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Especialistas detalham limite seguro de internet para crianças e adolescentes

Por GShow   Domingo, 17 de Agosto de 2025

Uma brincadeira comum entre crianças que cresceram até os anos 1990 consistia em formar uma fila com peças de dominó e, ao final, derrubá-la com um toque, gerando um movimento em cadeia, finalizado quando todos os itens dessa pequena organização caíssem. Assim surgiu a expressão "efeito dominó", que, trazida para a vida adulta, pode ser exemplificada pela sucessão de acontecimentos gerados pelo vídeo "Adultização", produzido, narrado e compartilhado pelo influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, o Felca, nos primeiros dias de agosto.

No conteúdo, que ultrapassou 40 milhões de visualizações em dez dias, o paranaense denuncia o influenciador paraibano Hytalo Santos por exploração de menores e alerta sobre os riscos das redes sociais para crianças e adolescentes. A viralização do material fez com que políticos planejassem votar propostas que tornem o mundo virtual mais seguro e também deu voz a especialistas, que alertam pais, mães e responsáveis por menores de idade sobre os riscos das redes sociais para crianças e adolescentes.

Influenciador digital Felca compartilhou vídeo que alerta para perigos das redes sociais para crianças e adolescentes — Foto: gshow/Juliana Hippertt

Influenciador digital Felca compartilhou vídeo que alerta para perigos das redes sociais para crianças e adolescentes — Foto: gshow/Juliana Hippertt

"Por muito tempo, encontramos maneiras de proteger as crianças, até que, com a criação da internet, muitos acharam que ali elas estariam seguras. Ledo engano! Nós as colocamos para navegar em mar aberto, sem supervisão, sem boia caso se afoguem, sem direção", opina o psiquiatra do hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, Jonathan Marcolini.

 

Na opinião do médico, menores de 14 anos só deveriam usar celulares com aplicativos limitados e sem acesso livre à internet, especialmente, se não houver supervisão de um adulto. Ele alerta também que, embora a idade mínima para criar uma conta em grande parte das redes sociais seja 13 anos, especialistas aconselham que essa iniciação aconteça somente a partir dos 16 anos.

 

Para especialistas, crianças e adolescentes não deveriam usar internet sem supervisão de um adulto — Foto: Freepik

Para especialistas, crianças e adolescentes não deveriam usar internet sem supervisão de um adulto — Foto: Freepik

É na adolescência que nosso cérebro passa por um processo importante de 'reprogramação', o que chamamos na neurociência de processo de poda seletivo de neurônios e processo de mielinização. É como um cimento fresco que vai endurecendo de acordo com as formas que traçamos, no qual consolidamos o que aprendemos e descartamos o que não foi utilizado. Pode parecer tarde, mas não queremos o cérebro das crianças num meio potencialmente prejudicial, antes desse processo".

— Jonathan Marcolini

 

Manual para uso de telas

 

Em 2020, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um manual com orientações sobre uso de telas e internet. O documento esclarece que: crianças de até dois anos de idade não sejam expostas às telas sem necessidade, nem que seja passivamente. Já os pequenos, entre 2 e 5 anos de idade, devem utilizar telas por no máximo uma hora por dia, tempo que passa para duas horas para crianças entre 6 e 10 anos de idade. Entre 11 e 17 anos, o máximo são três horas, período que inclui também o uso de vídeo game.

Criança menores de dois anos não devem ser expostas a telas — Foto: Reprodução/Internet

O manual orienta ainda que sejam criadas regras saudáveis para a utilização de equipamentos eletrônicos, o que inclui não usá-los durante as refeições e nem passar a madrugada logado. Não permitir que crianças e adolescentes fiquem isolados em quartos com televisão, computador, tablet, celular, smartphones ou com uso de webcam, especialmente sem supervisão, é outro conselho do tratado.

 

Vida real

 

Para Isabel da Silva Kahn Marin, psicóloga, professora e pesquisadora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), nas áreas de infância, adolescência e família, é essencial salientar que, assim como pais escolhem os livros que a criança deve ler, é fundamental fazer a curadoria do que os filhos consomem na internet. "Não tem sentido uma criança na pré-puberdade ter conta em redes sociais".

Crianças e adolescentes não devem ficar isolados diante de uma tela, segundo especialistas — Foto: Pexels

Crianças e adolescentes não devem ficar isolados diante de uma tela, segundo especialistas — Foto: Pexels

"É uma idade na qual estar com os amigos, descobrindo o mundo, sem ser virtualmente, perdendo e ganhando numa interação não-virtual é essencial. Na primeira infância, esses contatos presenciais são importantíssimos, mas sempre mediados por um adulto", pontua ela, acrescentando que o problema não é a tecnologia, mas, sim, o uso indiscriminado de tablets e celulares, sem a supervisão de adultos.

Marcolini aponta que o uso descontrolado de telas por crianças e adolescentes está associado a diversos problemas de saúde mental, entre os quais: maiores índices de ansiedade; depressão; problemas de atenção; baixa autoestima, causada por excesso de comparação com o irreal; atenção fragmentada; menor desenvolvimento de habilidades sociais e resolução de problemas; isolamento social; comportamento de risco e; até a adultização infantil, quando se trata de redes sociais. "A lista é longa, mas talvez muitos ainda não tenham se dado conta disso", lamenta.

Pais devem pensar em formas de ter tempo de qualidade com os filhos — Foto: Pexels

Pais devem pensar em formas de ter tempo de qualidade com os filhos — Foto: Pexels

A boa notícia é que, na maioria dos casos, ainda é possível reverter a situação, o que envolve planejamento a longo prazo e, principalmente, comprometimento dos responsáveis por crianças e adolescentes. Debates e estratégias coletivas que visem ao entendimento de adultos em relação aos perigos existentes na internet como um todo e, especialmente, nas redes socais para crianças e adolescentes são vistas pelo psiquiatra como parte importante desse processo.

 

Isabel reforça que os pais devem ter controle sobre o que os filhos consomem, evitando que haja acesso a conteúdos inapropriados, incluindo pornografia infantil e desafios virtuais, por exemplo. "Se os adultos de casa se relacionam só pela internet, se na hora do almoço está cada um no seu celular em vez de estar interagindo, isso é péssimo".

 

Os pais devem colocar limites. É difícil, a criança vai reagir, argumentar, mas você tem que ter consistência naquilo que está fazendo. Não basta sustentar o lugar de autoridade, é necessário ser mais presente na vida dos filhos, conversar, criar outros recursos para que a criança e o adolescente possam se divertir. Ser adulto às vezes é ser chato, mas ele conhece, sabe e é responsável pelo bem-estar dos seus filhos. Não dá para abrir mão disso".

— Isabel da Silva Kahn Marin

Vale, portanto, a máxima do "básico bem feito", como fizeram questão de salientar Marcolini e Isabel: o exemplo dos pais, mães e responsáveis ensina muito mais às crianças e adolescentes do que a simples proibição do uso de telas. Qualidade de tempo ainda é o pote de ouro no fim do arco-íris das relações familiares.

Interação familiar é fundamental durante infância e adolescência — Foto: Freepik

Interação familiar é fundamental durante infância e adolescência — Foto: Freepik

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