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Empresários apostam na criatividade pra driblar seca e garantir empregos na PB

Por Portal Correio    Domingo, 15 de Abril de 2018


O forte e longo período de estiagem na Paraíba tem provocado prejuízo em praticamente todos os vetores da economia do Estado, seja ele na Agricultura, Agropecuária ou Indústria. No entanto, há vários exemplos que mostram que, mesmo com pouca água, a economia pode continuar sendo movimentada.

Magno Rossi, vice-presidente da Federação das Indústrias da Paraíba, afirma que todo o setor industrial teve perdas, porém ainda não sabe quantificá-las. “A seca compromete a Agricultura, que também faz parte da cadeia produtiva da indústria, assim como a necessidade da água para a produção”, conta. De acordo com ele, nas regiões mais afetadas pela estiagem as empresas tiveram que buscar outras fontes de abastecimento e reduziram a produção, já que não podiam como mudar a localidade, em função de os funcionários morarem perto, tiveram que se adaptarem, utilizando-se de poços artesianos, caminhões pipas.

Fábricas como a do Iogurte Ísis, em Sousa, uma das cidades mais atingidas pela seca, tiveram que se adaptar para não fechar as portas ou diminuir a produção. Com a Agricultura prejudicada, o rebanho diminuiu em função também da falta de alimento para o gado, consequentemente, a produção de leite teve queda.

Segundo Wescley Santos, coordenador de política leiteira da empresa, foi criada uma política de gestão nas propriedades, onde se adotou o cultivo da palma para alimentação dos rebanhos, o que gerou uma menor utilização de água e ajudou a equilibrar os recursos hídricos.

Eronildo Cordeiro, gerente industrial da fábrica, afirmou que a implantação de poços artesianos e de um processo de dessalinização da água através de osmose reversa, gera uma perda de 20% a 25% da água tratada, mas que é utilizada nas lavouras, fazendo com que não houvesse quase desperdícios. A necessidade do líquido no local é muito grande, pois existe também todo um processo de higienização que utiliza cerca de 200 mil litros ao mês. Já a solução para a queda de produção de leite, matéria prima essencial para a elaboração de iogurtes e laticínios produzidos pela empresa, foi a utilização de leite em pó com a água tratada.

Moldada na sustentabilidade

Em Patos, o empresário Giovane Araújo idealizou sua empresa há dois anos, porém somente há dois meses inaugurou a Vice & Verso, que produz uniformes esportivos. O prédio onde funciona o empreendimento, em função da seca, foi todo estruturado para ser auto-sustentável, principalmente no que tange à questão da água. “O telhado foi construído de um modo que toda a chuva que dá, o líquido é coletado, sendo armazenado numa cisterna de 40 mil litros. Além disso, existe mais um poço artesiano com capacidade para outros 40 mil litros”, afirmou o empresário.

Segundo ele, todo o sistema irriga uma horta no telhado, que faz com que reduza o ambiente em seis graus, dispensando a necessidade de utilização de ar condicionado, “reduzindo os gastos com energia, que é economizada também na luz, já que o prédio tem aberturas estratégicas que possibilitam a entrada de luz solar”, diz. Segundo Araújo, a água não é potável, mas é suficiente para ser utilizada no telhado verde, nas hortas espalhadas pelo prédio e nos banheiros, o que já é de grande valia, pois o processo de produção dos uniformes é feito todo a seco e o consumo de água potável restringe-se ao consumo dos funcionários e à cozinha. O proprietário diz que toda a produção de frutas, legumes e folhas é distribuída entre os funcionários e até clientes. “Quase nada se perde aqui”.

Umbu sustenta família

Em Juazeirinho, Maria Eunice Evangelista do Nascimento, 60 anos e a família formada por 10 pessoas celebram as chuvas que a fizeram economizar R$ 280, valor gasto para comprar cinco mil litros de água que os caminhões pipa levavam todos os meses.

Vivendo de Bolsa Família e de atividades rurais e da aposentadoria do companheiro Cícero Faustino do Nascimento, 82 anos, o Cícero da Mãozinha, apelido dado em função da perda da mão em um acidente, eles puderam retomar com mais força as atividades agrícolas, vendem umbu na beira da estrada e sustentam uma horta, agora bem menos castigada.

Quem também comemora é a população de Alagoa Nova, cujos moradores estavam gastando cerca de R$ 100 por semana para compra de água. Segundo um morador, que trabalha na Cagepa e preferiu não se identificar, nem foi tanto as chuvas que fizeram com que a população tivesse o alívio da volta da água nas torneiras na cidade, mas sim a transposição do Rio São Francisco. “A barragem de Camará segue com problemas, tudo só se resolveu com a vinda de água de Campina Grande, mas se parar volta tudo de novo, se as chuvas não ajudarem”, revela.

Agricultura foi mais afetada

A agropecuária, ponto inicial de toda uma cadeia econômica e produtiva, foi o setor mais afetado pela seca. Culturas foram dizimadas, rebanhos perdidos e famílias que viviam unicamente dos produtos da terra tiveram prejuízos incalculáveis.

Para se ter uma ideia, em um período de 9 anos, de 2008 para 2018, a área colhida na lavoura caiu quase pela metade, passando de 632,8 mil hectares para 332,3 mil hectares. Nenhum tipo de grão teve aumento na produção, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na pecuária, os rebanhos bovinos e caprinos foram reduzidos, enquanto que os suínos e ovinos aumentaram. Já os produtos de origem animal, enquanto os ovos de codorna e galinha tiveram acréscimo na produção, o leite teve queda.

* Érico Fabres, do Jornal Correio da Paraíba

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