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O bolsonarismo raiz é menor do que a gente imagina, diz cientista política

Por Carta Capital    Segunda-Feira, 23 de Agosto de 2021


Eleitores que votaram no presidente Jair Bolsonaro em 2018 e se arrependeram com o governo não devem repetir a escolha em 2022 mesmo que o adversário seja o ex-presidente Lula. Essa é uma das conclusões da pesquisa qualitativa "Bolsonarismo no Brasil", que foi divulgada na sexta-feira 20.

O estudo, realizado pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, também mostra que o atual presidente perdeu a maior parte do apoio que a elegeu na última eleição e que o bolsonarismo raiz, composto por eleitores fieis do mandatário, é menor do que parece.

Para a cientista política Carolina de Paula, uma das coordenadoras da pesquisa, embora seja um candidato competitivo, Bolsonaro terá dificuldade de se reeleger. "Os eleitores que se arrependeram são muito frustrados. Não há um retorno ou algo que possa ser feito para que elas votem no Bolsonaro de novo", afirma.

Muitos dos arrependidos, revelam uma pesquisa, devem votar em Lula. "Na pesquisa, aparecem pessoas que chegaram a votar no PT antes e depois no Bolsonaro, mas logo se arrependeram. Hoje, olha com um sentimento de nostalgia para o passado", diz.

"Elas comparam o passado, que era bom, com acesso aos serviços, à educação e à comida com o presente que tem inflação. A gente percebeu que o cenário atual é muito negativo na avaliação das pessoas e isso favorece muito o Lula", acrescenta.

De acordo com a pesquisadora, é muito cedo para afirmar que o bolsonarismo, como fenômeno político, seja duradouro. "É difícil pensar o bolsonarismo como algo consolidado e que veio para ficar", declara. "O público fiel é muito reduzido", esclarece.

Ainda segundo Carolina, o ponto principal de inflexão dos apoiadores do presidente foi a gestão da pandemia. "A questão das vacinas, o descaso com a pandemia e o deboche com os mortos, tudo isso prejudica muito o Bolsonaro", aponta.

Além de Carolina, a pesquisa foi realizada por João Feres, coordenador do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, Walfrido Warde Jr. e Rafael Valim, ambos do Iree.

Leia a entrevista completa:

CartaCapital: O bolsonarismo veio para ficar?

Carolina de Paula: É muito precoce fazer essa afirmação. Quando optamos por fazer grupos de pessoas que se arrependeram do voto era para sentir o quanto o bolsonarismo é um fenômeno, como no lulismo, mais estável. O que percebemos é que é muito cedo para afirmar que é algo duradouro e enraizado.

Os eleitores que se arrependeram são muito frustrados. Não há um retorno ou algo que possa ser feito para que elas votem no Bolsonaro de novo e o público é muito reduzido. Portanto, é difícil pensar no bolsonarismo como algo consolidado e que veio para ficar.

CC: Esses eleitores não são ideologicamente de direta e conservadores?

CP: O que a gente percebeu com a pesquisa é que a questão dos valores motivou uma parcela muito pequena do eleição do Bolsonaro, justamente aquela que tem a questão religiosa muito forte, os evangélicos.

CC: O que levou esses eleitores que não são conservadores ao extremo a optar por Bolsonaro em 2018?

CP: Podemos afirmar com certeza que foi o antipetismo, o ódio a Lula e o sentimento antipolitica, que estavam muito fortes. Agora, uma pandemia traz um pouco o elemento da necessidade de voltar a acreditar na política.

CC: E por que o Lula lidera como intenções de voto?

CP: Na pesquisa, aparecem pessoas que chegaram a votar no PT antes e depois no Bolsonaro, mas logotipo se arrependeram. Hoje, olha com um sentimento de nostalgia para o passado [no tempo em que o PT era governo].

Elas comparam o passado, que era bom, com acesso aos serviços, à educação e à comida com o presente que tem inflação. A gente percebeu que o cenário atual é muito negativo na avaliação das pessoas e isso favorece muito o Lula.

CC: Sem bolsonarismo raiz, o que é preponderante: a questão militar ou a religiosidade?

CP: É uma mistura, mas a questão religiosa é muito forte. Quando discutimos a questão dos militares, mesmo no grupo religioso, a gente não vê pessoas mais extremadas, que querem ditadura.

Na verdade, o que as pessoas mais levam em conta no discurso bolsonarista é a questão da família. Este é um ponto interessante que a esquerda deve pensar para a campanha. Como as pessoas têm a ideia de que a esquerda não se preocupa e não tem valores de família, enquanto Bolsonaro tem. Isso colou e entrou no imaginário. E não tem nada claro do que esses eleitores querem quanto a isso. É só o imaginário mesmo de que Bolsonaro é da família.

CC: É viável a esquerda reconquistar esse segmento?

CP: O fiel raiz, que está com o Bolsonaro e que odeia o PT, é bem difícil. Mas eu não diria impossível, porque são pessoas de classes mais baixas que são afetadas pelo desemprego, Se ele piorar muito, pode ser que isso se reverter.

O mais provável, no entanto, é que o eleitor que não é tão apaixonado por Bolsonaro seja conquistado. Tem algumas pessoas que são religiosas que não gostam das atitudes grosseiras e desamsesas do presidente. É um eleitor que pode se estabelecer um diálogo.

CC: Sem embate entre ideologia e economia, quem leva?

CP: Pelo momento que vivemos, não estamos mais naquele clima de 2018 de antipolitica, porque o impacto da pandemia veio. Acredito que a questão econômica vai ser muito importante, pois as pessoas estão passando por essa crise e não se recuperam ainda. O contexto de pandemia vai favorecer a questão econômica.

CC: Com o bolsonarismo raiz, o presidente é um candidato viável em 2022?

CP: Sim, pois há muitos eleitores dizem que podem acontecer qualquer coisa que eles votaram no Bolsonaro mesmo assim. Nós não conseguimos nem imaginar o que Bolsonaro poderia fazer para tirar o apoio desse eleição mais raiz. Tem uma fatia do que é extremamente conservadora e pensa assim. O que a pesquisa revela é que é menos do que a gente imaginava.

CC: Essas pessoas, antes do Bolsonaro, votavam em quem?

CP: Muitas delas votam no PT por muito tempo. Não eram pessoas que odiavam o PT. São pessoas que foram muito motivadas. Alguns dizem que foram se decepcionando com o PT após o mensalão. O ponto de virada mesmo foi a Lava Jato, pois Bolsonaro conseguiu pegar essas pessoas que acreditam que o PT e o Lula tinham destruído o País.

CC: E por que há muitos eleitores de Bolsonaro arrependidos?

CP: As pessoas imaginárias que sujeito meio grosseiro era um personagem de campanha. E tinha a questão da facada que o deixou recluso, sem aparecer. Muitos eleitores imaginários que ele se adequaria à liturgia do cargo, que faria política e governaria bem. Essas pessoas se decepcionaram logo no começo. O que é definitivo é a questão das vacinas, o descaso com a pandemia e o deboche com os mortos. Isso é preconceituoso muito o Bolsonaro.

Leia a pesquisa na íntegra:

BOLSONARISMO_NO_BRASIL (1)
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