Falar sobre autismo não deve depender de uma data específica no calendário. É um chamado constante à empatia, à inclusão e à responsabilidade coletiva. Em um mundo dividido por condições econômicas e acessos desiguais, enquanto alguns têm regalias e tratamentos de ponta, muitos seguem lutando apenas para sobreviver — e mais que isso, para serem dignos.
O autismo é uma condição que, mais do que médica, é social. E por isso mesmo, é uma questão minha e sua, que me lê agora. É um espelho da nossa responsabilidade coletiva. José Saramago, em seu "Ensaio sobre a cegueira", grita por uma sociedade que veja além dos olhos. E talvez essa seja a nossa tragédia atual: enxergamos, mas não vemos. Somos uma sociedade doente — mas afinal, quem está realmente doente? Aquele que nasceu com limitações ou aqueles que se recusam a compreender o outro?
Somos especialistas em rotular o diferente, mas analfabetos em empatia.
Che Guevara disse certa vez que o mundo seria mais justo no dia em que todas as crianças sentissem dificuldades e conquistassem suas vitórias de maneira semelhante. Isso é democracia real: igualdade nas lutas, dignidade nas vitórias.
A deficiência, seja ela qual for, é uma questão de Estado, sim — mas também de consciência social. Quando um de nós sofre, todos sofremos. Quando uma criança é excluída, uma parte da humanidade se apaga. Ser dependente não é um sinal de fraqueza. É uma das maiores expressões da condição humana. Viver em sociedade é, antes de tudo, cuidar uns dos outros.
Olhar com os olhos é fácil — é ver por uma janela. Mas olhar com o coração é tocar o outro, é sentir sua dor, seu esforço silencioso, suas pequenas vitórias.
E isso é o que mais precisamos: tocar. Sentir. Acolher. Porque nosso futuro será sempre o reflexo do compromisso que assumimos no presente. E se queremos um amanhã mais justo, precisamos cuidar do hoje com olhos, mãos e, principalmente, com o coração.
Espedito Filho - Professor de História, Filosofia e Sociologia
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