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Líderes católicos e evangélicos estão de lados opostos quando o assunto é fechamento de templos

Por Vicente Conserva - 40 Graus    Sexta-Feira, 5 de Março de 2021


Um dos seguimentos da sociedade mais atingidos nesta pandemia do coronavírus e centro de polêmicas tem sido o meio religioso. Entre o abre e fecha de templos na Paraíba, as opiniões se dividem entre líderes religiosos que a todo momento usam as redes sociais ou imprensa para expressarem suas posições.

Não só em Patos, mas também na Capital e em outras cidades do Estado, muitas autoridades eclesiásticas têm mostrado suas preocupações, mas também o descompromisso com a vida.

É neste contexto também que temos notado uma diferença entre o posicionamento de cristãos católicos e evangélicos na Paraíba e em Patos.

Enquanto a Igreja Católica que tem um poder mais central, acata os decretos com um ordenamento único, e as determinações das autoridades quanto ao fechamento de igrejas e restrições impostas mesmo com os templos funcionando, em outra frente está boa parte dos evangélicos que não tem poder central pois divididos em dezenas de denominações, sobretudo os líderes de igrejas pentecostais e neopentecostais, mais acochados aos ideais bolsonaristas, insistem que os templos devam continuar funcionando normalmente com suas atividades de cultos e reuniões.

O que mais se deixa transparecer é que católicos e evangélicos (em sua grande maioria), tem preocupações diferentes. Uns mais preocupados com a saúde da população em geral defendem o fechamento e acatam de bom grado as decisões governamentais por meio de decretos.

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Já outros insistem em defender que se estabelecimentos comerciais permanecem abertos, então as igrejas também podem.

O pastor da Igreja Evangélica Congregacional, do bairro de Manaíra, em João Pessoa, Sérgio Ribeiro, defende o retorno das atividades presenciais e disse que projeto aprovado por vereadores da Capital “chegou atrasado, mas com muita pertinência”.

“Nós consideramos um projeto extremamente importante para a população nesse momento de dor, sofrimento onde as famílias enfrentam inúmeras crises diversas. Muitas pessoas, por diversas causas, devido a esse momento, passam por situações dificílimas, seja na condição familiar, seja na sua estrutura emocional, na própria saúde física como também nos seus negócios, no seu trabalho, devido à queda de renda de grande parte da população”, afirmou.

Quem também corrobora deste pensamento é o procurador da Fazenda Nacional e líder de uma das maiores igrejas do estado, a Cidade Viva, pastor Sérgio Queiroz, hoje secretário de Modernização do Estado do Governo Bolsonaro, que não poupou críticas ao decreto do Governo do Estado e da Prefeitura de João Pessoa em relação a determinação de fechar os templos religiosos. “Isso é uma afronta aos Direitos Humanos e mostra que aos poucos estão querendo tolir o nosso direito de liberdade”, desabafou ele.

Para Sergio Queiroz, o atual decreto dá a entender que as Igrejas são as responsáveis pelo aumento dos casos da Covid-19 na Paraíba. “Não concordamos em deixar bares e similares abertos e fechar os templos religiosos. Já conversei com o prefeito Cícero Lucena para que junto ao governador mude essa posição”, afirmou.

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Sérgio Queiroz disse ainda que os templos religiosos podem muito bem funcionar com capacidade de até 20, 30 ou até 50%. “Temos condições de cumprir com todas as normas de segurança e de prevenção que as autoridades de saúde determinam como o uso do álcool em gel, da máscara e mantendo o distanciamento social”, finalizou.

Em outra frente, aparecem padres e bispos da Igreja Católica que têm usado os altares de suas igrejas para apoiarem toda e qualquer medida governamental no sentido de preservação da vida, bem como tem seguido as determinações sem fazerem “biquinhos”.

Antes do decreto de toque de recolher, as dioceses de Patos e Campina haviam dito que permaneceriam com atividades com a lotação de apenas 30% das igrejas, mas voltaram atrás após o decreto.

O arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson, decidiu fechar as igrejas sob sua jurisdição por 15 dias, por causa do avanço da Covid-19 no estado.

O bispo Diocesano de Patos, Dom Eraldo Bispo da Silva, enviou carta direcionada às câmaras dos municípios que compõem a diocese para explicar que não pediu para as atividades da Igreja Católica serem consideradas essenciais durante a pandemia de covid-19. "Não é um pedido da Diocese de Patos neste momento para ser reconhecida como Atividade Essencial".

