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Boto fala em reforçar o Fla após o Mundial e explica prioridades; leia a entrevista

Por O Globo    Sexta-Feira, 13 de Junho de 2025


Ao longo do ano, a diretoria do Flamengo nunca escondeu que, apesar do elenco qualificado e do alto investimento, o clube não poderia colocar a Copa do Mundo de Clubes como prioridade acima de Brasileirão e Libertadores, em razão da disparidade entre as realidades do futebol brasileiro e do europeu. Isso não quer dizer, porém, que o rubro-negro não tentará medir forças com as principais potências no torneio que começa amanhã, nos EUA, garante o diretor de futebol José Boto.

Mas antes de ver o time entrar em campo na estreia contra o Espérance-TUN, na segunda-feira, o dirigente rubro-negro se viu em meio a um assunto extracampo para lidar: a iminente ida de Gerson para o Zenit-RUS.

— O Gerson, enquanto não pagarem a multa rescisória, é jogador do Flamengo. Não há qualquer dúvida disso— disse Boto ao GLOBO, citando justamente a multa de 25 milhões de euros que o clube russo se propôs a pagar para ter o volante, que, nos bastidores, sinalizou positivamente à oferta.

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Boto falou também sobre outros temas. Fez um balanço da temporada, disse que o Flamengo ainda está atrás de um meia e de um ponta, que busca rejuvenescer o elenco e projetou como o time encarará o Mundial de Clubes.

José Boto, diretor do Flamengo — Foto: Divulgação
José Boto, diretor do Flamengo — Foto: Divulgação

Como o Flamengo vai encarar o torneio da Fifa em relação ao Brasileiro e a Libertadores?

A prioridade é o Brasileiro e a Libertadores. Não podemos ser fanfarrões, soberbos e até ridículos aos olhos dos europeus quando ouvem esse tipo de coisa, de acharmos que temos obrigação de chegar e ganhar o Mundial. Outra coisa é irmos — e vamos — para competir, para jogar sabendo da dificuldade de competir com as equipes europeias, que jogam em ritmo mais elevado do que aqui no Brasil. Vamos jogar olhos nos olhos com eles, passar a fase de grupos, e depois ver o que acontece. O tempo de descanso é suficiente, não vamos poupar no Mundial.

A chegada ao Mundial coincide com a janela de transferências. Pelo que se sabe o Flamengo já tem tudo mapeado, mas só fará investimentos em julho, é isso?

Não estamos trabalhando contra o relógio para fechar os jogadores se isso nos fizer pagar mais, se não for dentro do planejamento financeiro. Pouca gente sabe quem são os jogadores. Só eu, o treinador e o presidente. Do lado de lá, quando vaza alguma coisa, deixo logo de fazer a negociação.

O Fla fechou o 1º semestre classificado nas Copas e líder no Brasileiro. O que deu certo e o que precisa de ajuste no ano? O número de lesões foi alto ou estava previsto?

O que deu certo foi estarmos em todas as competições e sermos líderes do Brasileiro. Temos um elenco qualificado para isso. Sabíamos que poderíamos fazer isso desde o início. Impossível prever o número de lesões. Houve momentos em que tivemos bastante, nas mesmas posições, o que dificulta muito, mas isso é algo difícil de planejar. Mesmo o melhor elenco do mundo é sempre melhorável. E achamos que ele pode melhorar no sentido de dar algum descanso aos principais jogadores da equipe.

Quais as prioridades nas contratações? E saídas? Wesley será vendido?

As prioridades são um meia que permita ao Arrascaeta ter mais descanso e um ponta. Não porque os pontas que temos não tenham entregado nesta fase, mas porque achamos que, para o elenco ser melhor, precisamos de um ponta com outras características. Depois, poderá haver reposições caso jogadores saiam, mas, até o momento, não temos ofertas. Isso não preocupa, pois temos jogadores mapeados para todas as posições.

O Fla tem fartura de pontas, mas jogadores experientes. A ideia é renovar essa posição, tão usada pelo Filipe Luís e no futebol europeu, com jovens de mais vigor físico?

Não é tanto a ver com idade, mas com características. São pontas agudos, mas precisam de espaço para render. Queremos um jogador que atue em espaços mais reduzidos, que sejam mais físicos ou não, não tem tanto a ver. O principal é que se sinta à vontade em espaços reduzidos.

E o meia? O Flamengo tem uma aura sobre a camisa 10 do Zico. Tem nomes de peso para revezar com o Arrascaeta que o clube possa pagar?

Não precisa ser um nome de peso. Tem que ser um jogador nível 10 do Flamengo, com características técnicas boas, com alguma rodagem, sem ser de muita idade. E não pensar no peso da camisa quando entrar em campo.

Qual o balanço das primeiras contratações do ano?

O balanço do Juninho e do Danilo é positivo, pois eles cumpriram o que esperávamos deles. Muito por conta do Danilo, o Ortiz e o Léo Pereira fazem uma temporada excelente. No último jogo, ele mostrou por que é o Danilo. Juninho veio para ser o segundo avançado, atrás do Bruno Henrique, enquanto o Pedro não voltava. Cumpriu bem. Está em adaptação a uma realidade diferente da que vivenciou em sua carreira, e isso leva mais tempo. O perfil visado agora é de jogadores que possam servir ao Flamengo com qualidade técnica — mas, realmente, a parte física é muito importante no futebol hoje em dia. Jogadores mais jovens aguentam mais.

O Fla tem trazido da Europa jogadores mais velhos. Em que mercado achar esses jovens que citou? América do Sul, Oriente Médio?

A realidade do futebol brasileiro é trazer jogadores com nome, mas com idade avançada, que jogaram na Europa. Há muitos jogadores que jogam na Europa que são sul-americanos. Há muitas nacionalidades possíveis.

Vimos o caso do zagueiro Alexsandro, que passou pelo Fla, não vingou, e agora está na seleção. Como identificar esse tipo de jogador no quintal de casa? A base não tem sido pouco utilizada?

Alexsandro foi um jogador que esteve no Brasil, ninguém quis, e chegou à seleção. O que prova que muitas vezes o que falta aqui é um pouco de paciência.

Depois da renovação do Gerson, o clube congelou as valorizações até contratar essas peças consideradas prioridades. A folha salarial não está alta demais? Isso não dificulta se desfazer de jogadores, como nos casos do Pablo, do Alcaraz?

A folha salarial do Flamengo está à altura de um clube que quer lutar por tudo. Não me parece que está alta demais. Alcaraz não teve sorte, isso dificulta o empréstimo dele, mas isso se passa em todos os clubes do mundo. A venda do Alcaraz já estava acordada quando ele saiu daqui. Havia opção de o Everton ativar a opção até dia 31 de maio e ativou, está feito.

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