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Existe relação entre o uso indevido de drogas e delinquência?

Por Deusimar Wanderley - Psicólogo   Terça-Feira, 2 de Dezembro de 2025

O volume de drogas circulante e o consequente uso indevido destas substâncias vêm aumentando com o passar dos anos, e a maioria dos especialistas afirma que tal fato trouxe a reboque o aumento das violências.

É importante frisar que, segundo as estatísticas, o aparelho repressor estatal, em todo o mundo, só consegue retirar de circulação, no máximo, entre 5% a 10% da droga ilegal em circulação.

Os estudos em segurança pública têm demonstrado que o braço mais lucrativo das organizações criminosas é o tráfico de drogas, e é sabido que este crime é o combustível mais inflamável para o alimento das violências, mas, neste texto quero me referir apenas ao aspecto do consumo de drogas, não ao comércio ilícito, haja vista que em relação ao tráfico é público e notório essa relação direta com crescimento das violências.

Em relação ao uso indevido de drogas, os dados oficiais têm mostrado, que, embora a dependência química seja um grande problema, mesmo assim, este não é o que mais danos provocam aos usuários e à sociedade em geral, mas sim os atos e comportamentos praticados pelos usuários abusivos, mesmo não dependentes, quando estão sob os efeitos destas substâncias.

O álcool, por ser uma substância legalizada em quase todo o mundo, cujo consumo é culturalmente aceito e até estimulado, especialmente na sociedade ocidental, é também a mais consumida, e por consequência esta droga é a que mais danos sociais provocam aos usuários e à sociedade em geral, seja de forma direta, abrindo caminho para a eclosão de diversas doenças, ou indiretamente, contribuindo para os acidentes de trabalho, trânsito, agressões e violências outras.

Os dados da área de segurança pública atestam que os abusadores de bebidas alcoólicas se envolvem mais frequentemente com crimes contra a vida e/ou a integridade física, enquanto os usuários de drogas ilícitas se envolvem mais comumente com crimes contra o patrimônio, como: furtos, roubos, assaltos etc.

Segundo um levantamento estatístico, feito pelo jornalista americano, Daniel Goleman, cerca de 87% dos casos de agressão registrados nas delegacias da Mulher estão relacionados ao consumo abusivo de bebidas alcoólicas, e 90% de todos os estupros comunicados em Universidades aconteceram quando o agressor ou a vítima, ou ambos tinham bebido.

Nesse contexto, deve-se registrar que o Brasil é o 2º maior consumidor de drogas em geral, de todo o mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos da América. Sendo que nosso país é campeão mundial em consumo de destilados de cachaça, “crack” e medicamentos para a estética e bem-estar (moderadores de apetite, calmantes, antidepressivos etc.). O mais grave é que nas últimas décadas tem aumentado assustadoramente, o uso abusivo de bebidas alcoólicas por parte dos jovens, inclusive mulheres, que até um passado recente, era um público que não consumia tanto.

É importante deixar claro que, embora a maioria dos estudos ateste esta relação do uso de drogas com as violências, o alimento deste mal não está restrito às drogas, existe uma série de outros fatores que podem contribuir para o surgimento e ou incremento das violências.

O neuropsiquiatra italiano, Filippo Muratori, afirma que: “…Um dos problemas centrais dos comportamentos violentos diz respeito a compreensão do relacionamento existente entre fatores constitucionais (endógenos) e fatores sociofamiliares (exógenos), na sua determinação. Nenhum desses fatores pode ser considerado causal se considerado isoladamente. É possível propor um modelo bidirecional que considera uma constante interação entre as duas classes de fatores”. Ou seja, o sujeito e o ambiente em que esse habita se influenciam reciprocamente. E assim sendo, para construir um jovem violento são necessários não só fatores genéticos predisponentes, como também a exposição repetida a fatores sociais de risco, como o uso indevido e abusivo de drogas, por exemplo.

Alguns estudos genéticos estimam que, cerca de 40 % da tendência para o comportamento agressivo, particularmente aquele de natureza impulsiva, deve ser atribuído a fatores genéticos. De acordo com estes estudiosos, o comportamento de oposição e agressivo é altamente herdado e pouco influenciado por fatores ambientais, enquanto o comportamento delinquente está pouco ligado a fatores genéticos e mais ligado a fatores pertencentes ao ambiente social compartilhado. Neste aspecto, levantamentos da área da psicologia afirmam que os maus-tratos recebidos na infância representam de fato, um dos elementos de maior risco para o aparecimento de comportamentos violentos nas idades posteriores. De outro modo, aparentemente pais democráticos tendem a criar adolescentes bem ajustados, os quais geralmente procuram outros jovens também bem ajustados como amigos.

As experiências por mim vivenciadas, seja na área da segurança pública como policial, ou atuando como psicólogo, lidando com usuários e dependentes químicos em tratamento, me faz acreditar que os usuários de drogas, especialmente os mais pobres, que moram em periferias pobres e desassistidas pelo poder público, mais frequentemente se envolvem com delitos e violências diversas. O próprio meio ambiente em que estes vivem parece contribuir para tal fato. Contudo, tais jovens correm bem menos riscos quando estes e seus pais obtêm apoio do poder público e também comunitário efetivos.

Os próprios relatos dos adolescentes deixam claro que o envolvimento deles em atos de violência está mais relacionado a fenômenos imitativos de grupo (influência dos amigos), que a fatores constitucionais e ambientais precoces.

Contudo, é notório que muitos destes jovens, mesmo carentes e desassistidos, são dotados de alta resiliência, e isto os torna capazes de resistirem e não enveredarem pelo caminho das violências. Como bem reza a letra da canção italiana, “Non son degno di ti” – (Não mereço você), popularizada pelo cantor brasileiro Agnaldo Timóteo, “… entre montes e pedras também nascem flores”.  Esta é uma metáfora sobre a esperança, e significa que a beleza e a resiliência podem surgir, mesmo em meio às dificuldades e adversidades da vida.

Mas, sem dúvida, um dos fatores de proteção mais eficiente é a presença de um bom suporte familiar e social.

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