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Lula indica Messias ao STF na vaga de Barroso, consolida opção por nomes de confiança

Por O Globo   Quinta-Feira, 20 de Novembro de 2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso. A informação foi confirmada pelo Palácio do Planalto.

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou nesta quinta-feira, 20 de novembro, o nome do Advogado-Geral da União, Jorge Messias, para exercer o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga deixada pelo ex-ministro Luís Roberto Barroso. A oficialização da indicação será publicada em edição extra do Diário Oficial da União", diz nota do Palácio do Planalto.

A escolha consolida a opção por nomes de estrita confiança para a Corte, a exemplo de Cristiano Zanin e Flávio Dino, os outros nomes indicados por Lula neste terceiro mandato. Com Messias, o presidente também faz um gesto aos evangélicos, segmento no qual enfrenta mais rejeição, segundo pesquisas.

Caberá ao Senado aprovar o nome de Messias. O preferido do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para a vaga era o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com quem Lula teve uma conversa nesta semana.

A preocupação com a votação cresceu depois que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi reconduzido na semana passada por margem estreita — apenas quatro votos acima do mínimo necessário. Nos bastidores, líderes da base admitem que só evitaram uma derrota inédita graças a uma operação emergencial que arrancou dois votos da oposição e contou com a articulação direta de Alcolumbre para manter o quórum alto em uma semana de esvaziamento.

Após perder a disputa para Flávio Dino, Messias virou o jogo, se reposicionou no grupo círculo mais próximo ao presidente e se tornou, desde o início da corrida pelo posto, o favorito para terceira escolha de Lula à Corte neste mandato.

Afilhado político da ex-presidente Dilma Rousseff, Jorge Messias percorreu uma trajetória política alinhada ao PT e ao governo. Na descrição de pessoas próximas, foi a lealdade ao partido mesmo nos momentos mais difíceis, ainda que não seja filiado, e a conduta junto a Lula que o cacifaram para a vaga de Luís Roberto Barroso.

Desde que retornou ao Palácio do Planalto, Lula adotou como parâmetro principal para indicações na Corte a relação de confiança e proximidade. Foram esses os fatores determinantes para Zanin e Dino. Com a indicação do advogado-geral da União, Lula nomeou cinco dos 11 titulares da Corte ao longo dos seus três mandatos: Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Dias Toffoli.

Já testado no entorno presidencial, o traquejo político de Messias será posto à prova novamente a partir de agora, quando o ministro passará a buscar apoios no Senado para aprovação do seu nome. Ainda que o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tenha sido o nome favorito da Casa, o governo avalia que não haverá problemas no referendo a Messias. O indicado por Lula precisa ser sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e ter o nome aprovado pelo plenário principal da Casa. São necessários, pelo menos, 41 votos para a aprovação.

Ao assumir o comando da defesa do governo federal na Corte e coordenar as estratégias jurídicas da gestão petista, Messias deu um caráter mais político à AGU e passou a integrar o grupo de ministros que ajudou a costurar soluções para os principais conflitos do governo. Enquanto advogado-geral, Messias se tornou o principal interlocutor de Lula no Supremo, com trânsito entre os 11 ministros.

No final de 2023, foi um dos responsáveis por aproximar Lula e Barroso, quando o magistrado assumiu o comando da Corte. Na época, Messias e o ministro Cristiano Zanin trabalharam para que Lula e Barroso deixassem para trás as rusgas do passado. À frente da AGU, Messias também se aproximou dos ministros Nunes Marques e André Mendonça, dois indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Único ministro evangélico de Lula, Messias é visto dentro do governo como um ativo na aproximação com esse público religioso, o que inclui a participação nas Marchas para Jesus — em uma delas, chegou a ser vaiado ao citar o nome de Lula. Em setembro, conseguiu convencer Lula a dar entrevista ao podcast Papo de Crente ao lado da primeira-dama, Janja da Silva. Como principal interlocutor junto ao segmento, Messias vinha sendo escalado para estar presente em cerimônias mais importantes e receber pessoas ligadas às igrejas.

O indicado de Lula à Corte frequenta a Igreja Batista Cristã em Brasília. No ano passado, foi chamado pelo PT para uma série de vídeos da Fundação Perseu Abramo, com o mote “O que pensam os evangélicos petistas”. Nos vídeos, defendeu que a laicidade do Estado é o que “garante que minha fé seja exercida com tranquilidade”.

 

Desgaste após indicação de Dino

 

O período de maior desgaste de Messias no cargo ocorreu após ter sido preterido por Lula na disputa pela vaga de Rosa Weber em 2023. Na época, Lula chamou os dois auxiliares para anunciar que estava enviando o nome de Dino à Corte. No entorno do presidente, houve uma avaliação de que Messias reagiu mal. Ao longo do ano passado, esse comportamento irritou Lula, e aliados chegaram a afirmar que Messias não teria possibilidade de ser escolhido para uma eventual outra vaga na Corte.

