Por Globo Esporte Sexta-Feira, 26 de Fevereiro de 2021
Era uma tarde ensolarada quando o então técnico Ricardo Sá Pinto e os jogadores do Vasco pisaram pela primeira vez no gramado do novo centro de treinamento do Vasco. Naquele 23 de outubro, já com o risco de rebaixamento batendo à porta do vestiário, ocorreu o primeiro treino da equipe profissional do cruz-maltino em um espaço específico para tal, próprio, sem pagamento de aluguel ou troca de favores, em 122 anos de história. A data é duplamente emblemática: ao mesmo tempo em que deve ser comemorada, serve para escancarar o atraso do clube frente aos adversários.
O quarto rebaixamento para a Série B é o reflexo mais cruel da degradação do Vasco enquanto instituição, um descaso incansável que ocorre nos últimos 20 anos. É também consequência de uma sucessão de dirigentes incapazes de oferecer ao clube o mínimo de estabilidade política, o que interfere nos resultados internos e também na possibilidade de se reorganizar financeiramente junto ao público externo. Ninguém sabota mais o clube do que os próprios vascaínos.
É nesse aspecto que a desconstrução do cruz-maltino fica mais latente e complexa: foi graças à gradual perda de capacidade econômica que o Vasco deixou de ser um dos clubes mais vitoriosos do Brasil e da América do Sul em 2001 e chegou ao quarto rebaixamento para a Segunda Divisão, e será por causa dessa temporada longe da elite que o clube terá um corte ainda mais drástico nas receitas e, consequentemente, ainda mais dificuldades para se reerguer.
Foi possível prever que o ano seria complicado para o Vasco já em janeiro. Não havia ainda o cenário da pandemia e o mundo seguia normalmente quando a primeira bomba explodiu dentro de São Januário. Os dois principais nomes da diretoria abaixo do presidente, João Marcos Amorim, vice de finanças, e Adriano Mendes, vice de controladoria, deixaram a gestão por discordâncias com Alexandre Campello em relação aos gastos programados pelo clube para a temporada. Era a terceira grande cisão protagonizada pelo médico ortopedista em sua curta carreira como político vascaíno.
Primeiro, rompeu com Julio Brant antes da eleição no Conselho Deliberativo e virou presidente a contragosto de grande parte da torcida. Depois, se afastou da "Identidade Vasco", grupo encabeçado pelo presidente do Conselho Deliberativo Roberto Monteiro, que seria seu grande opositor durante toda a gestão. Por fim, veio o racha com os dirigentes que prometiam recuperar o clube financeiramente.
Campello se isolou ainda mais dentro da Colina, a ponto de apelar para antigos caciques da política vascaína, como José Luiz Moreira e Antônio Peralta, para ter o mínimo de governabilidade no último ano de gestão.
Contratações sem retorno
De 11 jogadores contratados, apenas dois corresponderam, o que explica fragilidade do elenco