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Nesta quarta-feira (31), completa um ano da primeira morte por Covid-19 em Patos e na Paraíba

Por Vicente Conserva - 40 Graus com G1 Paraíba    Quarta-Feira, 31 de Março de 2021


Hoje, quarta-feira, 31 de março de 2021, completa-se exatamente um ano do primeiro óbito confirmado pela Covid-19 em Patos e na Paraíba. Depois disso, a pandemia de coronavírus se transformou numa assustadora realidade que já matou 5.671 paraibanos e que infectou 257.620 em todos os 223 municípios do estado.

Em Patos, apenas um ano atrás, contudo, a realidade era bem diferente. No Sertão paraibano, poucas pessoas acreditavam que a doença seria tão devastadora. Hoje já contabiliza 170 óbitos dos 11.078 infectados.

O empresário patoense Danyllo Figueiredo de Andrade, de 36 anos, foi a primeira vítima fatal na cidade e no Estado. Ele estava acima do peso, era diabético, possuía asma. Apesar de ter apenas 36 anos, tinha comorbidades. Estava dentro do grupo de riscos. E num período de protocolos médicos não tão bem definidos, é difícil ter certeza em que momento ele contraiu a doença. Sabe-se, contudo, que os primeiros sintomas surgiram por volta do dia 21. E, apenas dez dias depois, em 31 de março, ele se tornava o primeiro óbito provocado pelo novo coronavírus confirmado em território paraibano.

A cronologia de uma tragédia

Mas, de repente, a Secretaria de Estado da Saúde confirmava o primeiro caso local. Alane Amanda de Oliveira Silva, 31 anos de idade, companheira de Danilo, assim rapidamente entrou em home office. Isolou-se em casa. Danyllo, por sua vez, precisava circular entre as farmácias que possuía para administrar os negócios. Tomava cuidado, tentava se higienizar, mas em 21 de março começou a sentir febre e dores de cabeça e no corpo. Ainda assim, ninguém acreditava que poderia ser Covid-19.

Danyllo, então, procurou uma médica. Ele foi atendido e a profissional receitou uma medicação. Ele tomava, melhorava, ia trabalhar. Ao fim do dia, voltava com todos os sintomas de novo. Os problemas não davam sinais de que iam passar.

“Estávamos bem e de repente ele começou a ficar doentinho”, relembra com afeto. “Foi tudo muito repentino. Ainda não tínhamos a menor noção do que seria”.

Nos dias seguintes, Amanda cada vez mais tentava convencê-lo a se proteger mais, a desacelerar, a tentar se cuidar com mais atenção. Ele resistia. Não acreditava que seria algo tão grave. Seguia em frente. Isso, até o quinto dia, quando, no final da manhã, assumiu. Estava exausto, com sintomas cada vez mais fortes. Pediu para ir ao hospital.

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“Vesti uma roupa e, quando cheguei na sala, ele estava encostado no sofá, ofegante. Perguntei: ‘Você está puxando o ar, é?’. Ele me abraçou e começou a chorar, com medo”, resgata Alane Amanda de Oliveira Silva tinha 31 anos de idade, companheira de Danilo.

Era quarta-feira, 25 de março de 2020. Amanda levou o companheiro para o Hospital Regional de Patos. Chegaram ao local por volta de 13h30. Na triagem, ele estava sangrando pelo nariz. O hospital não quis interná-lo porque acreditou ser outro problema e a unidade hospitalar não dispunha dos equipamentos necessários para os exames. Uma hora depois, eles adentravam no Hospital São Francisco, da rede privada.

A falta de protocolo definido era um problema evidente. Amanda relembra que as primeiras suspeitas foram de câncer no pulmão. Mas, para ela, aquilo não parecia fazer muito sentido. Ela e os irmãos de Danyllo entraram em contato com médicos amigos em João Pessoa. Mostraram uma foto de uma radiografia do pulmão dele. Rapidamente, mandaram que fosse transferido para a capital do estado.

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Isso só aconteceu no dia seguinte. Saíram de Patos às 9h do dia 26 em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Amanda o acompanhava. Danyllo ia deitado numa maca, consciente, ainda que com dores, febre e muito mal-estar, perguntando a cada momento se eles já estavam perto do destino final.

O desespero, no traslado de ambulância, era cada vez maior: “Teve uma hora que ele olhou para mim e me perguntou: ‘É aquela doença, não é?’. Eu tentei tranquilizá-lo. Disse que não era, que ia ficar tudo bem. Mas era”, prossegue Amanda.

Patos e João Pessoa estão separados por 315 km pela BR-230. É uma viagem que dura normalmente 4h30. Mas, no desconforto de uma ambulância, parando de tempos em tempos para trocar o cilindro de oxigênio, com as dores do marido, a viagem foi muito mais longa do que se supunha. E, para piorar, quando eles já estavam na capital paraibana, Danyllo começou a desfalecer.

Aquele momento é um instante que estará para sempre na memória de Amanda. Ela conta que chegaram ao Hospital Universitário Lauro Wanderley e rapidamente o colocaram numa maca. Ela o seguia de perto. Seria a última vez que o veria com vida.

“Ele tinha uns olhos verdes bem bonitos. Naquele instante, olhou para mim com olhos expressivos. Um olhar de quem pede para que não seja abandonado. Eu ficava repetindo para que ele fosse forte e corajoso, mas a verdade é que eu já não sei se ele conseguia me ouvir”.

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Danyllo demorou pouco no HU de João Pessoa. Exames demonstraram que ele já estava com 80% dos pulmões comprometidos. E mesmo com exames ainda não conclusivos, já começaram a tratar como sendo um caso de Covid-19. Ele precisou ser entubado. E, à noite, transferido para o Hospital Clementino Fraga, referência do estado para doenças infecciosas.

A nova transferência foi a primeira sob protocolos realmente corretos. Mas isso teve um lado devastador para Amanda, já que ela não estava preparada para a cena. Equipes totalmente protegidas, com equipamentos que cobriam todo o corpo dos profissionais. Movimentos rápidos e por um percurso de total isolamento, sem que fosse possível ninguém chegar perto. Às 19h30, ele entrava na unidade hospitalar de onde não sairia mais vivo. Por uma entrada traseira, longe dos olhos dos familiares.

Só várias horas depois, tarde da noite, a equipe médica do hospital confirmava que a situação era muito grave e determinava que Amanda e os familiares de Danyllo deveriam deixar o hospital e também eles ficarem em isolamento, já que poderiam estar contaminados. Danyllo resistiu por cinco dias. No dia 31 de março, Amanda receberia o telefonema definitivo.

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