Agricultora estuda para conquistar diploma do ensino médio aos 80 anos e inspira filhos

Por Professor Espedito Filho Sábado, 27 de Setembro de 2025
E não, não espere de mim apenas flores, parabéns e discursos protocolares.
Hoje eu não quero aplaudir o óbvio, não quero cantar o coro daqueles que já têm microfones, altares e manchetes.
Quero, sim, atravessar o silêncio.
Quero cutucar a ferida aberta da desigualdade, a mesma que Pierre Bourdieu nos ensinou a ver: a dança invisível dos capitais simbólicos, onde uns acumulam aplausos e prestígio, enquanto outros carregam nos ombros a estrutura de um mundo que nunca os celebra.
Quantas profissões árduas, difíceis, necessárias, não são lembradas?
Sem santos, sem símbolos, sem prêmios, sem mídia.
Enquanto alguns ganham capas de revistas e políticos distribuem “parabéns” aos gritos de seus palanques, o trabalhador que garante água na torneira, luz nos cabos, tijolo no chão, permanece esquecido.
É a mesma lógica que fez de Sansão, em “A Revolução dos Bichos”, um mártir anônimo: “Tenho que trabalhar. Tenho que trabalhar muito.”
E morreu sem honras.
Como tantos trabalhadores morrem hoje, com as mãos calejadas, sem o direito sequer de deixar um nome na história.
E como não lembrar da etnia negra, que construiu o Brasil?
Braços que levantaram igrejas, ferrovias, portos, plantações.
Braços que moldaram a riqueza de um país inteiro, mas que foram empurrados para as margens, acorrentados não apenas pelo aço, mas pelo preconceito que ainda persiste, sussurrando a cada esquina: “Vocês não merecem.”
Pois eu digo: merecem, sim!
Merecem cada grito, cada aplauso, cada altar.
Merecem mais que estátuas mortas de mármore e bronze.
Merecem pão, respeito, salário digno, voz e poesia.
E é por isso que hoje, de peito aberto e em revolta, eu grito:
VIVA O ENCANADOR!
Viva o trabalhador invisível, o carregador de mundos, o artesão do concreto, o construtor de vidas.
Pois é no silêncio dos que não têm capital simbólico que repousa a verdadeira grandeza.
Professor Espedito Filho