Turismo sustentável impulsiona desenvolvimento e muda percepção sobre o Sertão paraibano
Por Assessoria Sexta-Feira, 21 de Novembro de 2025
O turismo sustentável tem ganhado força no Alto Sertão da Paraíba por meio do projeto Rotas do Sertão, desenvolvido pela ONG Pisada do Sertão, em parceria com prefeituras e instituições locais. A iniciativa busca estruturar roteiros turísticos, qualificar moradores e criar bases de governança para transformar a atividade em motor de desenvolvimento econômico, social e cultural na região.
Coordenador da área de Turismo da organização, o pedagogo José Veríssimo explica que o projeto nasce do desejo de ampliar alternativas de renda e promover um novo olhar sobre o território. “O Rotas do Sertão foi criado para promover o turismo sustentável no Alto Sertão, favorecendo o desenvolvimento territorial e econômico das comunidades”, afirmou.
Com cerca de cinco meses de execução, o projeto já realizou capacitações em condução turística, hospedagem, artesanato, culinária regional e governança. As atividades envolveram moradores de cinco municípios, que passaram a compreender o turismo como uma possibilidade real — e não como uma ideia distante, como muitas vezes ocorre em regiões rurais. “Um resultado que conseguimos apontar é despertar nas pessoas a percepção de que o turismo no Sertão não é uma utopia, mas uma possibilidade concreta”, afirmou Veríssimo.
Segundo ele, a mudança de mentalidade tem ajudado moradores a se enxergarem como empreendedores em uma cadeia produtiva que começa a se organizar. Em algumas turmas, participantes já demonstram interesse em formalizar pequenos negócios para atuar na recepção de visitantes, produção de alimentos e condução de roteiros. “Vejo pessoas decididas a atuar como microempresas, como condutores ou produtores de experiências que vão além da vizinhança”, disse.
O avanço do projeto também estimulou parcerias com secretarias de cultura e turismo, resultando em uma mobilização inédita nos municípios. Em algumas cidades, onde sequer havia conselho ou secretaria estruturada, o Rotas contribuiu para que a gestão organizasse documentos e processos necessários para integrar o Mapa do Turismo Brasileiro, etapa essencial para acessar políticas públicas e recursos para o setor.
A iniciativa é fortalecida por outra frente de atuação da Pisada do Sertão: o projeto Sertão: Território Criativo, previsto para começar em 2026. Ele terá um escopo mais amplo, com impacto estimado em 1.550 pessoas diretamente e cerca de 30 mil indiretamente. A proposta inclui formações em economia criativa, audiovisual, festivais, educação patrimonial e laboratórios de inovação, além de integrar artistas e produtores culturais aos roteiros turísticos. “O Território Criativo vai aprofundar a articulação entre cultura, tecnologia e turismo, inserindo a produção artística como eixo dos roteiros”, afirmou Veríssimo.
A construção do turismo no Sertão, no entanto, exige outro componente fundamental: a educação ambiental. Como a proposta é baseada no turismo de base comunitária e de experiência, é preciso preparar o território para receber visitantes sem comprometer vegetação, trilhas, recursos hídricos e práticas tradicionais. “A educação ambiental precisa começar com quem é do território para que, depois, possamos formar visitantes que respeitem o lugar”, explicou. A metodologia inclui formação de professores, produção de cartilhas e criação de agentes de turismo sustentável, que atuarão na preservação dos roteiros e na sensibilização da comunidade.
Entre os desafios enfrentados pela iniciativa estão a falta de investimentos públicos e privados, as desigualdades sociais e o estigma histórico que ainda vincula o Sertão à seca e à pobreza. Para Veríssimo, romper essa narrativa é parte essencial do trabalho. “É preciso mostrar uma outra face do Sertão, contrária ao que sempre foi dito. Um território criativo, potente e acolhedor”, afirmou.
Mesmo com as dificuldades, os resultados iniciais mostram avanço no sentimento de pertencimento e na compreensão do turismo como oportunidade econômica. Veríssimo explica que, embora o projeto ainda esteja na fase de sensibilização e qualificação, ele já percebe uma transformação no modo como os moradores enxergam a atividade. “No começo, eles tinham um olhar de esperança tímida. Agora, já percebo verdade quando falam de turismo e de desenvolvimento do Sertão”, disse.
Para o coordenador, ver o Sertão sendo reconhecido pela criatividade e pelas potencialidades culturais e naturais é mais do que uma meta profissional — é um sentimento pessoal. “Eu sou apaixonado pelo meu lugar e pelas pessoas desse chão. Saber que o território poderá ser visto pelo que realmente é, e não pelo estigma que carregou, será uma realização e uma sensação de dever cumprido”, afirmou.