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Personalidade de sobra e protagonismo: Diego Alves passa a limpo 21 meses de Flamengo

Por Globo Esporte    Quinta-Feira, 18 de Abril de 2019


Intenso. Adjetivo definido pelo dicionário como aquilo que acontece com muita força ou vigor; que transcende o considerado normal; onde há abundância. E intensidade é uma palavra que resume bem a história de Diego Alves com o Flamengo.

Desde a especulação da negociação até as recentes atuações de destaque - em especial pela Libertadores -, tudo que envolveu o goleiro "transcendeu o que é considerado normal". Na quarta-feira, a parceria completou 21 meses e ninguém melhor que o próprio Diego para passar a limpo um período onde nunca passou despercebido.

A personalidade forte - ou intensa - habitual acompanhou todas as respostas. Inclusive no que diz respeito ao episódio que o tirou da reta final do último Brasileirão:

 

"Aprendi que às vezes o silêncio é o melhor remédio. Se você sabe o que aconteceu, não tem motivo para bater de frente, é simplesmente ficar longe de tudo, escutar".

 

 

Diego Alves abriu o jogo com o GloboEsporte.com — Foto: Cahê Mota/GloboEsporte.com

Diego Alves abriu o jogo com o GloboEsporte.com — Foto: Cahê Mota/GloboEsporte.com

Depois de tanto silêncio, Diego Alves resolveu mudar a estratégia. Coube ao GloboEsporte.com escutar e transcrever tudo que o camisa 1 tinha para falar às vésperas da final do Carioca, domingo, às 16h (de Brasília), contra o Vasco, no Maracanã.

E passa muito pelo goleiro a decisão do título: caso não seja vazado (pode tomar até um gol), o Flamengo erguerá o 35º troféu do Carioca, e Diego Alves encerrará um jejum que já dura 12 anos, desde o título mineiro pelo Atlético-MG em 2007.

 

Antes, ele tem muito a falar:

 

Negociação com aclamação da torcida

- Participei 100%. Fui eu praticamente que entrei em contato com Rodrigo Caetano, quando a torcida em si fez essa força, demonstrou carinho por mim. Eu mesmo procurei e conversamos. Ele não sabia da minha situação. Eu já tinha fechado com um time na Espanha em 90%, passagem marcada, tive que cancelar tudo para negociar com o Flamengo e nunca tive dúvidas. Conversei com minha família, minha esposa e vimos como uma maneira importante de voltar: para o maior time do Brasil e um dos maiores do mundo.

 

Bandeira chamou Diego Alves de goleiro "sonho de consumo" — Foto: Fred Gomes

Bandeira chamou Diego Alves de goleiro "sonho de consumo" — Foto: Fred Gomes

Chegada como salvador da pátria

- Cheguei em um momento de turbulência. Muita gente estava contestando o Alex por diversas situações e depositaram em mim uma confiança como se fosse o salvador da pátria, que vai resolver os problemas. Foi algo que percebi logo de cara. No treinamento, você percebe situações diferentes. Mas sempre com muito respeito. Conheço o Alex desde quando ele ainda não era o Muralha, em Ribeirão Preto.

Houve esse tipo de situação e sempre conversávamos. Houve ainda o problema da não inscrição na Copa do Brasil. Foi um momento ruim, porque o Flamengo estava chegando em uma final e eu não tive a possibilidade de disputar. A posição de goleiro é onde você sempre tem que demonstrar confiança. É uma responsabilidade acima do normal e eu gosto. Foi assim em toda minha vida.

Lesão na Sul-Americana

 

Diego Alves sofreu uma fratura na clavícula contra o Junior Barranquilla, pela partida de ida da semifinal da Sul-Americana 2017 — Foto: CELSO PUPO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Diego Alves sofreu uma fratura na clavícula contra o Junior Barranquilla, pela partida de ida da semifinal da Sul-Americana 2017 — Foto: CELSO PUPO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

- Tive duas lesões sérias na minha carreira. Uma de joelho quando faltavam 15 minutos para acabar a temporada e estava convocado para Copa América. Foi um baque forte. Era uma das minhas melhores temporadas na Europa. E essa lesão na clavícula, quando eu vinha muito bem, estava adaptado, em uma semifinal de Sul-Americana e, lógico, fiquei triste. Foi uma fatalidade.

Mesmo assim, fiquei feliz com o desfecho. No momento em que todos tinham aquela confiança em mim e aconteceu isso, entrou o César e foi bem. Ali, vi que tinha mudado o ambiente, que era favorável. E se pude contribuir para isso fico feliz. Contribuímos para crescer em todos os sentidos e foi uma melhoria que vimos.

Sequência em 2018

- É um ano que fica um pouco chato por não conquistarmos nenhum título, né? Era um grande objetivo. A volta depois da cirurgia, com readaptação ao corpo, sem pré-temporada... Foram muitas coisas que aconteceram e dependem de tempo para voltar 100%. Mas me sentia bem preparado. Houve uma sequência de partidas no início do Brasileirão e por questão de minutos não consegui quebrar um recorde de anos e anos do Cantarele (ficou 618 minutos sem ser vazado contra 630 do ex-goleiro em 1974).

Tivemos um bom arranque de Brasileirão, depois fizemos um jogo muito abaixo no Maracanã contra o Cruzeiro na Libertadores e fomos eliminados. Tivemos uma boa sequência no Brasileiro, mantivemos a regularidade. E veio a semifinal da Copa do Brasil, quando saímos para o Corinthians.

