
O ex-presidente Jair Bolsonaro negou nesta terça-feira (10), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ter participado de qualquer tentativa de golpe de Estado ou de plano para prender autoridades. Ele admitiu, no entanto, que discutiu com auxiliares e comandantes militares alternativas “dentro da Constituição” para tentar reverter o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva.
“As conversas eram bastante informais, não era nada proposto, ‘vamos decidir’. Era conversa informal para ver se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente atingir o objetivo que não foi atingido no TSE. Isso foi descartado na segunda reunião”, afirmou Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
Bolsonaro durante interrogatório em julgamento da trama golpista — Foto: Antonio Augusto/STF
Segundo o ex-presidente, não havia apoio suficiente para uma ruptura. “Não tinha clima, não tinha base minimamente sólida para fazer coisa”, disse. Ele também negou qualquer plano de prisão de autoridades. “As Forças Armadas, missão legal dada é cumprida. Missão ilegal não é cumprida. Em nenhum momento alguém me ameaçou de prisão.”
Ao ser questionado sobre encontros com o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, Bolsonaro respondeu: “Em hipótese alguma Garnier colocou tropas à minha disposição. Se fôssemos prosseguir com um estado de sítio, as medidas seriam outras”.
Ele também afirmou que tratou com os comandantes de temas como protestos de caminhoneiros e aglomerações em frente a quartéis. Segundo Bolsonaro, a pauta era o uso de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) caso houvesse distúrbios. “Jamais saindo das quatro linhas”, frisou.
Durante o depoimento, Bolsonaro comentou ainda sobre o isolamento que viveu após a derrota eleitoral.
“Conversei sim com militares, de forma isolada, para trocar informações sobre a conjuntura, porque, ministro, quando você perde uma eleição, é um vazio que o senhor não imagina. A gente conhece os amigos exatamente nesse momento. Pouca gente te procura, o pessoal quer distância”, disse. “Esse vazio muitas vezes era preenchido com visita e conversa amigável entre eu e alguns oficiais generais das Forças Armadas.”
Sobre o brigadeiro Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, afirmou: “A gente conversa com as pessoas depois que dá o poder, ou quando perde o poder. Ele foi cuidar da vida dele. Eu nunca convoquei ninguém, foi convidado.”
Bolsonaro é um dos oito réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista, segundo a Procuradoria-Geral da República. O julgamento segue nesta semana no Supremo com os demais depoimentos.
Bolsonaro pede desculpas a Moraes e nega indícios de denúncias contra o ministro
Durante o interrogatório na tarde desta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes por declarações feitas no passado nas quais insinuava, sem provas, que integrantes do Supremo Tribunal Federal estariam envolvidos em corrupção durante as eleições.
A fala ocorreu após Moraes questionar diretamente Bolsonaro sobre uma reunião com embaixadores, na qual ele havia sugerido que ministros da Corte poderiam estar recebendo propina. “Quais eram os indícios que o senhor tinha de que nós estaríamos levando US$ 50 milhões, US$ 30 milhões?”, perguntou o ministro.
“Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”, respondeu Bolsonaro, em tom mais conciliador.
A declaração foi feita diante dos demais ministros da Primeira Turma do STF, durante o sexto depoimento da série de interrogatórios dos réus apontados como integrantes do “núcleo crucial” da tentativa de golpe. Bolsonaro chegou ao plenário dizendo que poderia “falar por horas” se pudesse “ficar à vontade”.
Ao longo da oitiva, no entanto, manteve um tom mais contido, afirmando até mesmo: “Não achei nada” — em referência à negativa de Moraes ao pedido da defesa para exibir vídeos durante o depoimento.
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