Em um dos mais ousados ataques contra a Rússia desde o início da guerra, a Ucrânia destruiu 41 aviões com capacidade nuclear na Sibéria no último domingo (1º) — em uma operação estilo "cavalo de Troia" com drones camuflados em compartimentos escondidos em contêineres, transportados por caminhões que pareciam estar levando carga inofensiva.
A Rússia considerou os ataques da Ucrânia, chamados de Operação Teia de Aranha, como um ato terrorista.
O ataque surpreendeu pelos locais, a mais de 4.000 km do front da guerra, e pelo método de ação inédito na guerra entre Ucrânia e Rússia.
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, os drones danificaram aviões e causaram incêndios em quatro bases aéreas da região de Irkutsk, a 4.300 km da Ucrânia e próximo da Mongólia, e em cidades do norte russo, como Murmansk.
Diferentemente de mísseis, que podem ser substituídos com facilidade, os aviões não devem ser repostos tão cedo pela Rússia.
Segundo o jornal "Financial Times", citando a inteligência ucraniana, os ataques causaram mais de US$ 7 bilhões em danos, e 34% da frota de aeronaves estratégicas de transportes de mísseis foi atingida.
Conheça os modelos destruídos pelo ataque ucraniano:
Aeronave Beriev A-50 de fabricação russa — Foto: Sergey Lutsenko, Timofey Nikishin/Mil.ru/Wikimedia Commons
O modelo é originalmente um Il-76, fabricado pela companhia soviética Ilyushin, convertido para atuar como um sistema aéreo de alerta e controle, uma espécie de centro de comando voador.
O A-50, modificado pela empresa Beriev, voou pela primeira vez em 1978 e colocado em serviço em 1985. Estima-se que cerca de 40 modelos do tipo tenham sido fabricados até o fim da produção, em 1992.
Essas aeronaves são conhecidas como AEW&C (sistema aéreo de alerta e controle inicial, na sigla em inglês). Elas costumam carregar um grande radar preso à fuselagem que, em altitude, pode detectar aviões, navios, veículos e até mísseis hostis a longa distância.
As AEW&C também funcionam como centros de comando que coordenam ações militares aéreas.
A perda dessas aeronaves prejudica a capacidade da Rússia de monitorar o espaço aéreo e gerenciar a defesa aérea de forma eficaz.
Aeronaves Tupolev Tu-22M3 da Força Aérea Russa — Foto: Alexander Beltyukov/Wikimedia Commons
Um modelo idealizado pela Tupolev no fim dos anos 1960, perto do auge da Guerra Fria, o Tu-22M é um bombardeiro supersônico de longo alcance, capaz de atingir mais de 2.300 km/h, cerca de duas vezes a velocidade do som.
A aeronave esteve em produção entre 1972 e 1993, com nada menos que 497 unidades fabricadas. No entanto, segundo a Inteligência ucraniana, a Força Aérea Russa teria apenas 27 dessas aeronaves em condição de operar antes do ataque do último domingo.
O Tu-22M já foi usado em missões de ataque ao território da Ucrânia e desempenha um papel importante na capacidade da Rússia de exercer poder além de suas fronteiras.
Tupolev Tu-95 voa em Moscou durante parada militar — Foto: Sergey Kustov/Wikimedia Commons
O Tu-95 é um bombardeiro estratégico que cruza os céus há mais de 70 anos: seu primeiro voo foi realizado em 1952, sendo que ele entrou em operação quatro anos depois.
A aeronave é um turboélice equipado com quatro motores Kuznetsov NK-12, capazes de atingir uma velocidade comparável à dos jatos modernos. Cada um deles conta com duas hélices que giram em sentidos contrários.
Nos anos 1950, a União Soviética pediu a seus fabricantes de aeronaves um bombardeiro capaz de carregar até 11.000 kg de material bélico até o alvo, com autonomia de voo de 8.000 km sem necessidade de reabastecimento.
As exigências tornavam o avião capaz de decolar do território soviético, atacar alvos estratégicos nos EUA e retornar à base.
Seu uso mais conhecido foi o carregamento de artefatos nucleares ativados — foi um Tu-95 o responsável por lançar, em um teste no Ártico, a Tsar Bomba, o artefato nuclear mais poderoso já explodido na história.
Passada a Guerra Fria, o Tu-95 foi modernizado e também participou de ataques à Ucrânia.
Aviões destruídos em ataque ucraniano — Foto: Gabriel Silva/Editoria de Arte g1
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