Lucas Ribeiro diz que não vai aceitar divisões na base e manda recado

Por Revista Fórum Segunda-Feira, 29 de Setembro de 2025
Num Congresso Nacional marcado cada vez mais por divisões profundas e um clima de desconfiança generalizada, o Projeto de Lei da “dosimetria”, que busca reduzir penas para condenados por crimes contra a democracia, incluindo os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), parece sentenciado a um destino inglório: a gaveta das pautas abandonadas. Apesar dos esforços do relator, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), para costurar apoios entre as bancadas, as negociações revelam um cenário de fragilidade política que só reforça a inevitabilidade de que Bolsonaro e seus aliados enfrentem o peso da Justiça, sem atalhos legislativos para a impunidade. As informações extras que circulam nos bastidores, somadas às movimentações recentes no plenário, pintam um quadro de fracasso iminente, impulsionado por rejeição popular, erros estratégicos e tensões institucionais que tornam qualquer concessão ao bolsonarismo um risco eleitoral inaceitável em ano pré-eleições.
O otimismo inicial de Paulinho, que nesta semana ouviu oito das 11 principais bancadas e colheu declarações de apoio de siglas que somam 201 deputados, como Republicanos, União Brasil, PP e Podemos, esbarra em obstáculos que vão além dos números frios do plenário. A proposta, que não exige quórum qualificado e poderia avançar com maioria simples, ainda não tem nem texto finalizado, o que serve de escudo para indecisos como o MDB justificarem sua posição em cima do muro. Outras bancadas, algumas que devem ser contrários, por óbvio, mas que ainda não se pronunciaram oficialmente, como PCdoB, PSD, PSB e PDT, agendam reuniões para a próxima terça-feira (30), mas o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já sinalizou na última quinta (25) a necessidade de "um pouco mais de tempo" para avaliar a pauta, adiando qualquer hipótese de votação iminente. Essa prorrogação, no entanto, não é mero ajuste procedimental: ela reflete o pânico crescente entre os articuladores, diante de uma rejeição que transcende as trincheiras ideológicas e se enraíza na opinião pública.
O cálculo otimista de Paulinho, que projeta 350 a 370 votos favoráveis em uma votação fragmentada, com PT barrando a anistia e PL endossando a redução para não trair sua base, ignora as fissuras reais. Bancadas contrárias somam uma muralha de 170 vozes, e o temor de que um requerimento bolsonarista para emplacar o perdão passe por pressão nas redes sociais, recordando os 311 votos pela urgência da matéria, é minimizado, mas não dissipado. Aliados do relator apostam em um acordo para que o PL engula a redução sem forçar a anistia, mas a direita já avisa: quer ao menos registrar sua posição pró-Bolsonaro para os eleitores de 2026. Nesse ano eleitoral, ninguém quer se queimar, e as contas mais otimistas mostram apoios insuficientes, com deputados do centrão calculando que abraçar a pauta equivaleria a um suicídio político, dado que a maioria dos brasileiros clama por Bolsonaro na cadeia.
O clima entre Câmara e Senado, descrito como "péssimo", sela o destino da proposta. A Câmara carrega a fama de "inimiga do povo" após tropeços recentes, enquanto o Senado emerge como "parceira dos interesses da população", pronto para enterrar qualquer texto que chegue das mãos de Motta, como ocorreu com a PEC da Blindagem. A cobrança de PP e União Brasil por uma pactuação prévia com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) ecoa vazia: uma reunião para distensionar o ambiente foi cancelada na quarta (24), sem nova data. E se o risco de liberar criminosos organizados, uma das condenações a Bolsonaro, já preocupava as bancadas, com Paulinho prometendo cautela nesse ponto, a cereja do bolo veio com a ameaça cretina do relator: condicionar a pauta da isenção de IR para ganhos de até R$ 5 mil à votação da dosimetria. Desautorizado publicamente por Motta, o blefe explodiu como uma bomba, deixando a sensação de que os brasileiros são reféns do clã Bolsonaro. "É um debate extremamente difícil", admitiu Luís Tibé (Avante-MG), ecoando o líder do Podemos, Rodrigo Gambale (SP), que vê apoio majoritário à redução, mas não à anistia.
As sanções internacionais à família do ministro Alexandre de Moraes, com sua esposa atingida pela Lei Magnitsky, pulverizaram qualquer resquício de "acordo" no Supremo. O que restava de clima negociável evaporou, deixando o PL da “dosimetria” à deriva em um mar de rejeição. Sugestões como a do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de não somar penas de golpe e abolição violenta do Estado Democrático, prevalecendo a mais grave, foram bem recebidas em consenso, mas servem mais como paliativo do que salvação. Paulinho sinaliza exclusões para "casos mais graves", mas a essência permanece: uma empreitada para perdoar golpistas que a sociedade repudia. Com 2026 à porta, o lógico prevalece: não há como salvar o ex-presidente criminoso. A dosimetria ruma para a gaveta, e Bolsonaro, para a cadeia.