O ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Adiel Pereira Alcântara afirmou em interrogatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a impressão dele era de que houve policiamento direcionado em algumas regiões do país durante as eleições presidenciais de 2022.
Adiel foi ouvido novamente como testemunha da Procuradoria-Geral da República (PGR). Questionado pela defesa do ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques (foto em destaque), ele reiterou o que havia dito na oitiva do núcleo 1: a corporação determinou policiamento direcionado em determinadas áreas durante a votação para presidente naquele ano.
Segundo ele, a impressão era de que a fiscalização se concentrava em ônibus e vans que partiam dos estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro com destino ao Nordeste, onde havia ampla maioria de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Foram orientações gerais, mas para esses estados [RJ, SP, MG e GO], a fiscalização foi mais intensificada. O serviço de inteligência, do qual eu fazia parte, ficou responsável por monitorar manifestações e crimes eleitorais. Cada estado tinha um agente focal, que precisava acompanhar as ocorrências 24 horas por dia, sete dias por semana. A PRF também era responsável por receber informações”, detalhou Adiel.
Ele ressaltou que essa percepção de direcionamento surgiu principalmente após pedidos de Silvinei ao então diretor de Inteligência da PRF, inspetor Luís Carlos Reischak, para enviar mensagens sobre a contagem de ônibus e vans. Apesar disso, Adiel acredita que nenhum eleitor deixou de votar por causa da fiscalização.
“Como disse, ele [Silvinei] cobrou o inspetor Reischak, que me repassou a cobrança sobre a contagem de ônibus e vans. Houve abordagem a um ou outro ônibus, mas logo em seguida foram liberados. Retenção de eleitor não foi confirmada”, relatou, citando inclusive um áudio de Silvinei que vazou durante a audiência, no qual ele concordava com a operação.
Por fim, Adiel explicou que a função dele, como coordenador de análise, era restrita ao acompanhamento de manifestações sociais. “Minha atribuição era essa. Quem pode confirmar detalhes sobre a Operação Trânsito Seguro são os responsáveis nas superintendências”, concluiu.
Sem Moraes e sem Gonet
No lugar de Moraes, as audiências são conduzidas pelo juiz auxiliar de seu gabinete, Rafael Henrique Tamai Rocha. Já o procurador Joaquim Cabral representa a PGR nas sessões.
Além de Adiel, prestam oitiva nesta manhã Éder Lindsay Magalhães Balbino e Clebson Ferreira de Paula Vieira. O ex-ajudante de ordens Mauro Cid será ouvido à tarde, a partir das 14h.
Geralmente, os juízes auxiliares conduzem toda a instrução das ações penais. No caso do processo do golpe, porém, Moraes tem conduzido pessoalmente as etapas que considera mais relevantes, como as que envolvem diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com o STF, as oitivas das testemunhas de defesa do núcleo 2 ocorrerão entre 15 e 21 de julho, e poderão ser acompanhadas pela imprensa na sala de sessões da Primeira Turma.
Já as do núcleo 3 estão previstas de 21 a 23 de julho, na sala de sessões da Segunda Turma. As do núcleo 4 acontecem em 15 e 16 de julho, também na Segunda Turma. Todas as sessões começarão às 9h.
Apesar dos nomes indicados pelos réus, alguns foram vetados por Moraes, como os dos filhos do ex-presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro.
Enquanto o vereador carioca foi indiciado no inquérito da Abin paralela, Eduardo é investigado por crimes de coação, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
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