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Alguns vereadores têm levado às câmaras projetos de lei para tornar atividades religiosas essenciais, garantindo assim que as igrejas permaneçam abertas durante a pandemia de covid-19, ao contrário do que determina o decreto estadual que determinou a proibição de missas e cultos até o próximo dia 10, para evitar a propagação da doença.

A ânsia de fazer agrado a religiões parece não ter tido muito efeito.

No documento, o bispo argumentou que não é hora de lutar em defesa de interesses de grupos, pessoas ou instituições. ''Em outro momento, quando tivermos vencido o flagelo da covid-19, este e outros temas poderão constar nas pautas dos nossos legislativos'', diz trecho da nota.

Em Patos, o projeto é da vereadora Nadir Rodrigues (Republicanos), mas foi arquivado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), baseado no parecer do jurídico da Câmara de Municipal de Patos.

A carta foi publicada dias antes da Câmara Municipal de João Pessoa ter aprovado um projeto de lei que torna essencial as igrejas e celebrações. O projeto ainda irá para sanção do prefeito Cícero Lucena (Progressistas). É provável, aliás, que ele não sancione a matéria.

O projeto, de autoria do vereador Bispo José Luiz (Republicanos), também prevê que seja vedada a determinação de fechamento total das instalações e/ou edificações reservadas para práticas religiosas.

No momento que a Paraíba já tem 4.612 óbitos confirmados pela Covid-19, Patos 140, e o Brasil contando até esta quinta-feira (04) os seus mais 261 mil mortos, com perspectiva de chegar a 3 mil mortos diários em março, o que se espera de todos, principalmente de líderes formadores de opinião é o bom senso e responsabilidade de todos com saúde e com a vida.

A carta de Dom Eraldo é uma aula para muitos religiosos. Ela deveria servir de exemplo e espelho para quem, nesse momento, defende o retorno de celebrações que podem provocar aglomerações de pessoas.

Pastores separados do joio - Decretos não fecham igreja

É importante frisar que, de acordo com o decreto estadual e municipal da Capital, as igrejas não estão fechadas, apenas as atividades presenciais estão suspensas, podendo serem feitas de forma virtual até o dia 10 de março. Até lá seguem esses decretos.

Apesar de existirem aqueles que insistem em desrespeitar regras e até incentivam não só abertura de igrejas, mas também aglomerações nelas, há também aqueles que seguem as regras e não só obedecem a tais decretos, mas mandam a todos fazerem o mesmo.

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Em Patos, um exemplo vivo disto é o pastor John Philip Medcraft. Vindo de uma cultura altamente civilizada (Reino Unido) e regrada a disciplina, o líder religioso presidente da denominação Ação Evangélica no Brasil e pastor principal da igreja em Patos, determinou o fechamento da sua igreja ano passado, antes mesmo de qualquer decreto, suspendo assim todas as atividades presenciais que só recomeçaram após liberação dos diferentes governos, seguindo sempre todos os protocolos.

Após o toque de recolher, a igreja voltou às suas atividades onlines e ainda reserva momentos das celebrações para orientar os fieis quanto aos cuidados necessários para se protegerem do vírus. 

O pastor Estevam Fernandes, presidente da Primeira Igreja Batista de João Pessoa é outro exemplo de maturidade e preocupação com o povo. Pediu bom senso aos fieis diante da pandemia e os crescentes números de casos confirmados e óbitos por Covid-19: “milhares de brasileiros estão morrendo”.

A fala do religioso ocorre após a aprovação do projeto de lei que torna as atividades religiosas como essencial em João Pessoa. “Pensem em tempos difíceis. Fechar templo pense que é difícil. Isso também me afeta, me faz sofrer. Não há consenso sobre isso. Por isso eu faço um apelo, já que não há consenso, que haja bom senso”, afirmou.

Com isso, o presidente da Primeira Igreja Batista da capital paraibana destaca a necessidade de “bom senso em prol da vida, em prol da esperança, pelo bom senso. Bom senso é a capacidade de sair de si e pensar nos outros e não pensar só a partir de si”. Além disso, frisou em seu discurso a comunidade: “Os templos estão fechados, mas a igreja não. Nós somos a Igreja. Somos a Igreja. Ela está aberta mais do que nunca”.

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