Redes sociais são usadas como vitrine do crime para atrair adolescentes
Por BAND/UOL Segunda-Feira, 24 de Novembro de 2025
O crime organizado usa a ostentação nas redes sociais como principal arma para recrutar jovens, atraindo-os com uma falsa narrativa de poder e glamour. O monitoramento da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro (SSP-RJ) aponta que esse fenômeno cresceu nos últimos cinco anos, transformando plataformas digitais em vitrines de recrutamento.
As postagens mostram cordões de ouro, joias com as siglas das facções, motos, carros de luxo, dinheiro e grande quantidade de armas, incluindo fuzis e granadas. Perfis com milhares de seguidores e visualizações servem como um canal para a exposição do tráfico, influenciando adolescentes a se juntarem às facções.
Segundo a reportagem de Ádison Ramos para o Jornal da Band, a tática de ostentação e marketing cria uma porta de entrada para o recrutamento digital, especialmente direcionado a jovens de fora das comunidades. O Comando Vermelho (CV) é citado como uma organização que utiliza essa estratégia de forma organizada.
Símbolos e estratégias para driblar a moderação
A comunicação nas redes sociais envolve o uso de códigos e símbolos para vender o estilo de vida criminoso. Fotos e emojis de ursos, por exemplo, são usados com frequência em alusão a um dos líderes do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso. A bandeira vermelha, que identifica o CV, também é estampada em diversas postagens.
Os criminosos utilizam emojis, alguns infantis, para cobrir rostos e armas, uma estratégia para evitar que o conteúdo seja rapidamente removido pelas plataformas.
O balanço da Operação Contenção, uma megaoperação nos Complexos da Penha e do Alemão, revelou a eficácia dessa tática. Dos 17 suspeitos mortos sem histórico criminal, 12 exibiam em seus perfis pessoais fortes sinais de vínculo com o tráfico, o que demonstra a força da propaganda digital. Outro caso de repercussão foi o da “Japinha do CV,” que ostentava sua vida no crime pela internet.
O procurador de justiça Márcio Mothé ressalta que o aumento de adolescentes autores de atos infracionais no Rio de Janeiro está diretamente ligado a esse uso indevido da internet e das redes sociais.
Monitoramento das autoridades e hierarquia do crime
As autoridades de segurança pública têm intensificado o monitoramento dessas redes sociais, que se tornaram um vetor de recrutamento.
Pablo Sartori, Subsecretário de Inteligência da SSP-RJ, explica que a liderança das organizações criminosas se mantém discreta. “Há um grupo de liderança dentro dessas comunidades, da organização criminosa, esses não têm perfil, não fazem ostentação, não aparece em lugar nenhum,” afirma o subsecretário. Essa parte da atividade, o marketing e o enfrentamento à polícia, é deixada para a linha de frente, enquanto os líderes buscam fugir.
A interação nas redes sociais evoluiu para aproximação presencial. Hashtags e símbolos de facções circulam livremente, e o material monitorado inclui links que direcionam a grupos no Discord, onde há vídeos, simulações e jogos que referenciam comunidades do Rio de Janeiro. Todo esse ambiente ultrapassa os limites das comunidades e reforça o recrutamento digital do tráfico.