A escolha contrariou interesses de alas do PT e de advogados que fizeram ampla campanha favorável ao chefe da AGU. Na época, Messias chegou a se reunir com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e em um jantar com Movimento Sem-Terra, em São Paulo, o que foi interpretado como movimentos pela vaga de Rosa Weber.

Ao entrar pela segunda vez na disputa por uma vaga no STF, Messias inverteu a estratégia de 2023 e se manteve mais discreto. Manteve a agenda como ministro da AGU e evitou tratar do assunto até mesmo com auxiliares mais próximos.

Pessoas próximas ao ministro viram na postura de Messias um gesto para não constranger o presidente nem afetar a relação com ele, na hipótese de uma segunda rejeição. O comportamento de Messias também envolveu o temor de ser mal interpretado e de dar qualquer sinal a Lula de que estava em campanha pela vaga.

 

Atuação sobre INSS e sanções

 

Em paralelo, Messias virou o jogo nos últimos meses ao atuar em dois dos temas mais sensíveis para o Palácio do Planalto em 2025. O ministro da AGU criou grupo de trabalho que deu solução a crise das fraudes em descontos de aposentados e pensionistas do INSS e construiu o acordo com STF e viabilizar ressarcimento dos beneficiários lesados. Também coube a Messias a contratação de um escritório de advocacia nos Estados Unidos para contestar as tarifas impostas por Donald Trump.

Messias agiu ainda para reconstruir sua relação com Janja. No começo do mandato de Lula, integrou o grupo de auxiliares presidenciais que desaconselhou o petista a criar um gabinete próprio para ela, sob o argumento de que a estrutura viraria alvo da oposição e ponto de desgaste para o presidente.

A postura o distanciou da primeira-dama até que Messias, em março deste ano, passou a compor um “bunker” de proteção a Janja. Na época, a primeira-dama era alvo preferencial de ataques da oposição, motivo pelo qual o governo montou um grupo informal para tentar blindá-la e oferecer uma estratégia jurídica e política. Saiu da AGU um parecer que prevê os limites da atuação do cônjuge do presidente em viagens e cerimônias nas quais represente o governo. Pessoas próximas a primeira-dama afirmam que a Janja reconheceu o gesto de Messias para proteger sua atuação.

Pernambucano de Recife, Messias viveu em Teresina e há duas décadas mora em Brasília. Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (UFPE), é mestre e doutor pela Universidade de Brasília (UnB), onde pesquisou compras governamentais e a AGU.

Messias chegou ao círculo mais próximo de Lula pelas mãos da ex-presidente Dilma Rousseff, do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). É considerado por caciques petistas um quadro fiel ao partido e que não abandonou a legenda nem mesmo nos momentos mais difíceis.

Servidor público de carreira, Messias foi procurador do Banco Central e procurador da Fazenda Nacional. Ao se envolver no movimento sindical das carreiras da AGU, atuou no Ministério da Educação, na gestão de Mercadante, onde foi secretário de Regulação. Foi nesse período que passou a se aproximar de dirigentes do PT.

No governo Dilma, foi subchefe de Assuntos Jurídicos e trabalhava com a ex-presidente em um dos momentos mais delicados do PT no Palácio do Planalto. Na época, teve seu nome nacionalmente exposto por uma interceptação telefônica divulgada na Lava Jato, em uma conversa entre Lula e Dilma, em março de 2016. Na ocasião, Dilma avisou a Lula que enviaria, por meio de “Bessias”, um termo de posse para que ele assinasse e, assim, se tornasse ministro da Casa Civil. A interceptação foi captada depois que o então juiz Sergio Moro havia mandado as operadoras de telefonia interromperem as gravações, o que levou à sua divulgação ser considerada ilegal pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Messias e Dilma nunca se afastaram. A ex-presidente esteve na cerimônia de posse de Messias como ministro da AGU, em 2023, e em um jantar reservado à família e amigos próximos. Em 2019, Messias trabalhou no gabinete do senador Jaques Wagner (PT-BA). Com a vitória de Lula em 2022, obteve papel de destaque já na transição, quando coordenou o grupo dedicado a temas relacionados à Transparência, Integridade e Controle.

Dentro do governo, construiu uma relação próxima com a ministra da Gestão, Esther Dweck, e com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Também tem entre seus principais aliados os ministros da Casa Civil, Rui Costa, da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

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Publicado em Sexta-Feira, 7 de Novembro de 2025
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