Vacina da dengue de dose única: como funciona e quem pode tomar?
Por O Globo Quinta-Feira, 27 de Novembro de 2025
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou ontem a primeira vacina em dose única para dengue do mundo. Trata-se da Butantan-DV, quadrivalente — que consegue proteger contra os quatro sorotipos existentes do vírus da dengue: chamados de DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. O registro que ratifica a liberação da agência deve ser publicado “nos próximos dias”, informou o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Os dados dos estudos apresentados pelo Instituto Butantan para receber o sinal positivo da agência reguladora demonstram que a nova vacina teve 74,7% de eficácia geral, 91,6% de eficácia contra dengue grave e com sinais de alarme e 100% de eficácia contra hospitalizações por dengue.
Ou seja, isso quer dizer que entre os vacinados, quem teve sinais de dengue pouco teve agravamento da doença e, entre os que receberam as aplicações, ninguém foi hospitalizado.
A aprovação de uso foi para a faixa etária entre 12 e 59 anos. A vacina testada e desenvolvida no Brasil teve as etapas iniciais idealizadas pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), nos EUA.
Em coletiva de imprensa realizada na sede do Instituto Butantan, em São Paulo, ontem, o ministro da Saúde afirmou que a expectativa é que se usem as vacinas prontas já no mês que vem. Atualmente, o Butantan já conta com mais de 1 milhão de doses preparadas.
— Queremos pegar esse 1 milhão de doses e começar a colocar no braço do povo brasileiro. A expectativa nossa é que já possamos começar a usar essa vacina para um determinado público a partir do mês de dezembro e colocar no calendário de vacinação a partir de janeiro de 2026 — revelou.
Por tratar-se de uma vacina em dose única, a expectativa é que as doses tenham maior adesão do que o atual imunizante disponível no país, desenvolvido pela farmacêutica japonesa Takeda, chamado QDenga. Padilha, porém, afirmou que não existe a previsão de que a vacina internacional seja retirada do programa de imunização brasileiro.
— A nova vacina não substitui a vacina que nós temos, até pela capacidade de produção, incorporação da vacina (atual). Temos um contrato de 18 milhões de doses com a Takeda — disse Padilha.
Atualmente, a vacina ofertada pelo Ministério da Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), é a QDenga, produzida pela biofarmacêutica Takeda. O imunizante apresenta um esquema de duas doses, com intervalo de 90 dias entre cada uma.
A Qdenga recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023 para uso no Brasil em pessoas de 4 a 60 anos, independentemente de já ter sido infectado pela dengue ou não.
Ainda não está definido quem será o público que primeiro receberá a vacina. A decisão, informou Padilha, se dará em reuniões marcadas para ocorrer nos próximos dias.
— Eu imagino que devemos ter uma atenção especial a quem faz o enfrentamento da doença em campo. Alguém que combate foco de disseminação dos mosquitos, que faz vigilância. Essas pessoas têm um grau de exposição elevado considerando a população em geral — pondera Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan.
Renato Kfouri vice-presidente da a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e também membro da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) — que oferece apoio técnico ao programa de imunizações — diz que a definição dos grupos prioritários que receberão as primeiras doses da vacina é algo desafiador. Trata-se de um cenário mais difícil, por exemplo, do que quando foi preciso tomar decisão semelhante diante da vacinação por Covid.
— A dengue é uma doença bastante complexa. Há zonas de maior e menor incidência, por exemplo. Além disso, a vacina é bastante segura e performa até mesmo melhor em quem já teve dengue em uma primeira vez — explica o especialista.
Neste momento, ainda não há vacina aprovada no Brasil para o público que tenha mais de 60 anos de idade. Essa é uma preocupação presente, pois é onde a doença provoca mais risco de agravamento, diz Kfouri.
Considerando esse cenário, o Butantan informou que já recebeu aval da Anvisa para avaliar o uso da mesma vacina no público entre 60 a 79 anos. Caso os resultados do estudo sejam positivos, será possível pedir à agência que se amplie o público de aplicação das doses. O mesmo deve ocorrer para meninos e meninas de 2 a 11 anos. Estudos já feitos, segundo o Butantan, mostram que a vacina é segura para esse público jovem.