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Ambicioso e solidário: como Filipe Luís construiu no Fla DNA de treinador

Por O Globo    Sábado, 28 de Junho de 2025


O plano de jogo do Flamengo para o duelo de amanhã contra o Bayern de Munique, pelas oitavas de final do Mundial de Clubes, está sendo estudado por Filipe Luís. Mas não se sabe quando exatamente vieram as primeiras anotações do técnico de 39 anos, que completou 50 jogos (e apenas três derrotas) no comando do time. Sem abrir mão do DNA do Flamengo, o ex-jogador forjou o próprio como líder nos últimos oito meses, mas as sementes foram plantadas nos últimos anos de carreira.

Filipe costumava registrar os detalhes dos treinos com os mais diferentes técnicos que o comandaram. Nunca escondeu que a principal referência era Diego Simeone. Quando chegou do Atlético de Madrid para o Flamengo, em 2019, recebeu a promessa de que o clube abriria as portas para a nova fase após a aposentadoria. Os espanhóis o queriam para a categoria de base.

Filipe Luis 3

Ambição irritou Sampaoli

Ao longo dos anos, todos no Flamengo entenderam a carreira de treinador como um fluxo natural para Filipe. Menos Jorge Sampaoli. Em 2023, o treinador argentino se incomodou com o fato de o então lateral esquerdo orientar os colegas durante os jogos. O futuro técnico já não escondia de ninguém que estava se preparando com ambição. Nesse período, chamou a diretoria e avisou que iria parar de jogar futebol no fim do ano. Como prometido, veio o convite para assumir a base do rubro-negro, e ele topou, mesmo com oferta do Atlético de Madrid o balançando e sondagens do mercado dos Estados Unidos.

Começo na base bancando auxiliar

Não se pensava que aconteceria uma ascensão meteórica, nem que ele assumiria o time principal no ano seguinte. Filipe e o Flamengo decidiram começar no sub-17, e o agora técnico montou sua comissão. Trouxe o espanhol Ivan Palanco, que tinha uma remuneração muito boa no Japão, e pagou parte do salário do auxiliar do próprio bolso. Também disse ao clube que não queria receber em um primeiro momento. Depois, passou a ganhar o salário do técnico da sub-17. Nem perto do que recebia como jogador.

Filipe era um atleta privilegiado, que tinha leitura tática e entendimento muito rápido do que os treinadores queriam dentro de campo. A competitividade estava no sangue até o fim. Em seus últimos meses, ouviu de Dorival Júnior que ele teria que jogar apenas uma vez por semana, por causa do desgaste. Aprendeu questões de liderança também com Renato Gaúcho e Tite. No início ficou claro para todos que ainda era muito cru. Ivan ajudou com questões do dia a dia de treinos, de campo, e a evolução foi gradativa, com subida ao sub-20.

Oportunidade e a comprovação da expectativa

Eis que surgiu, antes do esperado, a oportunidade da vida de Filipe Luís. Com a demissão de Tite em 30 de setembro de 2024 — dia seguinte ao mau desempenho na vitória sobre o Athletico, pelo Brasileiro —, o ex-jogador foi convidado para assumir o time principal, levando Ivan e o preparador físico Diogo Linhares, que o acompanharam na base.

Considerado por seus pares um profissional “paranoico”, Filipe chegou com o desafio de passar pelo Corinthians na semifinal da Copa do Brasil. De segunda para quarta-feira, em treinos com vídeo, mudou o posicionamento dos jogadores e a formação ofensiva. Segundo relatos de atletas, ali ficou muito claro que ele seria um grande treinador, pela forma direta e honesta de liderar e tomar decisões duras. O método claro de expor essas ideias para que os jogadores pudessem absorver chamou a atenção, assim como dinâmicas dentro do campo que conseguiam condicionar esses comportamentos de acordo com as ideias táticas.

No jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil contra o Corinthians, o primeiro teste: expulsão de Bruno Henrique aos 27 minutos do primeiro tempo. Ali, Filipe mostrou agilidade de raciocínio e repertório: montou uma linha de cinco na defesa e Arrascaeta foi adiantado para ter posse e desacelerar um pouco o jogo. Deu certo: o rubro-negro conseguiu segurar o empate e avançou à final.

Na decisão, contra o Atlético-MG, o Flamengo venceu no Maracanã por 3 a 1. No jogo de volta, sabia que o adversário marcaria homem a homem o campo todo e baixou um pouco as linhas para explorar o espaço nas costas da zaga. Resultado: 1 a 0 e a taça.

Lema: dedicação de todos

Com o título ao fim de 2024, Filipe foi mantido pela nova diretoria, mesmo não sendo a opção número 1. Em pouco tempo, porém, convenceu a todos de que era o melhor nome. No dia a dia, ele mantém alinhamento total com o diretor José Boto. O português, que já deixou claro que o profissional estará no topo dos melhores treinadores do mundo, entendeu logo a liderança de Filipe sobre o elenco e a sua força junto à torcida.

A gestão do grupo heterogêneo e com nomes de peso se tornou desafiadora. Desde que foi apresentado, Filipe avisou que tomaria decisões que incomodariam alguns atletas. Prometeu encaixar Pedro no time depois de o centroavante voltar de lesão e ainda não conseguiu. Também tentou lançar jovens como Lorran e Matheus Gonçalves, mas só agora vê um cria do Ninho despontar e ter mais espaço: Wallace Yan.

O comandante não abre mão da dedicação. E deixou claro aos jovens e a Pedro que para ter uma vaga no time precisariam fazer o que os demais fazem: jogar com e sem a bola. Tal exigência agora bate à porta de Arrascaeta, que não tem escalação garantida contra o Bayern.

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