Lesão na coxa e eliminação para o Corinthians

 

Corinthians tirou o Flamengo da Copa do Brasil em 2018 — Foto: Marcos Ribolli

Corinthians tirou o Flamengo da Copa do Brasil em 2018 — Foto: Marcos Ribolli

- A decisão não é tomada por mim em nenhum momento. Quando eu me machuco e me pedem para continuar, é uma decisão que envolve várias pessoas. Não influenciou em nada no jogo, foi uma lesão que eu pude continuar. Se fosse grave, eu não conseguiria andar. Não entendo essa ligação que fazem do gol com a lesão. Houve um consentimento de todos no vestiário e quiseram que eu voltasse.

Acredito que não interferiu em nada. Acho muito oportunista. Se tivéssemos vencido, não seria por causa da lesão. Relacionaram uma coisa a outra. No Brasil, o oportunista aparece nessas horas. Acharam que por estar machucado eu sofri o gol, o que é uma mentira. Muita gente questiona goleiro, mas nunca colocou uma luva para ir ao campo. Se eu estivesse bem, sofreria o gol da mesma maneira. Foi uma bola que me pegou no contrapé.

Problema com Dorival

- Logo após isso (do jogo com o Corinthians) houve aquele outro episódio, que já passou e estamos vivendo um outro momento.

Lições do episódio

- Aprendemos constantemente com os erros. Sou pai e tenho que mostrar para o meu filho o que é certo ou errado. Infelizmente, ainda mais envolvendo toda grandeza do Flamengo e repercussão, às vezes as polêmicas são importantes para alguns veículos de comunicação. Se eu aprendi? Aprendi que às vezes o silêncio é o melhor remédio. Se você sabe o que aconteceu, não tem motivo para bater de frente, é simplesmente ficar longe de tudo, escutar.

Na fase ruim, vemos quem é quem. Na fase boa é fácil vir conversar, abraçar. Hoje, tenho muito mais consciência do que sou importante e para quem sou importante. A imprensa está aí para criticar, elogiar, e é algo fora do meu controle. Acertos e erros vão existir no campo, fora, e nunca ninguém me deu nada de presente. Conquistei e vou ensinar aos meus filhos essa maneira de ser. Se você tem a verdade, pode ir contra o mundo que uma hora vai aparecer.

 

Diego Alves trabalhou separado do grupo após confusão com Dorival — Foto: Reprodução

Diego Alves trabalhou separado do grupo após confusão com Dorival — Foto: Reprodução

Destaque em 2019

- Para falar de um momento melhor ou outro, é preciso comparar com o ano anterior. E isso nunca foi feito. Eu liderava todas as estatísticas em todos os quesitos de goleiro. Fui decisivo em jogos importantes como neste ano. O goleiro vai ser sempre questionado. Infelizmente, muita gente aponta. Eu escuto muito meu treinador de goleiros, vejo futebol para aprender com outros goleiros. Acho um pouco injusta a comparação se puxarmos os números do ano passado. Estamos no começo, as coisas estão dando certo.

 

Números pelo Flamengo

 

 

  • 2017 - 24 jogos / 25 gols sofridos / 1,04 por jogo
  • 2018 - 44 jogos / 32 gols sofridos / 0,72 por jogo
  • 2019 - 15 jogos / 12 gols sofridos / 0,80 por jogo

 

Personalidade forte

- Ter uma personalidade foge das frases de sempre dos jogadores. E sempre fui isso. Se você pegar minhas entrevistas com 18, 19 anos, tenho minha opinião e respeito todas as opiniões. Acredito que tenha injustiça, sim. Às vezes, um jogador de personalidade pode ser considerado marrento, fora dos planos do grupo e é completamente diferente. Tenho uma amizade grande, me relaciono bem com todos os jogadores.

Inclusive, ano passado quando houve a situação da polêmica, de tudo que aconteceu, todos me ajudaram muito. Acho que o jogador tem que dar opinião do que acha que é correto, estando errado ou não. É a opinião dele da mesma maneira que um jornalista com o microfone no ar condicionado vai dar a opinião. A diferença é que o jogador que recebe uma crítica talvez aceite ou não. E quando expõe a opinião a pessoa que está do outro lado critica ou não aceita. Temos o livre arbítrio. Isso é uma democracia.

 

Diego Alves é conhecido por personalidade forte — Foto: Gilvan de Souza

Diego Alves é conhecido por personalidade forte — Foto: Gilvan de Souza

Chance de ser campeão após 12 anos

- Título é sempre importante, mas na Europa é complicado. Se você não joga nos top12 do mundo, é complicado. É difícil competir com esses gigantes. Eu que fiz parte de um time de médio para alto, que é o Valencia, reconhecido na Europa. É difícil brigar por títulos. Quando começa o ano, já temos um parâmetro de quem vai brigar por título, por Champions, Europa League... É diferente daqui do Brasil.

Aqui, temos a possibilidade de brigar por títulos grandes, ainda mais se tratando do Flamengo. Com certeza, essa volta para cá foi pensando em ser campeão e o clube nos dá estrutura para isso. Faremos de tudo para conquistar o maior número de títulos, seja estadual, intercontinental... Faremos de tudo!

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