No Brasil, o universo do futebol continua sendo dos homens, como mostra o recorte por sexo da pesquisa O GLOBO/ Ipsos-Ipec. Entre todos os clubes citados, nenhum tem o percentual da torcida feminina superior ao da masculina. Os dados, porém, também apontam que alguns são mais “femininos” que outros. Das cinco maiores torcidas do país, o Flamengo desponta com quase 20% da preferência das mulheres. O São Paulo, por sua vez, surge numericamente em terceiro lugar — à frente do Palmeiras, que ocupa essa posição no geral e entre os homens.
Com a maior torcida do Brasil, o Fla figura bem nos dois segmentos, mas com leve viés masculino. O percentual de torcedores homens (22,8%) supera a média geral (21,2%); o das mulheres é de 19,7%. Proporcionalmente, é o clube com maior participação feminina dentro do top 5: elas são 48% do total da torcida.
— Estamos mapeando o perfil dos nossos fãs para diferenciar os nichos. Já chegamos a algumas conclusões iniciais. Vamos divulgá-las quando o trabalho estiver pronto. Sabemos que o público feminino é muito grande. Há algumas semelhanças entre homens e mulheres na forma como consomem o futebol, mas há diferenças importantes na maneira de se relacionar com o clube. Temos que fazer esse trabalho estratégico — analisa o vice-presidente de marketing do clube, Ricardo Hinrichsen.
Com 5,6% das mulheres e 7,2% dos homens, o São Paulo é o clube com a menor diferença percentual entre sexos dentro do top 5 das maiores torcidas. Em relação à pesquisa realizada em 2022, manteve o percentual feminino, mas viu o rival Palmeiras recuar de 6,2% para 5%, figurando em quarto lugar nesse recorte.
O tricolor paulista também é o vice-líder entre os times com maior proporção de mulheres em suas torcidas: 45%. Do outro lado, está o Vasco, com maior proporção de homens (67%) dos cinco primeiros lugares.
Nos últimos anos, o São Paulo tem tido um olhar especial para seu público feminino. O clube fez parcerias com aplicativos de transporte exclusivos para mulheres, que deram desconto nos trajetos de ida e volta ao Morumbis, criou um canal de denúncia, abriu o estádio como espaço de acolhimentos para vítimas de violência e para realização de exames de mamografia gratuitos.
Ainda assim, dados de outros estudos recentes mostram que o número de mulheres nos quadros de sócio-torcedor ainda é muito baixo. E isso não é exclusividade do São Paulo: o percentual geral gira em torno de 10% a 15%. A ocupação feminina nos estádios também é baixa, de 14%.
— O futebol sempre disse um grande “não” às mulheres, é um público rejeitado por muito tempo — aponta a socióloga Leda Maria da Costa, pesquisadora do Laboratório de estudos em Mídia e Esporte da UERJ.
Fora do top 5 — levando-se em consideração a margem de erro —, alguns dados chamam a atenção. O Santos, por exemplo, tem o maior viés masculino, com 3,1% das menções dos homens, mas apenas 1% de menções de mulheres, saindo da 10ª posição geral para a 12ª no ranking feminino.
A pesquisa foi realizada pela Ipsos-Ipec entre 5 e 9 de junho de 2025. Foram entrevistadas 2000 pessoas com 16 anos ou mais em 132 municípios brasileiros. Com nível de confiança de 95%, a margem de erro estimada para o total da amostra é de 2,2 pontos percentuais. Em alguns recortes, a soma pode ser maior que 100% porque foram considerados dois times como preferência.
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