Compartilhe

'Lavagem? Aqui é caldeirão de cultura, resistência e orgulho!'

Por Professor Espedito Filho    Segunda-Feira, 23 de Junho de 2025


Diante das palavras infelizes de quem, na superficialidade da ignorância, ousou reduzir a grandiosa culinária nordestina a uma simples “lavagem”, não cabe ao Nordeste se calar. Cabe erguer a voz, com a dignidade de quem carrega no peito a força de um povo que resiste, que cria, que transforma miséria em poesia, pedra em pão, sofrimento em arte.

Darcy Ribeiro, esse gigante da educação e da antropologia brasileira, dizia que o povo brasileiro é uma obra inacabada, uma mistura viva de raças, cores e sabores. E, se somos uma obra viva, o Nordeste é, sem dúvida, seu capítulo mais poético e mais resistente. Porque aqui, a fome virou baião, o suor virou literatura, a dor virou repente e a luta virou festa.

Reduzir nosso alimento — que é herança de indígenas, negros, europeus e sertanejos — a "lavagem", é desconhecer que nosso prato carrega história, identidade e resistência. É não entender que, no Nordeste, o feijão verde, o sarapatel, o mungunzá, a galinha de capoeira, o vatapá, o acarajé e o baião de dois não são só comida. São rituais, são memórias afetivas, são a materialização de uma cultura que nunca abaixou a cabeça para a opressão.

Roberto DaMatta, quando pergunta “Você sabe com quem está falando?”, nos ensina a entender os jogos de poder e as hierarquias que tentam nos impor. Mas aqui, nordestino não abaixa a cabeça. Aqui, a gente responde com a força da nossa arte, da nossa música, da nossa poesia. Porque quem nos chama de lavados, desconhece que somos forjados no barro, no sol e na resistência. Somos gente que transforma pedra em flor.

E é Patativa do Assaré quem melhor responde, lá do alto da sua sabedoria sertaneja:

“Sou fio das mata, cantô sertanejo,
 trabalho, sustento, desprezo o dinheiro,
 nasci no sertão, sou cabra roceiro,
 não nego a minha origem, sou do meu Nordeste inteiro.”

Diante disso, é preciso dizer: nosso Nordeste não é periferia de país, é o centro da brasilidade. Somos a polissemia viva: somos o xote, o repente, o maracatu e o frevo. Somos o cordel e o forró. Somos o coco e a ciranda. Somos a fé e a festa. Somos o mangue e o sertão. Somos cabeça, coração e coragem.

Nosso povo, que aprendeu a conviver com a seca, com o descaso e com o preconceito, nunca precisou da arrogância de ninguém. Porque aqui, no Nordeste, cada prato é um poema, cada cheiro é uma memória e cada sabor é resistência.

A quem nos chama de "lavagem", eu digo com orgulho: somos a lavagem, sim — mas aquela que lava a alma, que purifica a ignorância e que tempera a vida com dignidade, arte e orgulho nordestino.

 

 

« Voltar

FESTA GRANDE

Quarta noite do São João de Patos teve emoção, romantismo e muito forró

OPORTUNIDADE

Prefeitura de Patos-PB publica editais de concurso com vagas para níveis médio, técnico e superior

Veja também...

FESTA GRANDE

Quarta noite do São João de Patos teve emoção, romantismo e muito forró

FESTA GRANDE

Quarta noite do São João de Patos teve emoção, romantismo e muito forró

OPORTUNIDADE

Prefeitura de Patos-PB publica editais de concurso com vagas para níveis médio, técnico e superior