No auditório da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o nome de Vladimir Dantas foi chamado entre tantos outros estudantes de direito. Quando subiu ao palco, no dia 17 de junho de 2025, ele não era apenas mais um formando. Aos 72 anos, encerrava uma espera de meio século e cumpria uma promessa feita ao pai.

A história de Vladimir começou em 1974, quando ele ingressou no curso de direito. O país vivia sob a ditadura militar, e a violência política atravessou sua vida pessoal. O pai foi preso várias vezes, sofreu torturas e perdeu a estabilidade financeira, o que levou a família a enfrentar anos de dificuldade.

Estudante de 72 anos se forma em Direito na UFPB após 50 anos.. Reprodução / TV Cabo Branco

Quatro anos depois, Vladimir interrompeu a graduação. Casado, precisou trabalhar para sustentar a casa, enquanto a esposa seguia estudando.

“Meu pai teve várias prisões e, principalmente, foi destruída toda a economia dele. Isso estabeleceu uma dificuldade muito grande de sobrevivência. Eu trabalhava para manter a família, enquanto minha esposa estava na universidade. Não dava para fazer os dois”, recorda.

O último conselho do pai

O tempo passou, as décadas se acumularam e Vladimir já não pensava em voltar para a sala de aula. Mas em 2015, pouco antes de morrer, pai deixou um último pedido: que ele concluísse a graduação.

“A primeira coisa que ele me falou foi: ‘vá e termine seu curso de direito’. Ele sempre dava esse estímulo e dizia para eu estudar”, contou.

Foi essa lembrança que reacendeu nele a vontade de concluir a graduação. O primeiro pedido administrativo para retornar ao curso foi negado. Mas Vladimir recorreu ao Conselho Universitário da UFPB e teve a reintegração aprovada por 80% dos votos. Além disso, as disciplinas feitas nos anos 70 ainda puderam ser aproveitadas.

“Eu não tinha perspectiva de ter essa aprovação. Comecei no mesmo ano, já vim aqui no segundo semestre e me matriculei”, disse.

Conclusão da jornada não foi fácil

O recomeço não foi fácil. Entre colegas de idade muito diferente da sua, Vladimir encarou trabalhos, provas e a rotina de estudos. O novo ciclo acadêmico levou mais de nove anos até a conclusão, com interrupções, inclusive durante a pandemia do Covid-19.

O esforço teve fim em 2025, com a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso, orientado pelo professor Enoque Feitosa. “Foi uma experiência muito positiva, para nós professores e para o próprio Vladimir. Isso não é tarefa simples, mas foi feito com leveza. Para aprender, para ter conhecimento, não existe idade. Sempre é tempo de aprender”, afirmou o orientador.

Para Vladimir, a formatura foi mais que um diploma. “Um processo de felicidade que foi sendo construído e chegou a uma conclusão muito positiva”, descreveu.

E agora, já bacharel em direito, Vladimir tem planos. Ao lado dos filhos e irmãos, está criando o Instituto de Desenvolvimento Antônio e Tereza, que pretende oferecer serviços jurídicos à comunidade.