China, Rússia e Reino Unido — e endossou o coro por reformas no FMI e no Banco Mundial, por exemplo.

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