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Por Professor Espedito Filho Quarta-Feira, 15 de Outubro de 2025
Não vestimos armaduras, nem empunhamos espadas. Caminhamos descalços pelos campos do saber, onde a terra é árida, o sol é impiedoso e, mesmo assim, plantamos flores — porque acreditamos. Somos os guerreiros do silêncio, aqueles que lutam todos os dias sem prestígio, sem palco e quase sempre sem reconhecimento. Quando nos levantamos para reivindicar, chamam-nos de arruaceiros; quando silenciamos para ensinar, dizem que apenas cumprimos um dever. Mas a verdade é que somos o alicerce invisível de todas as grandezas humanas.
Gandhi dizia que a verdadeira força está na não violência, e é com essa força — a da palavra, da escuta e do exemplo — que enfrentamos as injustiças do mundo. Enquanto os poderosos empunham decretos e discursos, nós empunhamos o giz gasto, a caneta simples e o olhar firme. Nossa arma é a educação: essa ferramenta antiga, desbotada e desnutrida pelos políticos que tanto a temem, porque sabem que um povo que pensa não se ajoelha.
Somos herdeiros de Teresa de Calcutá, que acreditava que a paz começa com um gesto de amor. Mesmo feridos pela intolerância e pela indiferença, continuamos a revolucionar em silêncio. Cada palavra dita com ternura é um ato de resistência. Cada aluno que aprende é uma vitória contra a escuridão. Quem escolhe ser professor não busca glória — busca sentido. Ser professor é ser altruísmo vivo, é oferecer luz a quem ainda tateia no breu.
E, se há algo que o tempo jamais poderá apagar, é o heroísmo esquecido da pandemia. Enquanto o mundo se trancava em medo e incerteza, nós não abdicamos de nossa missão. Lutamos pela vida — a nossa e a dos outros — e, mesmo confinados entre quatro paredes, erguemos pontes invisíveis até os lares de nossos alunos. Transformamos telas em salas de aula e o silêncio em presença. Levamos o conhecimento em meio à dor, sem aplausos, sem garantias, apenas com a coragem de quem acredita que ensinar é continuar respirando esperança.
Num mundo onde a sabedoria é tratada como ameaça, nós nos tornamos os terroristas do saber — os que desarmam o ódio com argumentos, os que desconstroem mentiras com perguntas, os que resistem à barbárie com um livro nas mãos. Somos a máquina que humilha as injustiças, a força dos ignorados, a dinamite que explode a corrupção da alma, as masmorras dos que propagam o mal. Mas, paradoxalmente, também somos vítimas desses mesmos instrumentos que tentamos transformar — vítimas do descaso, da sobrecarga e da incompreensão.
E ainda assim, quando partimos, não levamos armas nem rancores. Levamos apenas as rosas que plantamos nas mentes, as flores que brotam mesmo em meio à devastação. Levamos conosco os sonhos que ajudamos a nascer, as sementes de amor e consciência que deixamos espalhadas.
Por isso, neste dia, ergamos nossa voz — mesmo cansada, mesmo rouca — e proclamemos com firmeza e ternura: “Hay que endurecer, sin perder la ternura jamás.” Porque ser professor é ser resistência em sua forma mais pura. É ser luz em meio à tempestade. É cuidar de um jardim que o mundo insiste em destruir, acreditando que um dia as flores voltarão a crescer.
E talvez — só talvez — sejamos algo ainda mais profundo: os obstetras do saber. Porque, assim como a obstetrícia, nossa missão só faz sentido se houver esperança. Lidamos todos os dias com o que ainda está para nascer — o pensamento, a consciência, o amanhã. Assistimos, com mãos cansadas e olhos cheios de fé, o parto da humanidade que insiste em recomeçar. E mesmo quando tudo parece perdido, seguimos ali — entre dores e silêncios — ajudando o mundo a nascer de novo.
Viva os que lutam sem armas. Viva os que ensinam em meio ao caos. Viva os que resistem com o coração aberto. Viva, sempre, o professor — o verdadeiro obstetra da esperança.
Por Espedito Filho