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Gabigol brilha no ataque do Flamengo com gols, mobilidade e inteligência sem a bola

Por Globo.com    Quarta-Feira, 20 de Março de 2019


10 jogos, 7 gols e 1 assistência. Os números de Gabigol no Flamengo impressionam. Autor dos dois gols na vitória sobre o Madureira, que garante o Fla na semifinal da Taça Rio, Gabigol corresponde em campo o investimento. Honra a camisa 9 que lhe foi dada pelos gols e pela forma como contribui para criar jogadas aos companheiros e para si próprio.

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Referência do 4-2-3-1 do time, ele não é um centroavante clássico, que sabe jogar de costas e se posicionar perto dos zagueiros. Paolo Guerrero é um exemplo de um jogador assim, que unia posicionamento com imposição física. Dourado tinha força física e um forte jogo de pivô, onde prendia a bola para esperar a passagem dos meias.

Gabriel não precisa ter esse tipo de imposição para ser centroavante e corresponder com gols. Pelo contrário. A maioria de seus gols nasce em jogadas de mobilidade, na qual Gabriel se movimenta nos espaços vazios de campo (a chamada infiltração) e mostra timing perfeito para receber o passe dos companheiros e leitura afiada do jogo. A análise de 4 dos 7 gols na temporada mostra quais características o jogador vem desempenhando bem nesse início de Flamengo.

 

Sempre coloca o corpo para pegar a bola de frente

 

O diferencial de Gabigol em seu gol de estreia é como ele posiciona o corpo. Tudo começa num lançamento que Gabriel desperdiça. Depois, o time recupera a bola no ataque, perto da área. Você percebe pela imagem que antes mesmo de Arrascaeta soltar a bola, Gabriel coloca o corpo de frente para o gol e começa a correr. Ele entende que existe um espaço vazio ali, afinal, um lateral e um zagueiro do Americano avançam para roubar a bola de Arrascaeta. Esse movimento de anteceder uma jogada ao companheiro é o que cria condições para que a troca de passes seja agressiva, pra frente, e não morosa e sem objetivo (como o Flamengo do ano passado fazia).

Primeiro gol de Gabriel pelo Flamengo, contra o Americano — Foto: Leonardo Miranda

Primeiro gol de Gabriel pelo Flamengo, contra o Americano — Foto: Leonardo Miranda

Primeiro gol de Gabriel pelo Flamengo, contra o Americano — Foto: Leonardo Miranda

 

Se posiciona em espaços que o adversário deixa na defesa

 

Gabriel ajuda o Flamengo a criar jogadas porque realiza movimentos de se desmarcar e procurar lacunas em campo, como o gol contra a Portuguesa mostra. Ele busca o espaço entre o lateral e a zaga. Lá, não enfrentará a marcação dura dos zagueiros. Como é mais veloz, se coloca o corpo para frente, recebe a bola com vantagem. Esse pequeno movimento faz com que os companheiros acertem o passe, como é o caso de Renê, que dá a assistência aqui.

Gol de Gabriel contra a Portuguesa — Foto: Leonardo Miranda

Gol de Gabriel contra a Portuguesa — Foto: Leonardo Miranda

Gol de Gabriel contra a Portuguesa — Foto: Leonardo Miranda

 

Tem leitura de jogo rápida e se antecipa

 

No gol salvador na estreia da Libertadores, Gabigol faz o mesmo movimento contra a Portuguesa. A diferença é que o adversário aqui está mais desorganizado. Isso é fruto das triangulações que o Flamengo busca. Veja que 4 jogadores se concentram pelo lado direito. Ao invés de buscar a bola, Gabigol se posiciona no mesmo espaço e espera o Flamengo chegar mais perto. É uma jogada que se desenrola toda na base da leitura de jogo e antecipação do time. Algo que vai melhorando conforme a equipe ganha entrosamento.

Gol de Gabriel contra o San José, na altitude — Foto: Leonardo Miranda

Gol de Gabriel contra o San José, na altitude — Foto: Leonardo Miranda

Gol de Gabriel contra o San José, na altitude — Foto: Leonardo Miranda

 

Sempre se desmarca e sai da cola dos zagueiros

 

Há a ideia de que ter a bola é o que basta para jogar bem. É um engano. O contato com a bola é fundamental, mas de nada adianta se não vier casado com movimentos para sair de zonas mais ocupadas. O gol de Gabriel contra a LDUse inicia num deslocamento em diagonal. Veja que o zagueiro dá três passes a mais para encurtar Diego. O outro zagueiro não acompanha. É essa lacuna que Gabriel vê antes de todo mundo e já começa a correr. Ele não fica parado e procura se desmarcar constantemente, um movimento que é feito sem a bola.

Gol de Gabriel contra a LDU, na Libertadores — Foto: Leonardo Miranda

Gol de Gabriel contra a LDU, na Libertadores — Foto: Leonardo Miranda

Gol de Gabriel contra a LDU, na Libertadores — Foto: Leonardo Miranda

O massacre contra o Madureira, com Gabriel perdendo várias chances, é uma amostra de como a equipe fica criativa quando gira em torno dele. Algo que ajuda a entender que a criação de jogadas é um movimento coletivo, e não algo que vem apenas do camisa 10 do time. O passe é, na verdade, uma interação entre dois jogadores. Ele só acontece quando há o movimento e a intenção dos dois para tocar e receber a bola.

Gabriel faz o primeiro gol do Flamengo contra o Madureira — Foto: André Durão

Gabriel faz o primeiro gol do Flamengo contra o Madureira — Foto: André Durão

Gabriel faz o primeiro gol do Flamengo contra o Madureira — Foto: André Durão

Por isso, a movimentação de Gabriel faz o Flamengo ganhar em opções quando joga com a bola no chão, num jogo mais curto e pausado. Ao mesmo tempo, em jogos com defesas mais organizadas e que não deixam tantos espaços, Gabriel pode sentir dificuldade, e o Flamengo pode ganhar mais com um jogador mais físico e retentor de bola. Ter essas opções no elenco e entender qual tipo de jogador rende mais em determinado contexto é o desafio que Abel já abraçou.

Por fim, vale uma reflexão: tudo isso acontece por "raça" ou por contexto? Uma das confusões clássicas no futebol é associar bons e maus desempenhos apenas à qualidade individual (o talento) ou a atributos de ânimo (raça e vontade). Mas e o time? E o adversário? Os detalhes de posicionamento do adversário, a forma como o time joga e os jogadores mais próximos dele muitas vezes influenciam muito no desempenho. Mais que características mentais ou comportamentais. Afinal, não dá pra enxergar ou julgar caráter ou determinação da arquibancada.

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