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'O passageiro': um descarrilamento confuso e sem sentido

Por Jornal da Paraíba    Sexta-Feira, 9 de Março de 2018


O termo MacGuffin foi cunhado pelo cineasta Alfred Hitchcock em 1930 para descrever um objeto, um desejo ou qualquer coisa que motive um ou mais personagens e desenvolva a narrativa de um filme. O MacGuffin não tem função alguma e não desempenha nenhum papel na trama, servindo apenas como uma desculpa para o desenrolar da história – como a maleta de Pulp fiction – tempo de violência (1994), por exemplo.

É preciso ter isso em mente antes de entrar em uma sessão de O passageiro (The commuter, 2018), que estreia nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (8). O filme conta a história de Michael MacCauley (Liam Neeson), um vendedor de seguros que acabou de perder o emprego. Ao pegar o trem de volta para casa após a demissão, ele é abordado por uma mulher que se identifica apenas como Joanna (Vera Farmiga). Ela dá ao recém-desempregado uma tarefa tão simples quanto inacreditável: ele deve encontrar uma determinada pessoa que não deveria estar no trem e, ao fazer isso, vai ganhar 100 mil dólares. Se ele falhar, toda a sua família será morta.

O longa começa de forma interessante, com uma bem-executada sequência inicial que retrata o cotidiano repetitivo e comum do vendedor. A direção de Jaume Collet-Serra (mais conhecido pelos longas de horror A órfã e A casa de cera) é, aliás, sempre competente e por vezes inspirada: o filme se passa, na sua maior parte, no interior de um trem, o que poderia ser um problema; mas Collet-Serra movimenta sua câmera com uma habilidade e maestria que deixam O passageiro por vezes belo. Particularmente atraente é a sequência em que Michael confronta um dos passageiros com uma guitarra.

o passageiro crítica

Vera Farmiga e Liam Neeson em O passageiro.

O elenco do filme também desempenha bem o seu papel: Liam Neeson é o Liam Neeson de sempre, o herói improvável que faz tudo ao seu alcance para salvar o dia (e sempre consegue). Vera Farmiga, por sua vez, consegue imprimir candura e mistério à sua rasa personagem. Os passageiros do trem que viram alvos da busca de Michael também fazem o seu melhor com a história que têm nas mãos.

Apesar disso, o roteiro simplesmente não tem lógica nem profundidade. Até existe a tentativa de emplacar uma trama complexa para explicar a questionável tarefa imposta à Michael: uma história envolvendo um servidor da prefeitura morto em um aparente suicídio, a testemunha da morte e um agente do FBI (que ninguém sabe de onde veio). Mas todas as justificativas do filme para tornar a bizarra situação ao menos um pouco verossímil são rápidas e confusas. Em determinado momento, o próprio roteiro desiste de tentar se explicar ao classificar todo o esquema por trás da proposta como uma “conspiração secreta”.

É nesse sentido, para retornar ao início do texto, que O passageiro pode ser encarado como um gigantesco MacGuffin. A trama principal não faz sentido e não desperta interesse algum, e tudo vira uma grande desculpa para colocar Liam Neeson num trem descontrolado (ninguém duvidava que o filme iria emular Velocidade máxima em certo ponto). É até possível se divertir no terceiro ato, quando tudo já virou um caos – no trem e na cabeça do espectador – e a tarefa primordial de Michael é salvar todos os passageiros de um descarrilamento iminente. Só resta esperar pela ação e pelas explosões, e elas de fato vêm no final.

Um encerramento divertido não é, entretanto, o suficiente para fazer um bom filme. O passageiropode até ser um passatempo razoável num sábado à noite, daqui a um ano, quando os canais de TV a cabo adquirirem os direitos de transmissão e não houver nada melhor para fazer. Mas para quem pretende se deslocar até o cinema e gastar o salgado preço de um ingresso – olha, tem coisa bem melhor em cartaz.

>> Confira os filmes em cartaz nos cinemas da Paraíba nesta semana

 

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